quinta-feira, novembro 29, 2007
quarta-feira, novembro 28, 2007
LUA ESTRELADA
Borrei a fotografia que o João Fonseca ( http://fotojaf.blogspot.com/2007/11/quando-lua-est-de-olho-na-terra.html) fez da Lua. Desculpa lá companheiro. Mas devias saber que não me podes dar confiança. Estico-me logo...
terça-feira, novembro 27, 2007
QUIZ
Três náufragos chegam a uma ilha despovoada. Só encontram coqueiros e macacos. De imediato apanham cocos. Muitos. Até adormecerem de cansaço. Passado duas horas um deles acordou e dividiu os cocos em três partes. Sobrou um coco que deu aos macacos. Retirou uma parte, escondeu-a e foi dormir. Passadas duas horas acordou o segundo náufrago, dividiu os cocos em três partes, retirou uma parte e deu um coco que sobrou aos macacos. Passadas duas horas, o terceiro acordou e repetiu os gestos anteriores dos colegas. De manhã, quando todos acordaram, acharam que o monte dos cocos estava muito reduzido, mas cada um sabia o que tinha feito e não se quis acusar. Decidiram dividir o monte restante em três partes. Assim fizeram e sobrou um coco que foi dado aos macacos. Cada um ficou, então, com 7 cocos.
Quantos cocos o monte tinha no início da nossa história ?
Etiquetas: Vamos lá a ver quem sabe pregar um botão.
PULANITO
Em Agosto de 2006 encontrei em Mourão o Pulanito, com quem partilhei o jantar e uma garrafa de vinho. Ele, como eu, andava a pedalar em solitário pelo Alentejo. Na manhã seguinte, seguiu para norte e eu para sul. Trocámos gentilezas e informações nos nossos blogs - o dele é o Por Aí, lincado ali ao lado. Para o ano que vem muito provavelmente iremos juntos a Santiago de Compostela. Estava longe de o encontrar neste preparo, armado em galheteiro. E o curioso é que ele tem para aí um metro e oitenta. O que significa que as lambisgóias são duas girafas.
Eh lá, Pulanito. Isso é que é kolidade de vida...
Etiquetas: Mas que rico compadre alentejano eu arranjei
RIO COA
A saída de Pinhel é a descer até à ponte da Ribeira das Cabras. Talvez 2 Km. Depois sobe outro tanto. A seguir são 7 ou 8 quilómetros a descer num serpenteado que nos expõe à luz, ao cheiro e às sombras frias da serra. O horizonte de montanhas sobrepostas deixa-nos de olhos húmidos, tão premente se torna a consciência da nossa insignificância. Lá em baixo encontra-se a ponte sobre o Coa. A partir dali é sempre a subir até Castelo Rodrigo durante uma boa dúzia de quilómetros. O pavimento é mau. O pior que encontrei em toda a viagem. Em Freixo disseram-me que esta estrada tem a alcunha da 'esquecida', ou da 'desgraçada' ou outra coisa parecida. Confiamos na memória, não apontamos e depois não conseguimos reproduzir.
Numa posição de dominância sobre a ponte via-se a ruína. Como se tivesse sido o posto de controle do guarda da ponte. Dela, tem-se a vista do rio que se vê na primeira foto. Se seguirmos sempre em frente, rio abaixo, vamos encontrar as gravuras do Coa que era suposto darem riqueza ao povo mas que só servem para os intelectuais de Lisboa arrotarem ciência.
De imediato pensei em comprar a casa e recuperá-la. É que quem passa por aqueles lados, deseja lá ficar. Ou pelo menos voltar.
Etapa 5, Pinhel-Freixo de Espada à Cinta, 70 Km, 4:38 Horas, 15 Km/h, 4250 Kcal
segunda-feira, novembro 26, 2007
SÁBADOS DE MANHÃ
Aos sábados de manhã deixei de fazer o habitual: 3 ou 4 horas de bicicleta e a visita ao Mercado de Alvalade Norte para o peixe. Com tanto sedentarismo, vou engordar na barriga e emagrecer no cérebro. A flor, do jardim do Campus, é dedicada à Marlene, uma Colega de Leiria, com uma idade tão escandalosa que nem atinge metade da minha. Agora é que estou a perceber que estou mesmo, mas mesmo, velho.
CASUM SENTIT DOMINUS
A pedido do Azurara, algumas notas sobre o conceito de responsabilidade civil extracontratual que se opõe à responsabilidade contratual, esta com relevância exclusiva no âmbito do (in)cumprimento dos contratos:
1. O princípio geral é que quem sofre um prejuízo tem que se aguentar com ele. Excepcionalmente admite-se que o sofredor de um prejuízo possa exigir a quem causou o dano o respectivo ressarcimento. E como essa possibilidade é a excepção, isso dá trabalho, obriga a cumprir certos requisitos e, se não tiver êxito, o lesado fica mesmo "a arder".
2. Tecnicamente, tem que existir
a) um facto gerador
b) que esse facto seja ilícito (tb há com factos lícitos)
c) a culpa do agente (tb pode não haver culpa)
d) um dano (este tem sempre que existir - sem dano o problema da resp. civil não se coloca)
e) e um nexo causal entre o facto e o dano (não basta uma causa qualquer, tem que ser uma que seja adequada a produzir o dano ou efeito.)
3. Existem situações de culpa provada, de culpa presumida e de responsabilidade objectiva. Esta "graduação" existe para facilitar a prova em Tribunal, para que todos os casos tenham uma solução. Na "culpa provada" o lesado tem que provar a culpa do lesante, na "culpa presumida" o lesante tem de provar que a culpa não é sua e na "responsabilidade objectiva" entende-se que os beneficiários de certas actividades sejam sempre responsáveis pelos danos da sua actividade independentemente de terem ou não culpa. Esta última tem o seu campo de aplicação em especial nos acidentes de viação em que o dono do veículo, se nenhuma outra forma de culpa for operada entretanto, acaba por ser o último responsável pelos danos causados pelo seu veículo.
4. No âmbito dos acidentes de viação as questões práticas que se colocam com mais frequência têm a ver com o concurso de culpas - situações em que o acidente não foi devido apenas a uma causa mas à ocorrência simultânea de várias causas. A "coisa" aquece quando se enfrentam os diferentes "graus" de culpa para se aferir qual a culpa predominante ou maioritária pelos danos causados. Ainda mais quando o lesado também tem pelo seu lado uma forma de culpa para juntar ao novelo.
5. Modernamente no âmbito do Direito do Consumidor - via comunidade europeia - entende-se que o produtor (ou o importador para território CE) seja o último responsável pelos danos causados por um produto, desde que esse produto seja classificado como "perigoso". É uma forma de responsabilidade objectiva e de protecção do cidadão.
6. Existem teses de doutoramento sobre a responsabilidade civil extracontratual, pois esta matéria é um mar científico. As notas breves que aqui se deixam em linguagem acessível e adaptada destinam-se a facilitar a leitura do conceito a leigos.
sexta-feira, novembro 23, 2007
quarta-feira, novembro 21, 2007
EXÉGESE
Tenho andado preocupado, mesmo com dificuldade em conciliar o sono, por causa de uma atitude que me imputaram algures pela blogosfera: necessidade de camuflar incapacidades ocultas.
É que se as incapacidades estão ocultas ninguém dá por elas. Por isso, para quê camuflar o que está escondido ? E se estão ocultas como será que a autora as descobriu ? Se calhar inventou-as. Ou alguém lhe contou. Além de que, se são a negação de uma capacidade, como é possível negá-la ao conhecimento do mundo, mediante a ocultação respectiva ? Estaremos perante um caso de dupla negativa ? É que ocultar uma incapacidade é como esconder a falta de dinheiro na carteira. Ora, se o dinheiro falta na carteira, não é possível escondê-lo. Seria necessário, isso sim, esconder o dinheiro se ele existisse. Ou seja, só seria possível ocultar uma capacidade, nunca uma incapacidade.
Ou seja, o termo "camuflar" é incompatível com os termos "incapacidade oculta", o termo "incapacidade" é incompatível com o termo "oculta" , o termo "camuflar" é incompatível com o termo "oculta" e o termo "incapacidade" é incompatível com o termo "camuflar". E vice-versa em cada um dos sentidos, incluindo os atalhos lógicos e as variantes criativas. Ou seja, raramente em tão poucas palavras se consegue evidenciar tanta confusão mental. É obra.
Com gáudio - porque sempre dá para a malta se divertir - já vi disto por muito lado. Nas artes plásticas, na escrita dramática, sobretudo na poesia, tanto no cinema, muito no direito. Escolhem os conceitos pela mera sonoridade ou aparência gráfica, abstraem dos significados que não dominam na totalidade, embriagam-se no vai-vem da pontuação e da arrumação formal e convencem-se que estão a transmitir um insulto profundíssimo, mesmo que a mensagem seja indecifrável para o visado.
Chama-se a isto pretensiosismo cultural. Regra geral protagonizado por asnos de gravata e por vitelas em biquini que por aí andam desesperados a solicitar a atenção que pelo mérito intelectual nunca lograriam.
Etiquetas: Bomitar Monelhos de Cavelos - Parte I
SER ANTI-CHAVEZ
O Chavez, que me causa tanta urticária quanto ao meu amigo Francis, é um mal necessário. A menos que no próximo ano a malta vá de férias com a família num sistema destes. Em qualquer outro método de fazer férias, seja ele qual for, se queima petróleo directa ou indirectamente. Logo, goste-se ou não, o Chavez faz falta.
terça-feira, novembro 20, 2007
SCOLARI AND FRIENDS
Vamos lá a ver se a gente se entende: este não é um blog democrático onde o contraditório formal tenha qualquer consagração legal ou consuetudinária. A publicação de comentários e de opiniões contrárias à linha oficial do blog que têm ocorrido deve-se a um exercício de boa educação por parte do editor que só em casos muito raros os rejeitou. E sempre dando uma satisfação. Mas tal não traduz nem uma obrigação, nem uma sujeição, ainda menos um direito adquirido.
No caso do Scolari a opinião do dono deste blog é no sentido de que o Scolari-treinador é uma besta que só conseguiu contingentes êxitos enquanto funcionou minimamente lubrificado o meio-campo herdado de Mourinho. Tanto, que Deco e companhia até conseguiam jogar apesar do treinador. Ponto final. Quando secou esse manancial, muito por culpa de Scolari que nunca soube fazer a rotação do plantel, tudo o mais foi derrota humilhante com equipas menores, exercícios anti-desportivos de batalha-campal, indignidades de pontapé-para-a-frente, desempates nos penalties e resultados de zero-a-zero em que o adversário marcou zero golos e Portugal zero golaços. Tudo culminado com uma agressão a soco de um jogador adversário.
Enquanto se mantinha a protecção na comunicação social só porque se alimentou a sugestão de que Scolari, mais tarde ou mais cedo, seria benfiquista. E, como se sabe, desde que o adjectivo surja, a comunicação social consegue limpar a mais cagada das almas ao mesmo tempo que conspurca a mais limpa das puras. Sempre com a mesma falta de escrúpulos. E Scolari sempre, mas sempre, na sua postura alarve e descarada de mentir, de provocar, de tratar com arrogância e má criação quem se atrevesse a falhar o aplauso que pretendia unânime.
Assim, quem quiser dar-lhe vivas e lamber-lhe o cú, faça o favor de abrir um blog para o efeito e não encher as minhas caixas de comentários com exercícios de menoridade intelectual. Nem, outrotanto, o patriotismo é mensurável, ainda menos através do futebol. Percebeste, Ricardo ?
HOMENAGEM AO VARAL
O Amigo Eduardo do Varal de Ideias completou um ano de intensa, abundante e meritória blogagem. O mais que um pobre ciclista pode oferecer a um amigo aniversariante é um varal da sua própria roupa, personalizada pelo suor do seu esforço.
No caso, em Penamacor, num Turismo de Habitação da simpática Família Serrano, cujo elemento mais novo já está a fazer o Estágio no meu Escritório em Lisboa. A prova como um varal de roupa de lycra pode potenciar relações para o resto da vida. É por isso que a blogosfera e o ciclismo me têm sido tão agradáveis.
Um abraço para o Varal de Ideias.
Etapa 3, C.Branco (Retaxo) - Penamacor, 67 Km, 3:47 Horas, 18 Km/hora, 4570 Kcal
segunda-feira, novembro 19, 2007
CIRCUS
Já está instalado na zona da Expo o COR, o Circo Oficial do Regime, aquele que vai aparecer nos telejornais como se fosse o único no País. Já há alguns anos que deixei de levar os meus filhos ao Circo. Os preços são escandalosamente caros e os truques e subterfúgios para esfolar a carteira aos pais das criancinhas já se tornaram insuportáveis pela evidência e falta de subtileza. Eles pensam que estão a enganar quem ? Já não há pachorra para aturar vigaristas de falso sotaque castelhano.
domingo, novembro 18, 2007
SCOLARI
Fico sempre a cismar como é possível criar uma táctica de jogo que obrigue jogadores brilhantes como Quaresma, Simão, Miguel Veloso, Nani, Cristiano Ronaldo e outros a desempenhos dignos de uma equipa da terceira divisão europeia. Se eles brilham no domingo anterior na equipa de clube onde são dos melhores do mundo, como é possível desaprender em 7 dias ?
Já ninguém tem dúvidas sobre a falta de qualificação humana, moral e ética da aventesma depois da agressão cobarde e das ainda mais cobardes e cínicas justificações em ziguezague sem aceitar a culpa evidente. A falta de qualidade técnica já eu tinha descoberto há muitos anos. Mas desde que a vitória surgisse o povoléu não dava por isso. Agora está tudo à vista.
Receio que Scolari acerte contas com o passado e perca a qualificação no Estádio do Dragão, agremiação que ele tanto hostilizou mas que, mesmo assim, lhe proporcionou de mão-beijada a matéria-prima imprescindível aos limitados êxitos obtidos no passado recente. Será uma ironia do destino, mas o destino ultimamente tem andado muito irónico.
sexta-feira, novembro 16, 2007
RIO DOURO
Em Barca Dalva perguntei se a estrada para Freixo de Espada à Cinta era muito a subir. Que não, é uma estrada sempre plana, sempre ao lado do rio, só mesmo junto ao Freixo é que tem uma subidita...
Durante 22 Km a estrada contorna os meandros do rio no sentido contrário ao da corrente. Seria plana se o rio não estivesse cada vez mais afundado no horizonte. Aquilo era sempre a subir. E mesmo antes do Freixo existe uma parede com 2 Km. Que tremenda subida. Valeu-me uma bica de água fresca que corria da serra. Foi o dia em que suportei mais calor. E nunca tinha ouvido tanto cantar de cigarras.
Etapa 5, Pinhel-Freixo de Espada à Cinta, 70 Km, 4:38 Horas, 15 Km/h, 4250 Kcalquinta-feira, novembro 15, 2007
MANGUALDE
"Oh Mangualde, oh Mangualde, Terra que me abrigás-te" - É com estas ternas, sentidas e singelas palavras que um poeta local faz o elogio da sua terra. Eu, modestamente, apenas me atrevo a editar esta foto representativa de um estilo arquitectónico enraizado na cultura da nossa gente que muito apraz ao meu patrocinador. De todo o modo é a única que tirei em Mangualde, pois o cartão de 512 megas atingiu a sua plenitude. Por causa do feriado do 15 de Agosto, só em Coimbra comprei outro cartão de 2 Gigas. Mas vamos à minha desdita pelas terras de Azurara:
Com aquela epopeia toda na ida - veja-se o post anterior - cheguei com alguma indisponibilidade física e mental. Muito justo, como dizem os ciclistas profissionais. E apertado pelas horas pois já tinham batido as oito da tarde. Gosto de chegar mais cedo, pois a procura de alojamento pode ser complicada por causa da noite. Mas estava descansado pelo Zé Miguel que tinha apalavrada uma dormida na Residencial S. Julião. Assim, depois de ter sido atacado por mais um cão que me perseguiu na estrada antes da zona industrial - era o quarto cão do dia a tentar abocanhar-me os gémeos - , procurei indicações nas placas das primeiras rotundas. Em vão. Fui à GNR. Um soldado, amavelmente, até veio à rua para me dar indicação mais detalhada. Desconfio que também para ver o aparato da bicicleta e do B.o.B. No topo da rua da Residencial S. Julião fui atacado por 4 cães vadios que ali estavam a dormitar no passeio como um grupo de reformados ao sol. Tive que desmontar para enfrentar a situação. Na Residencial esperei, esperei. Finalmente apareceu o estalajadeiro com as mãos cagadas de óleo. Devia estar a mudar o carter de um motor. Disse-lhe que queria um quarto e ele tudo bem. Salientei que precisava de um local para guardar a bicicleta e ele, então, declarou que já não tinha quartos. Só depois de ouvir falar na bicicleta é que descobriu que não tinha quartos. Ainda invoquei o nome do "Senhor Dr. José Miguel Marques" que lá tinha ido de propósito para saber do arrumo da bicicleta, mas o marmanjo fez-se de novas, mentindo outra vez com os dentes todos "Dr. quê? Não conheço." Respondi-lhe: "Mas olhe que ele conhece-o a si de certeza". Virei costas ao mentiroso e o assunto estava encerrado. Residencial S. Julião só se fôr para indicar à ASAE. No topo da rua fui de novo atacado pelos 4 cães. Foi o bonito. Subiu-me o cérebro à cabeça. Desmontei, retirei a haste da bandeira do B.oB. e, então, foi uma correria atrás do maior dos cães a vergastar o ar. Porra, depois dum dia daqueles alguém tinha que pagar as favas. De regresso à bicicleta, um mais afoito chegou-se a ladrar. Uma pedra da calçada acertou-lhe no meio do lombo. O caim, caim daquele calou os outros. É sempre assim, enquanto não me obrigam a fazer mal não me levam a sério, só depois é que se contêm. Regressei à entrada de Mangualde onde não procurara alojamento quando lá passara só porque a residencial S. Julião estava mais ou menos marcada. Pedi um quarto e o Sr. António naquele tique profissionalão de hotelaria largou "vamos lá a ver se tenho algum, acho que tenho tudo cheio". "Eh pá, não me diga uma coisa dessas, que volto para Viseu e nunca mais ponho os pés nesta terra. Nunca mais. Se lhe contasse o que já passei hoje..." Ele sorriu. Ainda tinha um quarto livre, disse. Desconfio que tinha muitos mais.
Fiquei lá duas noites. Fui bem tratado.O quarto era pequeno mas funcional. A comida era boa, a vinhaça também, aconselhada por ele. A bicicleta ficou num quarto de arrumações. E ainda tive direito a desconto para ficar cliente. E fiquei. Só não me lembro do nome do Hotel. Cruz de Malta ? Cruz do Monte ? Senhora do Monte ? Senhora de Malta? Já não me lembro. Recordo-me, sim, é da outra. A de S. Julião. A do besunta.
O jantar nessa noite correu por conta do Zé Luis. Com o Rui Ferreira. Até porque outros foram de férias de propósito para não comparecer ao jantar. Já aqui falei desse encontro, não vou repetir. Até porque neste contexto de desgraça, não convém incluir um dos pontos mais gratificantes de toda a minha viagem. No dia seguinte, pelas oito da manhã, todos a caminho de Viseu para assistir ao Contra-relógio da Volta. Eu, o Zé Luis e o Amândio. Começou a chover. No cruzamento para Roda voltámos para trás, molhados. Passei o resto do dia deitado a dormitar. Só me levantei para almoçar e para jantar.
No dia seguinte, pela manhã perdi 5 minutos a tentar afinar o velocímetro que não dava sinal de vida. Percebi que estava sem pilhas. Meti-me ao caminho mesmo assim, antes que fosse atropelado. Aquela terra estava definitivamente a embirrar comigo. Só em Carregal do Sal meti pilhas novas e voltei a sentir que não tinha uma força obscura a dificultar os meus passos.
O que eu sofri só para visitar amigos que nunca tinha visto mais gordos. A net é uma coisa muito poderosa...
MINERAL COM BOLHA
Eis mais uma garrafita de água mineral para a Sulista. Desconheço se esta tem bolhinhas. A mim é que me ia rebentando a bolha.
Eu explico: saíra de manhã da Régua. Durante quase 30 quilómetros por Lamego, subi até aquela terra extraordinária chamada Colo do Pito. Dali até Castro Daire ainda levei duas tareias com subidas de categoria especial. Uma delas acabava num local chamado Rio de Mel e a outra num Vilar do Monte qualquer. Sempre em paralelo com a SCUT de onde me acenavam a 120 à hora. Em Castro de Aire tomei a direcção de Arouca e tive que voltar atrás durante mais de 3 quilómetros por uma serra tramada. Aliás, Castro Daire foi uma das terras mais esquisitas por onde passei. Desconfio que não exista um palmo de terreno na horizontal. Eventualmente os naturais fazem as crianças de pé para não rebolarem pela serra abaixo. Até Viseu ainda levei mais duas tareias a subir, uma com início num viaduto da SCUT, a última começada na praia fluvial do rio não-sei-quantos, que a disponibilidade mental já começava a escassear. Em Viseu, cansado de contornar as trezentas e vinte e quatro rotundas obedecendo à indicação "Centro" , atingi um local onde já não havia placas, o que me levou a concluir que ou o orçamento camarário para toponímias tinha acabado, ou tinha atingido o Centro de Viseu apesar de estar num descampado. Os transeuntes tinham um ar emborrachado. Desconfiei que os abstémios andassem todos de automovel, pois não encontrei um único a pé. Mas os borrachos deviam ser de fora pois havia festa na cidade e em Viseu não existem borrachões. Como se sabe. Ou então eram técnicos do ambiente disfarçados de bêbados para não serem corridos à pedrada.
Não encontrei uma única placa a indicar a direcção de Mangualde. Assumi que os viseenses não gostam de mangualdenses. Fazem tudo para que ninguém descubra o caminho para Mangualde. À sucessiva pergunta "Mangualde" não respondiam até que um me mandou para a estrada de Nelas-Seia. Ao fim de uns quilómetros desconfiei pela orientação da sombra e abordei um caixeiro-viajante que atendia o telemóvel debaixo do viaduto num acesso à SCUT. Simulando reflexão, passou com a língua molhada pelos lábios naquele jeito de prazer alarve que alguns têm em dar uma má notícia "Pois é, o amigo foi enganado. Ou volta para trás, ou segue para Nelas e depois vira a norte". E fez um triângulo no ar explicando que eu, em vez de tomar um cateto, estava a percorrer a hipotenusa faltando ainda o outro cateto. Perante o chorrilho de impropérios sobre a mãe do gajo que me tinha mandado para ali, alvitrou um caminho secundário à esquerda nuns semáforos que iria encontrar dali a 2 quilómetros. Assim fiz, e acabei nas profundezas profundíssimas de Alcafache. Foi por isto tudo e muito mais que os ultimos 10 ou 15 quilómetros entre Alcafache e Mangualde foram utilizados para dizer mal da vida em geral e, de forma muito especial, de todos os mangualdenses de que me lembrei. Quem é que merecia um esforço daqueles só para ser visitado ? Hein ?
Por isso, amiga Sulista, desconheço se a água de Alcafache é gasosa. Eu é que passei por ali com o gás todo acumulado. É que para cerca de 120 Km naquele dia gastei tantas Kcal como para fazer quase 200 Km no último dia da viagem. E estive a dar ao pedal mais de oito horas e meia. Olha se a Brigada de Transito me tem pedido o tacógrafo...
Etapa 10, Régua - Mangualde, 119 Km, 8:33 horas, 14,02 Km/h, 9856 Kcal
SANTA MARTA DE PENAGUIÃO
O logotipo da Adega Cooperativa e o monumento ao trabalhador da vinha. Cá para mim, design dos anos 70 e naifismo realista. Continuo sem saber o que é arte de boa e de má qualidade. Adivinho que o atelier de design que vendeu o projecto celebrou com champagne, e que a inauguração da estátua em frente à Câmara Municipal mereceu umas valentes bebedeiras com o tremendo tinto da terra.
Etapa 9, Chaves-Régua, 89 Km, 5:18 Horas,17,03 Km/hora, 5978 Kcal
quarta-feira, novembro 14, 2007
PETRUS HOTEL
Partida de Chaves pelas oito da manhã. Para trás ficou a noite mais bem dormida, as refeições mais bem tomadas, em especial um jantar de posta mirandesa com 300 gramas de esparguete que a Chefe teve a gentileza de me preparar. Foi, de longe, a melhor posta que comi lá por cima. O Hotel tinha aberto havia 15 dias. Ainda se notava o nervosismo do pessoal. Tudo cheirava a novo. Até a rapaziada nova e bonita. Elas e eles. O Arquitecto Pedro T., o Pedro para todos, metia conversa com os hóspedes, com todos os hóspedes. Com um sorriso prazenteiro de quem gosta de ouvir. O mais atractivo da hotelaria, confidenciou-me, era o convívio com os hóspedes, de onde vinham, o que faziam, para onde iam.
Quando voltar a Chaves, já não vou passar sem três coisas, por esta ordem: uma hora de conversa com o Pedro, uma pernoita no seu Hotel e uma posta igual à outra.
Até breve, Pedro.
Etapa 9, Chaves-Régua, 89 Km, 5:18 Horas,17,03 Km/hora, 5978 Kcal.