quinta-feira, novembro 15, 2007

MINERAL COM BOLHA


Eis mais uma garrafita de água mineral para a Sulista. Desconheço se esta tem bolhinhas. A mim é que me ia rebentando a bolha.
Eu explico: saíra de manhã da Régua. Durante quase 30 quilómetros por Lamego, subi até aquela terra extraordinária chamada Colo do Pito. Dali até Castro Daire ainda levei duas tareias com subidas de categoria especial. Uma delas acabava num local chamado Rio de Mel e a outra num Vilar do Monte qualquer. Sempre em paralelo com a SCUT de onde me acenavam a 120 à hora. Em Castro de Aire tomei a direcção de Arouca e tive que voltar atrás durante mais de 3 quilómetros por uma serra tramada. Aliás, Castro Daire foi uma das terras mais esquisitas por onde passei. Desconfio que não exista um palmo de terreno na horizontal. Eventualmente os naturais fazem as crianças de pé para não rebolarem pela serra abaixo. Até Viseu ainda levei mais duas tareias a subir, uma com início num viaduto da SCUT, a última começada na praia fluvial do rio não-sei-quantos, que a disponibilidade mental já começava a escassear. Em Viseu, cansado de contornar as trezentas e vinte e quatro rotundas obedecendo à indicação "Centro" , atingi um local onde já não havia placas, o que me levou a concluir que ou o orçamento camarário para toponímias tinha acabado, ou tinha atingido o Centro de Viseu apesar de estar num descampado. Os transeuntes tinham um ar emborrachado. Desconfiei que os abstémios andassem todos de automovel, pois não encontrei um único a pé. Mas os borrachos deviam ser de fora pois havia festa na cidade e em Viseu não existem borrachões. Como se sabe. Ou então eram técnicos do ambiente disfarçados de bêbados para não serem corridos à pedrada.
Não encontrei uma única placa a indicar a direcção de Mangualde. Assumi que os viseenses não gostam de mangualdenses. Fazem tudo para que ninguém descubra o caminho para Mangualde. À sucessiva pergunta "Mangualde" não respondiam até que um me mandou para a estrada de Nelas-Seia. Ao fim de uns quilómetros desconfiei pela orientação da sombra e abordei um caixeiro-viajante que atendia o telemóvel debaixo do viaduto num acesso à SCUT. Simulando reflexão, passou com a língua molhada pelos lábios naquele jeito de prazer alarve que alguns têm em dar uma má notícia "Pois é, o amigo foi enganado. Ou volta para trás, ou segue para Nelas e depois vira a norte". E fez um triângulo no ar explicando que eu, em vez de tomar um cateto, estava a percorrer a hipotenusa faltando ainda o outro cateto. Perante o chorrilho de impropérios sobre a mãe do gajo que me tinha mandado para ali, alvitrou um caminho secundário à esquerda nuns semáforos que iria encontrar dali a 2 quilómetros. Assim fiz, e acabei nas profundezas profundíssimas de Alcafache. Foi por isto tudo e muito mais que os ultimos 10 ou 15 quilómetros entre Alcafache e Mangualde foram utilizados para dizer mal da vida em geral e, de forma muito especial, de todos os mangualdenses de que me lembrei. Quem é que merecia um esforço daqueles só para ser visitado ? Hein ?
Por isso, amiga Sulista, desconheço se a água de Alcafache é gasosa. Eu é que passei por ali com o gás todo acumulado. É que para cerca de 120 Km naquele dia gastei tantas Kcal como para fazer quase 200 Km no último dia da viagem. E estive a dar ao pedal mais de oito horas e meia. Olha se a Brigada de Transito me tem pedido o tacógrafo...
Etapa 10, Régua - Mangualde, 119 Km, 8:33 horas, 14,02 Km/h, 9856 Kcal

5 Comments:

Blogger Ricardo said...

Alcafache!!! Se a minha mãe vier aqui ver este post fica toda contente, a terra dos pais dela fica mesmo por cima, há(ou havia) um atalho pelo pinhal que cheguei a fazer bastantes vezes! A subida que fizes-te depois de Alcafache deve ter doído, lembro-me bem porque a fiz a pé algumas vezes, espero que a estrada seja melhor agora. Pelo menos a paisagem é bonita, ou se calhar tá tudo queimado, espero que não, que saudades tenho dos tempos em que ali passava uma semanita de férias!

14:32  
Blogger carneiro said...

Logo vi que para ter sofrido tanto, a tua mãe tinha alguma coisa a ver com Alcafache.... Eu depois falo com ela.

Já agora, se conheces, poderias ter esclarecido se a água das termas tem ou não gás...

14:59  
Blogger José Miguel Marques said...

em primeiro, devo dizer que me ri feito louco a imaginar um carneiro de bicicleta a subir aquilo tudo, é pá é do melhor para a boa disposição.
depois a água não tem gás, mas é muito boa nas termas de Alcafache para muitas maleitas.
a estrada tem piso novo, colocado recentemente (+-), mas mesmo assim deve ter doído.
um abraço
e ah, e da próxima vez perguntas aos "borrachões" que esses nunca se enganam, eheheheheheheheh

15:43  
Anonymous Anónimo said...

...até me doeu a mim ler a tua viagem...impressionante...maldito gaijo que te indicou o caminho mal!!!

descampado...Tu devias estar na zona de feira de Viseu e...era ali tão perto a placa para Mangualde...na ultima rotunda depois da do McDonalds, à Dtºa...fizeram-te dar uma volta surrealista...

Obrigada de novo pela nova água mas olha que nãop tenho costume beber água com bolhinhas...só do Luso ;-)
Eu gostei mesmo foi de tomar conhecimento daquela casinha do vapor...da ádua com bolhinhas...fantástico aproveitamento e a arquitectura...coisa museológica! .-)


A Sulista

15:53  
Anonymous Anónimo said...

...até me doeu a mim ler a tua viagem...impressionante...maldito gaijo que te indicou o caminho mal!!!

descampado...Tu devias estar na zona de feira de Viseu e...era ali tão perto a placa para Mangualde...na ultima rotunda depois da do McDonalds, à Dtºa...fizeram-te dar uma volta surrealista...

Obrigada de novo pela nova água mas olha que nãop tenho costume beber água com bolhinhas...só do Luso ;-)
Eu gostei mesmo foi de tomar conhecimento daquela casinha do vapor...da ádua com bolhinhas...fantástico aproveitamento e a arquitectura...coisa museológica! .-)


A Sulista

15:54  

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