quinta-feira, janeiro 31, 2008
Já tinha passado por Milhão, onde furara na roda da frente e bebera água duma bica que escorria para a valeta. Ainda faltava uma dúzia de quilómetros em descida vertiginosa até Gimonde - o Carlos Augusto é que gostaria de a fazer a subir - e mais meia dúzia a subir até ao destino do dia. Numa curva, pelo meio das árvores, já se avistava Bragança.
Etapa 7, Vimioso-Bragança, 56 Km, 3:33 Horas, 15,86 Km/h, 4027 Kcal.
RODA LIVRE
"Roda livre" é o eufemismo para corrida de amadores. No próximo domingo na Póvoa os últimos 7 km serão em "roda livre". Por isso levo daqui o diabo para dar sorte ao Bernardo. Eu não me vou meter nisso. Competir nesta altura do ano estragava-me a preparação para a minha viagem de Agosto. E um atleta do meu nível não deve prejudicar o seu treino científicamente programado e desenvolvido devido ao gosto efémero de ganhar uma prova de amadores.
Por falar em treino científico, vou descer à Tasca do Pereira que vão sendo horas do almocito e o rancho hoje é mãozinha de vaca com grão.
POVOA DE VARZIM
(Não sei onde vou arranjar um amigo(a) para traser. Ademais, seria atroz encontrar um amigo daqueles, dos atrás. Melhor, só uma amiga que fosse actriz, que da fama de galdérias não se livram. Restar-me-á - truz, truz ! - bater à porta para que alguém me tire daqui. E como é que vou dizer ao gajo que escreveu aquilo que deveria ter utilizado um zê ? "Pronto lá vem o gajo armado em ingenheiro da internacional. Em cima da bicicleta interessa lá isso ...")
A MANIA DAS GRANDEZAS
Foto daqui. Cheguei lá através da Elise.
"Ariza Makukula assinou um contrato até 2012 e custou 3,5 milhões de euros à SAD, que fixou uma cláusula de rescisão de 40 milhões de euros." - Jornal de Notícias
Para já, o Marítimo ficou com a próxima época garantida. E assim provido de meios está em condições de lutar pelos lugares da UEFA mano-a-mano com quem o subsidiou tão generosamente. É de amigo.
Mas os 40 milhões de cláusula de rescisão, então, demonstram toda a argúcia e genialidade negociais. Digno de um verdadeiro tycoon dos negócios da bola. Muito bem pensado. Se fossem só 35 milhões corriam o risco de ficar sem o jogador no final da época. Como facilmente se percebe é mesmo um risco real aparecer alguém que pague 35 milhões. Ainda por cima podem dizer que têm a "maior cláusula de rescisão do mundo em Portugal". E na volta ainda metem o contrato na contabilidade com aquele valor actualizando os activos.
Desta vez confessamo-nos varados de inveja. Quase que esquecíamos aquele outro momento de excelência de gestão clubísta em que se traduziu a contratação de Moreto...
quarta-feira, janeiro 30, 2008
FREQUÊNCIA CARDÍACA
O coração é um músculo muito fácil de trabalhar. Em duas semanas de exercício diário, passei de uma média de frequência cardíaca superior a 140 por minuto, para uma olímpica média de 118 ppm. 80 horas de exercício foram suficientes. Não há outro músculo que reaja tão bem ao treino.
Entre Entroncamento e Golegã, em plano, sem vento, já com 4 horas de estrada, rolava entre 30 e 32 Km/hora com a batida abaixo das 100ppm. Não esquecer que vinha com o reboque rondando os 25 Kilos de peso bruto.
Em definitivo, o ciclismo faz muito bem ao coração. Ter um coração bom e um bom coração acaba por tornar a vida mais agradável. O Personal Trainer do Ginásio, moço ainda jovem e habituado a estas coisas das performances, durante a minha última avaliação periódica, confidenciava-me que ia comprar uma bicicleta para ter um coração como o meu quando atingisse a minha idade. Vindo de onde vinha, era um grande elogio.
Não digo estas coisas para me evidenciar. Até porque nem tudo são rosas, como a balança insiste em me explicar. Apenas pretendo que os meus amigos percebam que é tão fácil cuidar da saúde cardíaca.
Etapa 12, Ansião-Lisboa, 192 Km, 8:44 Horas, 22.08 Km/h, 9503 Kcal
terça-feira, janeiro 29, 2008
ATALAIA
Ultimo dia da viagem. Tomar ficara para trás e preparava-me para mergulhar na lezíria a caminho do Entroncamento e Golegã. O arvoredo secular à beira da estrada cheirava a sangue-azul e a ferro-na-anca. Gostava de ter um quintarola com aquele aspecto.
Etapa 12, Ansião-Lisboa, 192 Km, 8:44 Horas, 22.08 Km/h, 9503 Kcal
PESO DA RÉGUA
Quando era miúdo ouvia a toponímia da boca de meu Pai, transmontano bem conhecedor daqueles longínquos locais. Ainda por cima debitava as estações e apeadeiros da linha do Douro, bem como os afluentes do dito, só para me estimular na aprendizagem dessas matérias necessárias à ultrapassagem da barreira mítica do Exame da 4ª Classe. Passei com distinção, pelo que o exercício mnemónico não me terá traumatizado. Mas ficava sempre a pensar que Peso da Régua era uma contradição nos termos. Afinal o que valia mais ? Os kilos ou os metros ?
Etapa 9, Chaves-Régua, 89 Km, 5:18 Horas,17,03 Km/hora, 5978 Kcal.
Etapa 9, Chaves-Régua, 89 Km, 5:18 Horas,17,03 Km/hora, 5978 Kcal.
segunda-feira, janeiro 28, 2008
TERREIRO DO PAÇO
O trânsito automóvel está cortado na zona do Terreiro do Paço todos os domingos das 10:00 às 17:00 Horas. Comporta uma significativa mobilização de efectivos da Polícia Municipal. Uma das intenções de António Costa é favorecer o uso da bicicleta naquela zona.
Vindo da Azambuja, onde fui tomar café com um grupo de Velhotes de Alverca - 70, 74 e 78 anos - que se metem na minha roda a 28/30 à hora -, passei pela Baixa pouco passava do meio-dia. Nem uma única bicicleta circulava no Terreiro do Paço.
A sua iniciativa não tem clientela, Senhor Presidente. Se quer fazer alguma coisa pelas bicicletas ao Domingo experimente as seguintes hipóteses:
1. Fechar ao trânsito automóvel a Avenida de Roma entre a Praça de Londres e a Praça de Santo António. Comércio aberto para os saldos, pastelarias e restaurantes a vender. Tem Metro, tem laterais para acesso e estacionamento. Que pista maravilhosa para pais, mães, criançada e avós pedalarem em alcatrão de boa qualidade, em piso quase plano, durante o tempo que quisessem.
2. Fechar ao trânsito automóvel a parte central da Avenida da Republica, pelos tuneis, entre o topo norte do Campo Grande e o Saldanha. Com fácil acesso de Metro e com muitas laterais para acesso e estacionamento. Pista mais exigente com as subidas e as descidas dos túneis. Adivinha-se que passaria a ser o local de muito cicloturista da licra e dos quadros em fibra de carbono. Até porque no verão passado se correu lá um Circuito Profissional e o trânsito automóvel circulava pelas laterais da Avenida da República sem inconvenientes de maior.
3. Fechar ao trânsito automóvel a grelha de estradas em Monsanto que a gerência de João Soares chegou a fechar, garantindo a segurança policial nos cruzamentos. Com os cruzamentos fechados, muito mais gente escolheria Monsanto para ciclar.
Agora, o Terreiro do Paço ? Só passam por lá os ciclistas que já passavam e, esses, não fazem ciclismo em cima dos passeios. Para levar crianças e bicicletas de carro não dá jeito, até pela falta de estacionamento. Só se for para os activistas do costume. Aqueles gajos que sabem tudo sobre bicicletas porque já foram à Holanda. Aquele terreiro permitiria dar umas voltas valentes, talvez até em ritmo frenético, completar no total, quem sabe, para aí uns dois ou dois vírgula sete Km em total segurança. Mas ao meio-dia é muito cedo. Só se antecipasse o horário 12 horas...
LEÃO CARVALHO
Leão Carvalho a correr pelo Benfica conseguiu o título nacional de Estrada 2008 em Viana do Castelo. De forma surpreendente mas totalmente merecida.
À chegada, falou assim para a RTP (estou a reproduzir de memória). "Foi difícil, os adversários eram muito fortes, andei ali com os atletas da Conforlimpa, o Henriques, o Chaíça, o Feiteira, o Jesus. Ganhei como poderia ter ficado em 5º lugar".
Olha, Leão Carvalho, parabéns por seres tão bom atleta, ainda por cima modesto. Por isso, garanto-te, não vais ficar nesse clube muito tempo. Categoria e modéstia não se usa. Para fazeres carreira e poderes chegar até a Director Desportivo, por exemplo, deverias ter dito assim à RTP: "Ganhei por sou o melhor do mundo ao contrário daqueles gajos que andaram ali a estorvar-me e só não fiquei ainda mais à frente porque o árbitro está comprado."
COMPROMISSO
Pronto, está bem. O Sportem ganhou, parte significativa dos meus amigos está muito mais animada, o povo lisboeta sorria no Metro pela manhã, a Primavera está aí a chegar. Comprometi-me com um especial Amigo - que estava em plena depressão futebolística e totalmente descrente na clorofila em geral - que usaria umas meias do Sporting em caso de vitória, só para o animar, só para o fazer sorrir perante o inusitado.
Pois bem, tramei-me. Perdi. Vou ter que andar um dia de bicicleta durante algumas horas com umas meias daquelas. Ainda por cima os meus sportinguistas caseiros aproveitaram para uma cena de ciúmes e "se compras para o mano tens que comprar umas pequenas para mim".
(Nota: pronto, eu uso. Tá dito, tá dito. Mas são pirositas... Aliás, em rigor, estavam em causa soquetes, não meias até ao joelho...)
sexta-feira, janeiro 25, 2008
PENAMACOR
Ao longe a Serra da Gardunha, a Cova da Beira e a terra do engenheiro vistas do alto de Penamacor.
Explicou-me a Margarida, que é daquela região, que a orografia local equivale ao corpo de uma mulher. Assim, de cima para baixo, temos a Serra da Estrela, a Cova da Beira e o Vale dos Prazeres.
Etapa 3, Castelo Branco - Penamacor, 67 Km, 3:47 Horas, 18 Km/hora, 4570 Kcal
O SISTEMA E TAL...
NOTÍCIA DE A BOLA
"Makukula está a um passo de assinar pelo Benfica e pode mesmo ser reforço para o que o resta desta temporada, ficando desde logo vinculado com os encarnados nas próximas temporadas."
"Não foi este gajo que falhou um penalti contra o Benfica ?"
"Sim, estou sim, Ah, está bem. Já percebi. Está inocente. Pois, concordo. É normal que se falhe. Pois então. Só não falha quem não tenta. Tem razão. Sim, sim, aquela coisa do sistema e das vigarices e dos apitos não se aplicam ao caso. Claro. Tem razão. Tem toda a razão. Vigaristas são os outros, os tais. Claro, plenamente de acordo".
quinta-feira, janeiro 24, 2008
VELHO SAUDÁVEL
O uso que faço da minha bicicleta melhora os meus índices físicos. Repercute-se directamente na qualidade da minha saúde e contribui decisivamente para que a minha velhice possa ser passada fora do périplo habitual dos hospitais e demais serviços de saúde. Em bom rigor, estou a contribuir activamente para não sobrecarregar o déficit orçamental da saúde. Pelo menos estatísticamente.
Através daqui cheguei à seguinte notícia: os Ingleses calculam que cada automobilista que se converta ao ciclismo poupa ao estado £ 400 por ano em recursos de saúde pública.
Por outro lado, os ingleses vão investir nos próximos 3 anos 140 milhões de libras para promover a utilização da bicicleta. Em especial meio milhão de miúdos em idade escolar irão aprender a andar de bicicleta, serão instaladas 270 redes de ciclovias que permitam aos miúdos ir de bicicleta para a escola e em 10 cidades será instalado um sistema de circulação preferencial por bicicleta. Os objectivos imediatos prendem-se com o controle da emissão de CO2 e com o combate à obesidade infantil.
Por cá os nossos autarcas andam entretidos com os negócios imobiliários. Ainda não perceberam que a sua principal função é tornar a cidade agradável e saudável a quem nela vive e trabalha.
Mas, atenção, percorrer meia dúzia de quilómetros por dia poderá ajudar o ambiente pelo carro que não se utiliza. Mas em termos de saúde pessoal não chega. Essa quilometragem, quanto muito, serve para abrir o apetite e estimular a acumulação de gorduras. Para fazer efeito na saúde a bicicleta deve ser levada mais a sério. Quem faça 1200Km num ano aparenta usar muito a bicicleta, mas fazendo as contas não chega a percorrer 3,5 Km por dia...
A parte da notícia respeitante a Inglaterra foi tirada daqui .
quarta-feira, janeiro 23, 2008
terça-feira, janeiro 22, 2008
ODECEIXE
A Ribeira de Odeceixe separa os Distritos de Faro e de Beja pela Costa Vicentina. Nesse dia de Agosto de 2006 liguei Maria Vinagre, uma dúzia de quilómetros a norte de Aljezur, a Lisboa. Esses 211 Km ainda são o meu record pessoal para um só dia com o reboque. Foi um trajecto muito diversificado que envolveu as travessias em ferryboat de Tróia e de Cacilhas. Quando subi a Avenida da Liberdade pela lateral e a Fontes Pereira de Melo já tinha duzentos quilómetros nas pernas e dez horas sentado no selim. E fiz questão de não incomodar qualquer automobilista.
FRONTEIRA
A Ribeira do Vascão é um afluente do baixo Guadiana. Ali pelo paralelo de Alcoutim. A Ponte separa os Distritos de Beja e de Faro e está num vale que obriga a uma descida e a uma subida de 3 quilómetros em qualquer dos sentidos. A estrada liga Mértola a Vila Real da Santo António. Passei por lá em Agosto de 2006 em autonomia e em solitário. Não, não é a Holanda, o paraíso dos ciclistas. É mesmo o purgatório português. A nossa realidade. Aquilo que temos.
CONTRADITÓRIO
Imagem daqui.
Talvez por deformação profissional, uma opinião contrária à minha, vale ouro.
Da Anabananasplit recebi o comentário que a seguir transcrevo na íntegra:
"(Carneiro), penso que poderá estar a tirar ilações erradas do que aconteceu (ou, neste caso, do que não aconteceu).«Entretanto, e tentando aproveitar a embalagem da outra manifestação, surgiu o paisano da iniciativa de ontem.»Este tal Paulo Passos Leite encostou-se ao passeio de 6 de Dezembro alguns dias antes, visto que o anunciou num fórum 3 dias antes, dizendo que só nessa altura tinha sabido do evento. Mas apareceu citado numa série de artigos de media sobre o tal passeio, pelo que, presumo, não será um gajo qualquer com uma "hidden agenda" de algum tipo mais obscuro.«É que andam por aí uns ciclistas, organizados como "uma coincidência não organizada nem hierarquizada", que não percebem que esta coisa das bicicletas, além de envolver diversas sensibilidades, diferentes formas de uso das bicicletas, é um assunto sério. E acham que só a forma deles "é que é". E depois metem-se onde não são chamados, metem-se a fazer o que não sabem e, depois, as merdas acontecem.»Aqui acho que se está a precipitar e a acusar injustamente os participantes mais ou menos activistas (que variam muito) da Massa Crítica... Penso que este tal Paulo não tem nada a ver com a MC. Pelo que consegui pesquisar, ele pratica triatlo, dirigiu o CityChase em Portugal e trabalha numa empresa de eventos desportivos, pelo menos é o que indicam os contactos que ele indicou nos textos de divulgação e às autoridades...«cuidado com manifestações "ciclísticas" convocadas por entidades anónimas, ou "cidadãos individuais" que não dão a cara, porque o movimento ciclístico é uma coisa séria e só fica prejudicado se a sociedade nos começar a ver envolvidos com okupas, xapitôs, ecotópicos e outros alternativos.»Quanto à questão do anonimato, já comentei acima. Pode-se, no entanto, aprender com este episódio e só passar a reencaminhar e divulgar coisas cuja autenticidade possamos aferir minimamente. ;-) Concordo que este flop deu má imagem aos ciclistas, sim, mas principalmente ao organizador... Acho a associação que fez com "okupas, xapitôs, ecotópicos e outros alternativos" descabida para o caso.Quanto ao movimento ciclístico, há dois: o do ciclismo pelo ciclismo, do desporto (BTT, cicloturismo, etc) em que a bicicleta é um fim em si mesma, e o da mobilidade, em que a bicicleta é um meio para atingir um fim. São ambos necessários e benéficos para todos, e um não invalida o outro. ;-)Foi bom conhecê-lo ao vivo e a cores, depois de tantas visitas ao seu blog. É bom dar uma 3ª dimensão às interacções virtuais ao fim de algum tempo. :-) "
À laia de complemento esclareço:
1. Fazer generalizações comporta sempre o perigo de atingir pessoas que, fora do respectivo grupo, não merecem. Este, o pecado original do meu texto. Mea culpa. Porque as pessoas com quem tenho lidado pessoal e directamente merecem tudo, menos uma desanda daquelas. Mas...
2. Sob o pretexto da manifestação falhada, falei de muitas outras realidades:
a) do dia europeu sem carros que serve para lançar na rua uniciclistas, cuspidores de fogo e malabaristas de todos os chapitôs que por aí existem. Ao mesmo tempo que se agridem os automobilistas, impedindo de trabalhar quem precisa mesmo do carro para trabalhar nesse dia. E o que é que o uso da bicicleta tem a ver com cuspidores de fogo e de homens-estátuas que normalmente são associados a campanhas eleitorais de certos grupos? É que o cidadão comum que vê o telejornal em casa e que não abdica do seu carrinho como símbolo do seu sucesso social, acaba por ver associado ao uso da bicicleta um conjunto alternativo de estilos de vida que, sendo legítimos, estão longe de ser meramente significativos no contexto social ou, sequer, exemplificativos de um normal estilo de vida que inclua a bicicleta como instrumento de lazer, de desporto e de transporte.
b) das iniciativas estapafúrdias como a da "bicicleta em gravata para Executivos". Quem importa estas ideias da europa do norte - que farão todo o sentido em países que fazem todo o verão com temperaturas pelos 20 º - não percebe que em Portugal, em Lisboa, isso é impossível. Pelo temperatura, pela orografia. Como qualquer pessoa que está habituada a usar gravata em Lisboa bem sabe, a gestão da transpiração, mesmo sem andar de bicicleta, é um problema profissional agudo. Só fala em usar gravata numa bicicleta, quem não tem a mínima noção do que está a dizer. Teria piada perguntar aos promotores dessa ideia peregrina quantos deles sabem fazer o nó da gravata, ou quantos usam a gravata profissionalmente. Aliás, há uns meses tive a mesma discussão com uma fanática defensora da ideia em Monsanto. Que gritou comigo e me deu lições de moral ciclística. Mas eu subi até lá de bicicleta, ela, desconfio, terá ido de carro...
c) de inciativas provocatórias como a voltinha do Marquês que não sensibiliza ninguém, antes só serve para atrapalhar o transito e provocar os automobilistas que são o nosso "mercado alvo" em termos de conversão de meios de transporte. Para se convencer alguém a uma nova prática, só poderemos exemplificar pela normalidade, pela elevação do exemplo. Querer convencer o cidadão médio que vota no PS ou no PSD - e estes são mais de dois terços da sociedade - a mudar de transporte, atrasando-o no jantar de sexta-feira e obrigando-o a suportar as deambulações ciclísticas de activistas que fazem questão em afirmar visualmente a diferença e a sua forma alternativa de vida, obviamente que não leva a lado algum. A bicicleta fica inevitavelmente associada e comprometida com essa 'alternativice' e encarada nesses exactos termos. Cada qual que viva a sua vida como entende e ninguém o poderá criticar (era o que faltava e nunca será isso que está em causa.) Mas que não se pense que é dessa forma que se convence o cidadão médio, que tem medo das mudanças e que só por razões económicas, nunca culturais, mudará o seu paradigma de consumo energético.
d) do fanatismo descabido e do paternalismo descontextualizado com que regra geral sou tratado pelos ciclistas a que me referi no Post. Não se bastam em exemplificar com a sua prática ciclística - têm que convencer que a sua prática é que é a correcta. Não se bastam em aconselhar ou em recomendar - preferem impôr as suas afirmações de princípio como verdades apodíticas. E é por isso que, regra geral, me falta a paciência. É que (alguns desses) ciclistas fazem num ano tantos quilómetros como os que eu faço num mês. O mais que sobem é o Parque Eduardo VII - eu já subi à Torre da Estrela e subo o Montejunto a caminho do almoço. O mais longe que fazem de férias é ir à Praia de Algés de bicicleta - eu, na ultima vez que fiz férias, percorri quase 1300 Km com 20 Kilos de bagagem. Por isso, que autoridade moral ou prática detêm para se assumirem tão peremptórios ? É que regra geral não falam da sua experiência ciclística. Falam da experiência de outros noutros países. Mas no reino das bicicletas ninguém pode falar de cor. Quem quer ter opinião, primeiro dá ao pedal e depois, emite sentenças. Não há volta a dar.
e) da utilização abusiva do Metro para transportar a bicicleta. Em caso de muita chuva ou de furos já andei de Metro com a bicicleta. Mas o Metro, em regra, não serve para isso. As bicicletas no Metro incomodam os restantes passageiros. E afinal que treta de ciclistas são estes que andam no Metro com a bicicleta às costas ? E se todos agora resolvessem levar a bicicleta no Metro ? Está em causa confundir um mera tolerância com um direito absoluto e isso, mais tarde ou mais cedo, vai criar problemas com os transportes publicos. A bicicleta é, ela própria, um meio de transporte urbano complementar e paralelo ao Metro. Não é para andar encavalitado no Metro. Isto para mim é tão óbvio que nem percebo esta fixação em andar no Metro com a bicicleta.
f) Em suma, tentei falar dos anticorpos que algumas (mesmo bem intencionadas) iniciativas de ciclistas estão a causar. Por isso, contextualizando devidamente o que escrevi, não retiro uma vírgula, amiga Ana. Anda por aí muito bom rapaz que só está a estragar a causa ciclistica. Ainda por cima convencido que está a fazer um figuraço. Da mesma forma que o Partido Comunista, ao se ter apropriado do ideário ecologista, atrasou a nossa consciencia colectiva ecológica em 25 anos, também alguns grupos de activistas da bicicleta estão a fazer tudo para criar anti-corpos na sociedade sobre a utilização regular da bicicleta em meio urbano.
Um abraço para si, Ana. Gostei de a conhecer e ao seu marido.
Actualização: recebi coments em que os anónimos me insultam usando apenas o adjectivo sem explicar onde não tenho razão. É apenas a prova provada do que acima escrevi.
segunda-feira, janeiro 21, 2008
CICLOVIA DO PANORÂMICO
Sábado, 19 de Janeiro 2008, 15:40 Horas. Monsanto, Estrada do Restaurante Panorâmico. O inteligente conseguiu fazer cerca de 2 Km em cima da ciclovia passando sucessivamente pelos sinais de transito proibído que fiz questão de fotografar. Quando lhe faltavam 50 metros para terminar a façanha, apareci-lhe pela frente. Travei estupefacto. O animal sorriu amarelamente, com o ar de total estupidez que lhe ilumina a vida. De repente, surge um carro da Polícia Municipal. Faço sinal, a patrulha aproxima-se e, para minha surpresa, o Polícia arvorado faz sinal para o animal do Golf fazer meia-volta. Passei-me. Tirei de imediato uma fotografia ao Golf em cima da ciclovia e gritei que ia participar dos agentes se não multassem a besta e que chamaria a Polícia. Percebi que os agentes ficaram lixados comigo. E muito contrariados. E como desconfio que a multa, se calhar, nem foi passada, sou capaz de ir participar ao Ministério Público. Um filho da puta que faz dois quilómetros em cima de uma ciclovia, passando por 5 sinais de proibição, pondo em perigo a vida de ciclistas que ali passam convencidos que estão seguros, não é apenas um infractor ocasional de uma regra de trânsito. É um homicida em potência. E, se por acaso, os Polícias não passaram todas as multas devidas, então a coisa complica-se.
Moral da história: grave, para a Polícia Municipal de Lisboa, é estacionar com duas rodas em cima do passeio para se ir buscar o miúdo à escola durante 5 minutos. Isso sim, é tão grave que dá lugar a bloqueadores e a 60 € de multa. Agora, um gajo fazer 2 Km em cima de uma ciclovia, passar por 5 sinais de trânsito proibido e assumir um comportamento adequado a matar ciclistas já é passível de magnânimo e superior perdão policial.
DUARTE & COMPª
O meu amigo e colega LA-Alumínios, Duarte, também compareceu ao engano. Anulada o passeio, ele, eu e o meu Miguel optámos por fazer o percurso sem policiamento. Pelo caminho passámos por três outros ciclistas que também tinham sido enganados, o que nos levou a exclamar "olha, ali vai a outra metade da manifestação"...
O SONHO DE SOCRATES
A manifestação/concentração/protesto/passeio foi convocada em nome individual por um moço que acabou por não dar a cara. Desconfio que ele estava por lá, mas porque os ciclistas eram poucos, optou por não se identificar. Não fosse a polícia responsabilizá-lo. Confuso ? Eu explico: Em finais de Dezembro dois ciclistas em estradas diferentes foram gravemente colhidos por carros. Em 6 de Janeiro organizaram-se duas manifestações - uma no Funchal, outra na Marginal de Oeiras. Não compareci porque não soube da inciativa. Mas a convocatória partira de amigos e colegas dos ciclistas envolvidos.
Entretanto, e tentando aproveitar a embalagem da outra manifestação, surgiu o paisano da iniciativa de ontem. É que andam por aí uns ciclistas, organizados como "uma coincidência não organizada nem hierarquizada", que não percebem que esta coisa das bicicletas, além de envolver diversas sensibilidades, diferentes formas de uso das bicicletas, é um assunto sério. E acham que só a forma deles "é que é". E depois metem-se onde não são chamados, metem-se a fazer o que não sabem e, depois, as merdas acontecem.
O português normal, de classe média, que esteja sensibilizado para estas coisas, quer a bicicleta como instrumento de desporto e de lazer. E alguns vão um pouco mais além e encaram a bicicleta do ponto de vista da saúde pública e das várias poluições citadinas. É bom que se perceba que o ciclista médio, o português corrente - na linguagem parlamentar: o Zé - não pretende fazer da bicicleta uma afirmação existencial ou uma forma radical de vida. Ainda menos estabelecer um igualitarismo proletário em que todos sejam obrigados a andar de bicicleta, ainda menos relacionar a bicicleta com formas mais ou menos libertárias de organização social.
Ainda menos copiando modelos holandeses que, deste a traineira com o contentor até ao partido dos pedófilos, passando pelo consumo legalizado de drogas e pelo supermercado das putas, é um ambiente que não me interessa. Mas porque raio de carga dágua, eu para praticar ciclismo que me dá saúde tenho que levar com um pacote daqueles ? Mais, o que é que o cu tem a ver com as calças ?
Por isso, para quem não sabe, aqui fica o aviso: cuidado com manifestações "ciclísticas" convocadas por entidades anónimas, ou "cidadãos individuais" que não dão a cara, porque o movimento ciclístico é uma coisa séria e só fica prejudicado se a sociedade nos começar a ver envolvidos com okupas, xapitôs, ecotópicos e outros alternativos. Que queiram andar de bicicleta, tudo bem. Mas ponto final.
Outrossim, reparei que uma marcha cicloturística com mil e mais ciclistas obriga a que se paguem os batedores da polícia. Uma carta de um "cidadão individual" enviada para o Governo Civil deu origem à disponibilização GRATUITA de tanto policiamento...
Acabo como os repórteres de Curral de Moinas: cuidado com certos rapazes qua andam por aí...
A Maria fez a reportagem.
sexta-feira, janeiro 18, 2008
APETITES
À Sexta-Feira sinto o apelo da estrada e da distância. Em vão.
Sábado até às 13:30 fico no banco da Escola e só de tarde irei fazer duas ou três horas em Monsanto. Domingo pelas 11:30 Horas está marcada a manifestação pela segurança na estrada e quando chegar ao Parque das Nações conto já ter completado cerca de 75 Km. Provavelmente irei ao Carregado e voltarei que não dá tempo para mais.
A manifestação vai andar a 15 Km à hora que é uma velocidade acessível mesmo a ciclistas acidentais. Por isso, quem achar que esta coisa das bicicletas faz bem ao coração e que a cidade de Lisboa deve ter menos carros, apareça. Vão lá estar famílias completas.
quinta-feira, janeiro 17, 2008
quarta-feira, janeiro 16, 2008
JASON MACINTYRE
Um dos melhores ciclistas britânicos, o escocês Jason MacIntyre (34 anos), faleceu ontem após embate com uma carrinha no decorrer de um treino. O corredor não resistiu aos ferimentos, tendo falecido no helicóptero que o levava para o hospital. MacIntyre, que estava no pico de forma após um excelente 2007, aspirava garantir um lugar na selecção britânica para os Jogos Olímpicos de Pequim.
(Notícia Record)
terça-feira, janeiro 15, 2008
ESTREIA
O Kim, meu amigo e colega na LA-alumínios, abriu uma tasca na blogosfera . Saúde e poucos furos, é o que se deseja.
ADAPTADO
O ciclismo de lazer tem a grande vantagem de admitir em plano de igualdade muitos atletas que, em virtude de amputação de perna ou parte dela, nunca conseguiriam praticar outra modalidade desportiva sem que o fizessem em manifesta inferioridade ou em estatuto especial. O ciclista da foto foi apanhado numa pesquisa pelo google, mas conheço (de o ver passar) um amputado abaixo do joelho esquerdo que passa por mim a um ritmo que não consigo acompanhar. Por uma vez meti-me na roda dele em Santa Apolónia, aguentei-me que nem um desesperado até Algés, mas a partir daí tive que o deixar ir. Ele nunca baixou dos 35 Km/h. E quem conheça a estrada e os seus ventos dominantes, sabe que aquela velocidade é tremendamente difícil de aguentar durante os cerca de 8 Km que segui atrás dele. Mais, ele nunca baixou o ritmo, não teve qualquer compaixão para comigo, pois ali, entre mim e ele, a minha barriga é que era o verdadeiro handicap. Ali , o deficiente era eu.
O meu respeito por estes ciclistas obviamente que é muito grande.
OSCAR
"A Federação Internacional de Atletismo (IAAF) tomou a decisão (de proibir a participação) depois ter tido conhecimento das conclusões de um estudo cientifico independente, que aponta para o facto de as próteses serem consideradas uma “ajuda técnica”. O mesmo estudo indica que esta “ajuda técnica” acaba por constituir uma “vantagem competitiva” sobre os adversários, desrespeitando o artigo 144.2 do regulamento da Federação Internacional de Atletismo. De acordo com a investigação, as lâminas curvas que compõem as próteses do atleta sul-africano, em fibra de carbono, permitem correr à mesma velocidade dos adversários, mas gastando menos 25% de energia."
- notícia google
Que queres, Oscar ? Azar o teu, pá. Eu também gostava de ter nascido parecido com o Brad Pit para entrar no campeonato da Angelina...
Porque não tentas o ciclismo ?
SEPSI(S)
Pronto, nós os mortais, estamos tramados. Já chegou outro salvador da pátria. Ao fim de duas ou três horas dentro daquele Estádio, todos apanham a mania das grandezas. E quanto mais enterrados estão na porcaria, mais vaidosos e arrogantes se afirmam, mais posta de pescada arrotam. É um virus, uma infecção. Uma sepsis, pelos vistos.
segunda-feira, janeiro 14, 2008
ARIOPLANO
"Os cinco mandamentos do ciclismo são três: ter uma caricatura linda."
Coment do Arioplano , varado que ficou com a minha caricatura.
"O" CANDIDO
Candido Barbosa é o primeiro craque mediático de ciclismo da era moderna. Voluntarioso, genicoso, reguila, até. E poderoso. Mas sempre entusiasmante. E depois é uma pessoa simpática. Nota-se que alimenta o ego com a roda de admiradores, mas a verdade é que está sempre disponível para os adeptos. E sabemos que os fans cansam, que são uma seca. Estar 3 ou 4 horas a assinar autógrafos e a posar com um sorriso para centenas de gajos que têm a mania que percebem de bicicletas, que nos põem a mão no ombro e nos tratam por tu como se nos conhecessem de algum lado, é algo de heróico. Mas o Candido tudo aguenta com um sorriso e uma palavra de cortesia.
Confesso que na última Volta - naquele dia que passei fechado no quarto do hotel em Mangualde por causa da chuva - fiquei dividido entre a alegria da vitória do Tondo - porque sabia o que essa vitória significava para o Luis Almeida - e a frustração pelo fraco contra-relógio do Cândido. Este ano, voltamos a esperar tudo do Cândido, se bem que eu preferisse que ele estivesse a correr na LA-Póvoa. Connosco, na LA, era capaz de ter mais hipóteses para a Volta. O Sr. Zeferino sabe o que faz. Enfim, o Candido é o profissional e escolheu certamente o melhor para ele. Ademais, se o Benfica tiver de ganhar alguma coisa, já agora que seja apenas através dos meus filhos ou do Candido.
E porque será que o trato por "o" Candido? Não é falta de respeito. É carinho, claro.
Um abraço para si, Sr. Barbosa.
HECTOR GUERRA
Na Volta de 2007 fiquei impressionado com o desempenho de Hector Guerra. Já não pertence à Equipa LA-Alumínios , que obviamente está à frente de todas as outras no apoio deste adepto, mas que o Hector Guerra fez uma volta fabulosa... Desejo-lhe o melhor na época 2008, agora que já não tem que lançar os sprints do Candido.