segunda-feira, março 30, 2009

BOLSEIROS


Desde há anos que acordo com a Sic-Notícias. E nas voltas da manhã lá por casa vão-se ouvindo as novas do mundo.
Uma parte especialmente irritante consistia na ligação directa à Redacção da Reuters ou do Diário Económico para a actualidade das Bolsas nacional e estrangeiras. A convicção arrogante do jovem ou da jovem jornalista de economia a falar dos zero vírgula zero zero zero zero pintelho de ponto que tinha subido ou que tinha descido dava-me volta ao estomago.
Se calhar porque prefiro, de longe, a contabilidade à merceeiro, o Deve e o Haver e a diferença entre ambos que reflecte a nossa riqueza ou a nossa pobreza. Tudo o mais sempre considerei supérfulo, aliás, como agora se comprova. Ademais a Bolsa desde o tempo de Cavaco Primeiro - lembrem-se daquela besta de ministro que fez com que às 11 da noite ainda fosse de dia e que nos obrigava a levantar de noite em pleno verão só para estarmos acertados com a hora dos mercados de Berlim - apareceu como uma marca prestigiada de malas de senhora. Ficava bem falar da Bolsa, saber se estava a subir ou a descer, e "jogar na Bolsa", então, era um must. A Bolsa era um objectivo social, pois significava uma diferenciação social e económica da classe que frequentara as faculdades de economia já depois de se ter eliminado os centralismos dos anos 70. Wall Street era a meca. E copiava-se tudo. Até os suspensórios em cores berrantes.
Mas a economia é como a vida. Faz-se de coisas concretas e reais. As pessoas comem batatas, não comem activos. E um desarranjo intestinal suscita diarreia, não comporta activos tóxicos. E a merda cheira sempre mal. E todos nós, pelo menos uma vez por dia, temos que lidar com essa realidade. Com a Bolsa podemos passar uma vida inteira sem lá ter gasto um centimo.
Vem isto a propósito dos jornalistas económicos da Sic Notícias. Agora já não têm no olho o brilho do triunfo e da dominância. Falam sem convicção como os jornalistas desportivos da selecção. E receiam o despedimento. Percebe-se tão bem que estão a sentir na pele aquilo que falavam dos outros. Daqueles distantes. Lá pela Malásia ou Taiwan que costumavam ser os únicos a ficar sem trabalho ao ritmo das variações dos índices que se celebravam em Lisboa.