DOPING
Naturalmente estou muito triste com o que aconteceu à equipa da Póvoa Cycling Club, patrocinada pela Câmara Municipal de Póvoa do Varzim, LA-Alumínios e MSS-Construtora. Através da minha ligação especial ao cicloturismo da LA-Alumínios acabei por ter acesso a esse mundo deslumbrante do ciclismo profissional, mediante concentrações, apresentações à imprensa e outras actividades de promoção do ciclismo. E contactava de perto com os profissionais da estrada por quem desenvolvíamos, nós, os velhotes do cicloturismo, especial carinho e amizade. Até há ano e meio atrás, a equipa da Maia-Milaneza era a grande adversária da equipa LA-Alumínios. Recorde-se que, nessa época, a LA-Alumínios co-patrocinava a Equipa LA-Liberty Seguros dirigida por Américo Silva. Por voltas que o mundo dá, a empresa de Luis Almeida decidiu patrocinar fortemente a equipa de Manuel Zeferino. Co-apoiada pela MSS e pela Câmara da Póvoa, o projecto dava garantias de êxito profissional e também na divulgação do ciclismo no Município da Póvoa de Varzim. Mas, pelos vistos o projecto morreu. Ou mataram-no.
De todo o modo, e perante o que se sabe e com as reduzidas certezas que se têm, quero expressar a minha surpresa pela ingenuidade dos profissionais alegadamente apanhados. Quem anda a roubar e sabe que a polícia anda por aí, não deixa em casa os instrumentos do crime. E depois das queixas que o Benfica-Lagos andou a fazer, já se estava à espera de uma rusga destas mais tarde ou mais cedo. Depois, quero recordar que existe um sem-número de revigorantes, vitaminas, recuperadores de fadiga, tudo devidamente legalizado e que o desporto profissional usa sempre até uma milésima abaixo do limite proibido. Em todas as modalidades. E em todas as equipas, incluindo as que se têm andado a queixar.
Por isso, enquanto não forem identificados os medicamentos apreendidos, não posso tomar como boa a informação do Inspector da Judiciária que, a olho, já chegou à conclusão que são hormonas de crescimento. Se calhar as cápsulas são de compostos vitamínicos, perfeitamente legais. Por seu lado, as seringas, ainda por cima novas e por usar, servem também para intramusculares de produtos legais ou para intravenosas para reposição de sais. Uma centrifugadora serve para muita coisa, até para misturar os diferentes elementos de cocktails vitamínicos, até para medir o hematócrito dos atletas. Coisa diferente é se a centrifugadora tiver vestígios de sangue contaminado com produtos proibidos. Mas isso, apura-se facilmente.
Por outro lado, já estão a correr notícias de que o infeliz Bruno Neves teria morrido, não de traumatismo craniano devido à queda, mas de paragem cardíaca que lhe ocasionou a queda, numa tentativa de associar as duas situações. Que o infeliz evento se deveu a paragem cardíaca é inegável. Ninguém morre sem paragem cardíaca. Por isso, esta notícia surpreende. A este propósito recordo que as notícias do acidente, no imediatismo da dramática situação, davam conta de um outro ciclista que lhe teria tocado na roda de trás, causando-lhe a queda desamparada. Marco Chagas surgiu a descrever o estado lastimoso em que o capacete ficara e a falar na pedra contra a qual se esmagara. Falou-se de meia hora de primeiros socorros e do estado de consciência na entrada da ambulância. Eu ouvi todas estas notícias. Tudo isto incompatível com uma súbita paragem cardíaca que interrompesse o andamento.
Existe, assim, muita poeira no ar. Face ao que sei, não estou ainda minimamente convencido seja de que situação for. E apesar de a LA-Lumínios já ter rescindido o contrato de patrocínio com a equipa de Manuel Zeferino, quero dizer aqui que este director desportivo é das pessoas que mais percebe de táctica de corrida no mundo do ciclismo, é pessoa honesta, séria e trabalhadora. Daquilo que vi e conheço, não posso dizer outra coisa. E neste momento em que o seu mundo desabou, não vai ser o Xiclista que lhe vai atirar pedras, antes aguardando a correcta identificação dos produtos apreendidos e as explicações que ele não deixará de dar.
O ciclismo ficou a perder uma vez mais. Já ninguém se lembra ou fala da mortes de outros atletas, da eritropoitina que entope as artérias e mata basquetebolistas, da testosterona conjugada com hormona de crescimento que causa hipertrofia cardíaca e mata futebolistas, da cafeína e da nandrolona que espevita o esforço e acelera a recuperação. Nas outras modalidades, estes assuntos discutem-se na base da defesa do clube que foi apanhado. Mas quando toca ao ciclismo, tudo cai em cima. Curiosamente os que mais barulho fazem são aqueles que mais casos de nandrolona tiveram nos últimos anos.
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