A MARCA

Tenho alguns amigos benfiquistas que muito prezo. Porém, o benfiquismo enquanto postura vivencial é algo que me faz sair do sério. É a arrogância, a superioridade, a altivez, a sobranceria, o superlativo. O constante e sistemático menosprezo dos outros. A inferiorização dos outros como condição do auto-elogio. O benfiquismo não se basta em ser grande (mesmo que o fosse). Tem que ser "o maior" (e, isso, não o é seguramente). Muitas vezes só existe a parvoíce e a bravata. E, depois, tudo espremido... dá em nada. Se calhar é por isso que o benfica é o clube mais português: vive do culto do passado rico, como quem fala do império, evita falar dos roubos e das promiscuidades doutrora, como quem foge das memórias da inquisição e da escravatura, contorna as evocações do fascismo, como se não tivesse sido o colonialismo e a ditadura a dar-lhe a única grandeza que teve. Eticamente só há crime quando são os outros a roubar. E sempre a patética vitimização e as rebuscadas teorias da conspiração. Ou seja, um estado muito grave de ejaculação precoce: tremenda tumescência na pré-época que se esvai num ápice, sem gozo ou eficácia, deixando o país a falar das quecas que se davam já lá vão 40 anos como se fossemos obrigados a aturar esta conversa doentia de lar de idosos.

Passando pelas notícias dos últimos anos, encontramos pérolas autênticas de propaganda vociferada em exercícios desesperados de sobrevivência num mundo irreal, de ficção e faz-de-conta. Só se entendem, se recordarmos que em Hollyhood chegaram a existir vedetas do cinema mudo que se mantiveram em torres de marfim, recusando-se aceitar que o cinema já era sonoro havia décadas. Para desgraça dos meus amigos benfiquistas, descobrirão a realidade da pior forma. Eu não vou ter pena. O que o benfiquismo tem feito a este país em termos de atrofia da inteligência colectiva e do livre pensamento tem sido pérfido demais, para eu me condoer.