LAURENT JALABERT
Em 1995, Jalabert venceu as três "camisolas" da Vuelta. Montanha, Pontos e Geral. E protagonizou uma das mais nobres páginas do desporto.
A etapa era a 12ª com a meta no alto da Sierra Nevada. Era a mais longa com 236 Km de extensão. Um jovem alemão da Telekom, Bert Dietz, lançou-se na aventura da fuga logo na primeira dezena de quilómetros. Tão longe da meta, o pelotão deixou-o ganhar muitas dezenas de minutos. Como habitual, com o aproximar da meta, Dietz começou a perder vantagem. E na derradeira subida, que é das mais complicadas em Espanha, viu encurtada dramaticamente a vantagem. Depois da última curva, a meta já se via no final daquela derradeira rampa. Só faltavam 500 metros para ganhar a etapa-rainha da Vuelta daquele ano. Mas Jalabert que fizera a subida nos habituais esticões que rebentavam com a concorrência, contorna a última curva e dá com o Dietz na sua frente, penosamente, a tentar chegar à meta. Com facilidade Laurent Jalabert ultrapassa o adversário, que num soslaio de profunda tristeza e desânimo depois de tão prolongado esforço identifica quem o ultrapassa e abdica do seu já fraco ritmo. Mas Jalabert deixa de pedalar, olha para trás e espera. Confirmando que não precisava de ganhar a etapa por ter deixado muito atrasados os directos competidores, Jalabert incentiva Dietz a pedalar, dá-lhe ânimo e coragem para mais aquele derradeiro esforço e deixa que Dietz ganhe uma etapa em que andara fugido cerca de 230 quilómetros. Talvez a fuga mais longa de que tenho conhecimento.
Senti-me envolvido naquele acto de nobreza. Comovido até às lágrimas. Nesse dia, mesmo como simples adepto da modalidade, senti orgulho do ciclismo.
9 Comments:
Ainda me lembro desse episódio! Para mim o mais marcante no fair-play.
Tinha como habito guardar em VHS o melhor das etapas das 3 grandes voltas e esse momento não me escapou, e tenho ali a cassete bem guardada!
Boas recordações!
Ainda não tive coragem para ter tanto fair-play, porque só quem anda nisto do ciclismo sabe como é difícil abdicar de uma vitória! E ganhar em etapas míticas ou abdicar delas significa empregar todo um ano de preparação e trabalho, e no próximo ano não se saber se poderemos estar lá, para voltar a tentar! Vitórias morais não é para quem quer é para quem pode!
é preciso ser muito íntegro p fazer uma coisa dessas :-)
Afinal... também és um sentimalão, amigo Carneiro!
um lamechas completo...para que conste !
amigo Carlos Augusto,
Tens fair-play, tens. Obviamente noutra escala.
A tua descrição lembrou-me das nossas fugas solitárias por esse país...( com as devidas distâncias claro...)Aquelas subidas que nunca mais acabam, o reclamar com os deuses, o desânimo, a solidão que será recompensada por mais uma etapa cumprida, para que nos possamos cumprir a nós..e como diria Pessoa, só falta cumprir Portugal.
essa é uma definição possível para esse complexo de emoções que nos leva a partir estrada fora...
Ah, Pulanito, my captain. Sabe bem encontrar uma alma gémea que percebe, sentindo, a sede de estar longe para como condição da saudade para o regresso. Em circulo vicicoso. Viciado. O problema foi ter experimentado a primeira vez...
Jaja foi um verdadeiro campeão. Também me emocionei com aquele acto de abnegação. Só lhe faltou melhor sorte no Tour.
Por estas e outras é que eu digo: Jaja para sempre! Obrigado por mais esta partilha/explicação, aos menos avisados, do porquê do cicilismo ser incomparavelmente o mais belo.
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