MAIS LUTO

Há épocas em que inexplicavelmente a morte, como se estivesse a montar um cerco inelutável, nos ronda e acaba por levar alguns daqueles de que gostamos. Hoje foi a vez do Pai do meu Amigo de Infância.

O Senhor Chico era filho de José Pereira da Conceição, ciclista da era heróica que chegou a vencer o Porto-Lisboa na década de 20 do século passado, sendo célebres no meio ciclista as histórias dos almoços completos que ele tomava no Bombarral à beira da estrada para ganhar força para fazer o resto do percurso até Lisboa.

O Senhor Chico surpreendia-me por ser um agricultor que lia banda desenhada. E especialmente por ser possuidor de um sentido de humor muito raro e subtil. Lembro-me que invejava a cumplicidade que ele mantinha com o filho. Pois que o meu Pai sabia lá quem era o Gastão Sortudo ou o Patinhas Forreta...

O filho cada vez está mais parecido com ele. Como eu, seguramente, estou cada vez mais parecido com o meu Pai.

Voltei naturalmente ao luto. De alma.

E o Outono ainda só agora vai entrar na terceira semana...

"Patife"...ele sabe perfeitamente o que isso significa. Fazia parte duma linguagem cifrada que ele estabelecera com o Filho e a qual, com generosidade, me deixaram partilhar.

Por isso, patife para si, Senhor Chico. E descanse em paz.