quinta-feira, abril 23, 2009

PROVA DE ESFORÇO


"(...) Foi recebido por uma médica novita, com aquela idade em que tudo é bonito, fresco e colocado em seu sítio, que lhe pediu com amabilidade que se despisse, se faz favor, da cintura para cima. Em tronco-nú, encolheu ligeiramente o estomago, disfarçando o inoportuno pneu que se formara sem prévio aviso havia dois anos e que teimava em se evidenciar nas situações menos convenientes. Ainda lhe apeteceu comprimir mais o ventre, para melhor realçar os peitorais, mas prudentemente lembrou-se daquele vez na praia em que se encolhera de tal modo, perante a boazona sueca, que lhe faltara o ar. Ainda por cima, a estúpida da nórdica, em vez de passar admiradora, babada e esfaimada daquele magnífico, mas inacessível, exemplar de homem peitudo, resolvera perguntar pelas horas.
Ainda ia no half, quando o pneu descontraiu; no past já atingira o tamanho normal; ao eleven compensara elasticamente a anterior contracção e explodira numa proeminente barrigaça mesmo em frente do exíguo biquini sem relógio. Que humilhação. Desta vez, António foi comedido não exagerando na contracção. A jovem médica ao aplicar-lhe os sensores auto-aderentes comentou que peito cabeludo. António fingiu não ter ouvido, mas em retribuição passou a olhar de soslaio pelas ancas da miúda. Subiu para a passadeira rolante e começou a caminhar.
A cada três minutos a velocidade aumentava e a passadeira inclinava alguns graus. António, exausto, aumentava o ritmo da passada, só não desistindo por se lembrar que tinha um peito cabeludo que o impedia de renunciar tão cedo à máscula exibição. A cada mudança de ritmo, as pernas doíam, o peito estoirava. Decorridos mais três minutos a médica novita perguntou se queria parar. António, valente, respondeu que ainda não. Mas teve que trotar dada a velocidade do tapete. A médica novita elogiou isso é que é capacidade de esforo. E António apesar do cansaço que lhe comprimia o peito, das lancinantes dores que lhe trespassavam os músculos, mesmo no limiar do colapso, ainda espremeu mais algumas energias do seu ego. Tinha que aguentar. Sobretudo porque tinha um peito cabeludo e muita capacidade de esforço. Completamente estoirado, quase a deixar-se atropelar pela passadeira, mas não desistia. Aguentava. Tinha que aguentar. O seu peito era cabeludo. E tinha muita capacidade de esforço. E desesperadamente aguentava.
Mas a velocidade cada vez era maior e o raio da passadeira estava quase na vertical. Que se lixe o peito cabeludo, mais a capacidade de esforço, mais as gajas novas, mais-a-pata-que-a-lambeu. Não aguentava nem mais um centímetro. Num derradeiro assomo de masculinidade ainda conseguiu dar um ar controlado à voz pedindo para parar. Ofegava como um galgo e transpirava como um cavalo. Limpou-se sumariamente a uma toalha e deitou-se na marquesa, para as medição da recuperação do esforço. Ao fim de um quarto de hora, a médica novita, com tudo bonito, fresco e colocado em seu sítio, começou a arrancar os sensores. Espero não o magoar, avisou com gentileza, provavelmente vou-lhe arrancar pelos; o meu marido também tem assim cabelos no peito. Ah, grande cabra, pensou António, já podias ter dito que tinhas marido, escusavas de me ter obrigado a apanhar uma suadela destas."

2 Comments:

Blogger Pedro Alves said...

Olá,

Devia ter-lhe dito que o protocolo de Bruce não se aplica a "atletas"...

23:15  
Blogger pulanito said...

Não sei porquê, mas sinto aqui qualquer coisa de autobiográfico..heheheh!!!

11:16  

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