quinta-feira, abril 23, 2009

Diálogos Épicos no Café Veneza

"O Jorge Braga era um comunista típico. Proeminente odor corporal e poros extra dimensionados, cabelo revolto e barbicha à Lenine, sentava-se, de perna traçada, sem gravata, a fumar e a ler a Seara Nova, num canto da esplanada do Café Veneza. A farta camisola de alças a ver-se por debaixo da camisa branca. Indiferente à PIDE e ao mundo.
Já o Manel Celestino, mais velho, era um latifundiário clássico à moda do Oeste, de bengala e chapéu de aba larga, sem nenhum conhecimento de política, mas zeloso defensor da moral e dos bons costumes, que deixava sempre a Esposa em casa ou na igreja, e se dedicava sobretudo a censurar tudo o que saísse dos seus parâmetros restritos de conduta, indumentária e pilosidade facial. Exalava uma fragrância diferente, mais vínica.
Aos olhos do Manel Celestino, a barba revolucionária do Jorge Braga era o último grito da loucura subversiva. Um dia não se conteve. Quando o Braga se levantou e pagou o café para se ir embora, o Manel Celestino atirou-lhe:
- 'estaparta!... P'a chibo só te falta os cornos!...
Responde o Braga, na sua passada indolente e sem sequer virar a cabeça:
-E a si só lhe falta a barba...
Apesar de ninguém ir muito à bola com o autor, a réplica foi saudada por uma estrondosa gargalhada. No meio da nuvem de fumo do cigarro, o Braga deve ter ficado surpreendido. Até porque não estava a ser espirituoso..."
Nota: Surgiu este texto anónimo na caixa de comentários já há alguns dias. Guardei-o para lhe dar mais dignidade nas vésperas da celebração da Liberdade. Ao respectivo autor, obrigado.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

E conheces o autor e o café! Só que o segundo com outro nome ;)
A estória é totalmente verídica, à excepção desse pormenor da toponímia italiana...

O autor

20:33  
Blogger carneiro said...

fiquei com curiosidade, mas já não tenho pachorra para roer as unhas. Quando te quiseres dar a conhecer, diz...

Abraço

22:40  

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