PEDRO ALVES

Foram 640 Km seguidos, apenas com pausas técnicas para alimentação. Entre as seis e as sete da manhã fui ao encontro do Pedro na Nacional 10 ao norte de Lisboa. A cara mostrava cansaço. Pudera, desde as 16 horas do dia anterior que ele estava a pedalar. Desde Viana do Castelo já perfizera cerca de 400 Km em cerca de 15 horas de esforço. Nem imagino o que tenha sido o período entre a meia-noite e as cinco da manhã pela Mealhada, Coimbra, Condeixa, Batalha, Venda das Raparigas...

Passámos pela Expo às 7:02 Horas, exactamente cinco minutos antes do horário previsto. O que, só por si, ilustra o rigor extremo do planeamento e a disciplina espartana no desempenho. E também a qualidade atlética do Pedro, pois que só em boa forma física se consegue respeitar planos de desempenho.

Acompanhei-o até Setúbal. Também com o Arioplano, esse amigo que se vai tornando companhia indispensável nos passeios importantes. De Tróia até Sagres conheço bem a estrada. Já a fiz algumas vezes em ambos os sentidos. Por isso, posso com conhecimento de causa apreciar e louvar o esforço destes derradeiros 200 Km. Gostaria de ter ido com o Pedro. Mas para o ritmo dele, essa tarefa era-me impossível. Nos primeiros 400 Km, o Pedro mantivera a média de 27,5 Km/hora em andamento. E uma média dessas não está ao meu alcance para tantos quilómetros consecutivos.

Já de noite recebi a confirmação via sms. Tinham chegado a Sagres às 18:30 Horas.

O Simões, que não conheço ainda e que é ciclista mais para a minha idade, também largou de Viana e aos 400 Km vinha com uma hora da atraso. Não tenho dados concretos, mas presumo que também tenha chegado a Sagres. A façanha do Simões, assim, é tremenda. Aliás, a chegada a Lisboa já seria só por si extraordinária.

Pois bem, enaltecer a dimensão do feito atlético é o mínimo que posso fazer. Todos nós que gostamos de andar de bicicleta e temos a mania que somos ciclistas, ficamos arrasados pelo tremendismo destas façanhas. É que foram 26 horas e meia de viagem em cima de uma bicicleta. A controlar o esforço, a alimentação e a hidratação. A resistir à fadiga e às dores parasitas que se vão instalando pelo corpo. E estar sempre focado, concentrado. Também no transito e nos demais utentes da estrada.

Enfim, não tenho dúvidas em considerar a viagem do Pedro Alves e do Simões como uma das páginas mais heróicas do ciclismo português. É que, além do mais, não consta que os profissionais façam disto.

Eu tive a sorte de ter partilhado um pouco da estrada com o Pedro. Sinto-me honrado. Tremendamente honrado por atletas deste calibre aceitarem o meu convívio. E para lá da amizade que assim se cimenta, fica a sensação de ter estado presente quando aconteceu uma página da História de Portugal. Pois a história dos povos assenta na heroicidade dos anónimos. E eu vi um futuro ex-anónimo a escrever uma página brilhante do desporto português.

Parabéns, Pedro e Simões. Que grandes atletas que vocês são !