segunda-feira, dezembro 18, 2006

O "ALMOÇO"


Enquanto preparei o meu raide de verão, fiz cerca de mil Km com o reboque, inicialmente para me habituar à "condução" e depois para ensaiar médias e estratégias de progressão em subida, em descida, com meia-carga, com carga-inteira, etc. Aos sábados e domingos fazia uma volta nunca inferior a 100 Km, visando a média de 110 Km/dia que pretendia obter durante a viagem. Nesses percursos era muitas vezes ultrapassado por pequenos grupos de ciclistas. Nunca deixavam de se meter comigo. "Então, amigo, leva aí o almoço ?"- referiam-se eles ao meu reboque, instrumento completamente estranho para a maioria. E a interpelação não era ingénua. Pretendiam frisar, do alto da respectiva arrogância ciclística, que era um disparate completo andar a puxar um reboque em vez de os imitar nos tiques de profissionais domingueiros. Mesmo percebendo onde queriam chegar, respondia com o sorriso amarelo da humildade: " Se é servido, acenda a fogueira aí à frente..." ou outra palermice que me ocorria dizer só para não estar calado. Mas ao fim de ouvir a mesma coisa vinte vezes seguidas, qualquer homem começa a cansar-se de ser simpático. E numa ocasião em que um grupo de uns 10 passou por mim no seu melhor estilo aligeirado de peso supérfluo, imitando todos os tiques dos ciclistas profissionais, falaram no "almoço" e um deles até se permitiu comentar "é pouco parvo, é...", decidi que não mais responderia a ditotes. Mais à frente estavam parados com um furo e perguntaram-me se eu por acaso não teria uma câmara de ar a mais. Respondi cinicamente que não, "eu só levo aqui o almoço", disse em voz alta e "puta que os pariu", pensei para os meus botões. Por acaso, andava com a caixa da ferramenta no reboque a fazer lastro e devia ter, talvez, umas 6 camaras de ar. Foi a única vez que na estrada não dei a assistência possível a um ciclista avariado. Para esse grupo de dez ciclistas, aqui fica a foto de um cesto de almoço, cujo modelo vou mandar copiar para fazer pic-nics no verão.
Estranha mania esta que os portugueses têm de menorizar e inferiorizar tudo aquilo que os surpreende ou interpela. Basta imaginar a cara dos meus vizinhos quando eu passar a ir à praça com aquele cesto de verga no meu reboque.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

SR DR. so vejo garrafas de vinho nessa
lancheira vai ao festival vinicula em santarem????????????????

22:51  
Anonymous Anónimo said...

Xiclista, está-se a ver que já chegaram aqui os «Anónimos-Cobardolas» hein?
Tens que mudar o sistema de comentários...


Sinón, agarra na lancheira
e vai levar o almoço ao Pai :-D

11:04  
Blogger Sergio Barroso said...

Por acaso, Carneiro, bem que podias organizar uma Volta das Adegas. Assim, talvez eu, finalmente, me junta-se ao pelotão.:)

14:28  
Blogger carneiro said...

Ai Francis, estás tão pavloviano. assim que viste os gargalos, reagiste...

Um abraço.

15:04  

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