JE SUIS (OU NON) CHARLIE

Aos pés da estátua que representa a vitória e a liberdade, quase duas mil pessoas replicaram em Lisboa o protesto que se faz ouvir a nível mundial. "Je suis Charlie" foi o cartaz bandeira e democracia a palavra de ordem.

Passando  em diagonal pela Blogosfera, constato que a Direita se associou  incondicionalmente à defesa do Princípio da Liberdade de Expressão, exactamente por ser um Princípio. Estas questões de Princípio não podem ser relativizadas.  E apesar de ser unânime a declaração da menoridade artística e jornalística do Jornal vitima do atentado, mesmo assim a manifestação foi inequívoca. Porque a Liberdade de Expressão só faz sentido ser garantida exactamente para aquelas opiniões  que por serem menos simpáticas correm o risco de ser vedadas. Para se ouvir coisas simpáticas não é preciso lutar pela Liberdade de Expressão.

A Esquerda, desta vez,  foi histérica no apoio ao Principio da Liberdade de Expressão. E compreende-se. O jornaleco francês era de extrema-esquerda, na área anarquista-libertária, com constantes ataques à Direita Política Francesa, à Igreja Católica e, de uma forma geral, de ataque  político a tudo o que não fosse de esquerda.

Por isso, a Esquerda que se reuniu em Lisboa, protestou mais por ter sido um jornal  dos seus a ser a vítima, do que pelo princípio da Liberdade de Expressão. Como se sabe, para a Esquerda, a única Liberdade de Expressão que não tem limites ou merece censura, é a própria. Estivesse em causa um Jornal de Direita como, por exemplo, "O Diabo", e a Esquerda  já se estava a borrifar para a Liberdade de Expressão. Aquilo que diriam é que "O Diabo" estava a pedi-las. Todos nós conhecemos a forma rasteira como a Esquerda relativiza  no sentido da conveniência imediata. 

Mais um reparo, para salientar que a "coragem" que eu tive ao publicar neste blogue dois cartoons "blasfemos"  - prática generalizada pelo comum dos blogues -, apesar de declarar expressamente que nenhum mérito artístico ou jornalístico lhes reconhecia,  não foi replicada  pela maioria dos jornais internacionais, sendo que os  ingleses não publicaram um único cartoon. O que elucida quanto à cor dos tomates destes jornalistas que nos entram todos os dias em  casa com a pretensão de nos ensinar como deveremos viver a vida. Mas no momento da verdade decidiram não desafiar os loucos extremistas e encolheram aquilo que deveria ser a afirmação universal do Princípio que lhes garante a comida na mesa. Perdeu-se a oportunidade de os extremistas perceberem que cada vez que atacavam a Liberdade de Expressão, se sujeitavam à proliferação anormal daquilo que eles visavam impedir.  Mas, não. O Jornalismo cobardóide  mais uma  vez   se assumiu sem vergonha.

Uma palavra final para referir que na manifestação de Lisboa vi pela TV uma Jornalista Francesa  emocionada, agradecendo o apoio de quase mil manifestantes presentes, número que ela nunca tinha pensado ser possível reunir espontaneamente em Lisboa. Enfim, a notícia linkada fala no dobro. O que é normal no contexto de contadómetro de multidões a que o jornalismo português já nos habituou.