terça-feira, fevereiro 12, 2013

REFLEXÕES EM FALSO FERIADO


1. Ontem a vizinhança do prédio na Baixa foi surpreendida pela colocação de andaimes.  Ao fim de 2 anos de tramitação burocrática a Camara de Lisboa deferiu a licença. É assim na Lisboa do Socialista-maçon Costa: uma licença de obras para restauro de uma fachada  demora 2 anos a pôr os carimbos todos. Em Oeiras demora 2 meses.  E depois a malta surpreende-se que os corruptos ganhem eleições.
 O acesso pela ladroagem aos andares superiores fica assim garantido. Só têm que se sentar num andaime, dar uma patada no vidro da janela e entar na boa. A Senhoria poderia ter avisado, mas o Advogado dela é um tipo rancoroso que já perdeu com um Cliente meu uma acção de despejo que durou 12 anos e onde as testemunhas foram os restantes inquilinos do prédio e, por isso, o tipo tinha que se vingar de algum modo. Passei o serão de ontem  na bricolage e hoje de tarde continuarei a reforçar a segurança nas janelas do alçado frontal. Passei cá a noite, desejando não ter que dar um tiro a um gajo que me aparecesse à janela. Hoje as farmácias da baixa estão no modo de feriado, bem como a loja de parafusos. Terei que voltar ao AKI à hora do almoço. Entretanto tenho Clientes marcados, para aproveitarem o feriado sem faltar nos respectivos trabalhos.
2. O Papa alemão ontem informou que vai resignar devido a falta de força física compatível com o exercício conveniente do cargo. Já li pela net uns parvos a condenar "o abandono e a deserção, porque deveria sofrer até ao fim da vida, em nome de Cristo". Percebo que as cavalgaduras que assim aparvalham foram os mesmas que enalteceram aquele espectáculo degradante e confrangedor de ver João Paulo II em estado quase comatoso agarrado ao báculo para não cair. Recolher daquelas imagens do velho João Paulo II mais do que um sádico prazer em ver um velhote sofrer é um tipo de comportamento estúpido, assumido em nome de um  requinte de Fé, que me foi deixando de interessar  nessa vertente tão requintada.
O Papa é o líder da Igreja, é um cargo funcional e instrumental da acção social e evangélica da Igreja. Por isso só pode ser exercido e executado por quem esteja em condições físicas e intelectuais para tanto. O Papa não é um líder comunista, em projecto pessoal de poder,  que tenha que ser mantido artificialmente em funções como o desgraçado do Chavez. Qualquer membro da Igreja executa as suas funções e desenvolve o seu trabalho em prol e em benefício de um fim comum. Quem exerce uma função visando, acima de tudo e em primeiro lugar, planos de salvação pessoal, arrisca-se a fazer tristes figuras e a reconduzir à dimensão do seu umbigo o ditame universal do amor ao próximo.
3. Parte  relevante dos meus tempos de activismo  católico foi a frase inicial da oração dos escuteiros: "Senhor Jesus, ensinai-nos a ser generosos". Mesmo para aqueles que perderam a Fé e retiraram o vocativo "Senhor Jesus" da oração, sempre lhes fica a parte mais importante "o ser-se generoso" que traduz a concretização mais nobre do imperativo ético do amor ao próximo.
Para amar o próximo, para se ser generoso com o próximo, não é precisa a muleta psiocológica  da religião. Mas aqueles que usam essa bengala  também não perdem com isso. Desde que se seja generoso para com os outros e não tanto consigo mesmo. O benefício religioso, a consciencia de praticar o bem, a salvação da alma imortal,   só é alcançavel de forma indirecta. Primeiro ajudamos os outros, depois logo se vê se o Deus misericordioso, ou a integridade ética para aqueles que não acreditam em Deus,  recompensa ou não o generoso. Quem se auto-flagela em sofrimento físico unilateral não adianta nada à sociedade, não ajuda ninguém, não é generoso para ninguém. É apenas alguém que não está a ler bem a realidade. Por isso, o Papa Alemão, ainda por cima rompendo com uma tradição de 600 anos, foi generoso para com a Igreja e foi humilde perante  Deus, ao renunciar ao cargo. E os patetas do costume que vêm sempre com a derradeiro argumento   de "os desígnios de Deus serem insondáveis" para tentar  justificar tudo e mais um alfinete, é bom que se contenham. Porque se os desígnios de Deus são insondáveis não há ninguém que os possa invocar. Excatamente porque ninguém sabe quais sejam.
É curioso que um Papa, sempre menosprezado, sempre metido na sombra do gigante João Paulo II, venha assumir com tanta classe aquilo que outros, tratados como Santos, não fizeram. É por isso que sou um grande admirador da mentalidade alemã.

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4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

V. tocou num ponto que ainda ontem me foi tema de conversa ao jantar: o cumprimento do "mandato" do papa anterior até ao final nas circunstâncias de extrema degradação física. Não gostei. Como foi por demais evidente, já não tinha condições mínimas para exercer activamente o cargo. Prefiro a resignação. Também penso que o actual papa fez bem em renunciar. Aquela imagem do cardeal Woytila e do seu sacrifício, debruçado sobre a própria cadeira, incomodava. Pelo menos também a mim.
Sobre os dois anos da tal licença...Portugal no seu pior!...Apesar dos "simplex" e das sucessivas reformas da treta... Menos, no entanto, que os cinco anos e meio para conseguir pôr a funcionar uma fábrica de reciclagem de resíduos plásticos que nunca chegou a funcionar... Depois do calvário (muito caro!!!) da Câmara, da Junta, da DRAOT, do ministério do ambiente, do ministério da economia, da EDP, eu sei lá que mais, o empresário achou que já chegava, desistiu, vendeu as instalações, resgatou as garantias bancárias e foi à vida dele... Foi há cerca de sete ou oito anos mas, triste ironia, dois anos para obter uma simples licença para pintar uma fachada, parece que pouco mudou desde então...Onde viémos nascer!...
NC

15:37  
Blogger Agnelo Figueiredo said...

A parte do Papa está excelente.
A parte da ladroagem até me arrepiou. Isso anda assim pela capital?

01:14  
Blogger carneiro said...

a partir das 8 da noite, a Baixa de Lisboa é uma No law land. E as redes a taparem os andaimes permitem que a ladroagem trabalhe em recato sem ser vista do exterior pelos raros passantes.

Ademais, as forças policiais estão ocupadas em Nafarros não podem andar pela baixa da Capital.

O engraçado é que aqueles que falam do centralismo de Lisboa, não fazem a mínima ideia das condições degradadas e degradanbtes em que vivem os lisboetas que cá dormem e trabalham.

08:49  
Blogger JOPZ_B1B said...

otimo texto

11:55  

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