segunda-feira, maio 04, 2009

Ver a totalidade da entrevista no Correio da Manhã a Medina Carreira aqui.


(...)
"MC – Com que consequências?

- Se o senhor for pobre diga-me se fica satisfeito. Vive mal, não tem automóvel, não vai à praia, come uma bucha de vez em quando.

ARF – Nenhum chefe de Governo percebeu isso?

- Destes quatro últimos nenhum percebeu o País em que estava.

ARF – Os últimos quatro?

- Sim. Guterres, Barroso, Santana, que esteve lá episodicamente, e este não perceberam o essencial do problema do País.

ARF – Não perceberam que vivem em Portugal?

- Não. Porque cada um tinha uma concepção. António Guterres era palavreado. A política de Guterres era saber quantos por cento do PIB iam para a Educação. O que se fazia com os tais por cento era indiferente. Este que está lá agora, o José Sócrates, é um homem de espectáculo, é um homem e circo. Desde a primeira hora. É gente de circo. Eles prezam o espectáculo. Porque eles não percebem que os problemas não se resolvem com espectáculo. E prezam o espectáculo porque querem enganar a sociedade, para sobreviver. E sobreviver para continuar a tomar conta do dinheiro do Estado, para pôr os amigos e negociar com os amigos.

ARF – Mas o tacho tem um fundo.

- Pois tem. Foi o que o Estado Novo não percebeu. Que aquilo tinha de acabar e estes se calhar vão perceber tarde demais que isto tem de acabar. Porque se nós continuarmos num nível de empobrecimento relativo isto não vai dar um bom resultado.

ARF – O que será um mau resultado?

- Não sei. Pode ser tudo. Pode ser uma zaragata na rua.

LC – Podem acontecer revoltas sociais?

- Pode ser um mal-estar instalado nas ruas, como é natural. Porque nós estamos a viver uma fase de empobrecimento natural com a crise internacional.

LC – E única na história do País ou não?

- Pelo menos há cem anos que isto não era tão mau. E o que vemos são as consequências de uma economia que não funciona. Desemprego, pobreza, desânimo, desigualdade. E aqui ao lado o que é que vê? Há dias vi a notícia de um homem que ia algemado porque tinha roubado duas galinhas. Agora eu pergunto: o que é que pensa uma sociedade que trata assim um homem que pilha duas galinhas e vê aí á solta, com a maior desfaçatez, tipos que pilharam aviários inteiros. O que é que pensam?

(...)

ARF – É o assunto das grandes obras públicas.

- As obras públicas. Auto-estradas é evidente. Há auto-estradas sem ninguém.

ARF – Com pouco trânsito.

- Pouquíssimo trânsito. Nós, País pobre, não podemos dar-nos ao luxo de fazer isso. O BPI escrevia há pouco tempo o seguinte: se fizermos aquilo seremos o quinto ou sexto País do Mundo com maior densidade de auto-estradas e TGV. Vai tudo mais depressa para o Porto, Madrid e Paris. Mas o problema não é esse. Nós estamos cercados de endividamento e, por conseguinte, arranjar dinheiro lá fora vai ser cada vez mais difícil e cada vez mais caro. Eu já não discuto TGV...

ARF – Aeroporto.

- Nada. Este dinheiro, pouco e incerto, tem de ser gasto no essencial. E vamos discutir o que é essencial. É como uma família pobre que discute se vai poupar, gastar na alimentação ou ir para Cancun para a praia. O Governo está exactamente como esta família que escolhe ir para Cancun. É claro que deve ser bom ir para Cancun, não sei bem o que é. Mas deve ser bom. Mas esta gente não faria melhor ir para a Costa da Caparica ou para a Ericeira estimular a economia portuguesa? O Governo é esta família de Cancun."

(...)


1 Comments:

Blogger Agnelo Figueiredo said...

Porra!
E logo para Cancun com aquela gripe suína!

01:39  

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