FALA DO HOMEM NASCIDO
Venho da terra assombrada
do ventre de minha mãe
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci
Trago boca pra comer
e olhos pra desejar
tenho pressa de viver
que a vida é água a correr
Venho do fundo do tempo
não tenho tempo a perder
minha barca aparelhada
solta rumo ao norte
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham
nem forças que me molestem
correntes que me detenham
Quero eu e a natureza
que a natureza sou eu
e as forças da natureza
nunca ninguém as venceu
Com licença com licença
que a barca se fez ao mar
não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar
com licença com licença
com rumo à estrela polar
António Gedeão In Teatro do Mundo, 1958,
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De cadeira de rodas até Bruxelas para protestar contra corte de pensão
Revoltado com o corte de um complemento por dependência de €97, José Lima, um paraplégico de Viana do Castelo, prepara-se agora para ir, em Agosto, de cadeira de rodas até Bruxelas.
Lusa
13:43 Quinta-feira, 14 de Mai de 2009 Última actualização há 44 minutos
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José Lima, um paraplégico de Viana do Castelo, prometeu hoje ir de cadeira de rodas até Bruxelas, numa viagem de cerca de 2.300 quilómetros, para protestar contra a decisão da Segurança Social de lhe retirar o complemento por dependência.
"Vou a Bruxelas de propósito para perguntar ao senhor Durão Barroso [presidente da Comissão Europeia] se acha justo que queiram obrigar um deficiente, com 80% de incapacidade, a sobreviver com €180 por mês", disse o deficiente em declarações à agência Lusa.
Sustentou ainda ser "irónico e revoltante que a Segurança Social diga que lhe vai retirar o complemento por dependência por ter decidido trabalhar, no caso escrever e vender livros".
José Lima, 54 anos, ficou paraplégico em 1997, na sequência de um acidente de trabalho em Angola.
Em 2007, começou a receber uma pensão de €180, que uns meses mais tarde seria acrescida de um complemento por dependência, de €97.
"Como sempre fui uma pessoa activa, e como a miserável pensão não me permite pagar as minhas responsabilidades mensais, em 2006 comecei a escrever e editar os meus próprios livros numa gráfica que eu mesmo criei. Para que o pudesse fazer dentro da lei, inscrevi-me nas Finanças como escritor/editor, para poder passar recibos verdes", revelou.
José Lima sublinhou que "o valor total das vendas anuais dos meus livros é uma cifra irrisória, como se pode constatar pela declaração de IRS de 2008, mas sempre era mais uma ajuda".
"Mas a Segurança Social, mal 'descobriu' que eu estava a trabalhar, tirou-me €97, talvez por achar que eu estou rico", acrescentou.
A 6 de Maio deste ano, através de um ofício a que a Lusa teve acesso, a Segurança Social informou José Lima de que a partir de Junho deixará de receber o complemento por dependência, por este não ser "cumulável" com rendimentos de trabalho.
"Se isto se concretizar, ficarei sem os recursos mínimos para poder continuar a editar os meus livros. Ou seja, vou passar a viver com €180 por mês", referiu.
José Lima garantiu que a viagem de protesto até Bruxelas, em cadeira de rodas, arrancará em meados de Agosto e durará cerca de um mês.
Contactado pela Lusa, o director da Segurança Social de Viana do Castelo, António Correia, disse que o organismo "apenas se limitou a cumprir a lei".
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