quinta-feira, maio 14, 2009

FALA DO HOMEM NASCIDO

Venho da terra assombrada

do ventre de minha mãe

não pretendo roubar nada

nem fazer mal a ninguém

Só quero o que me é devido

por me trazerem aqui

que eu nem sequer fui ouvido

no acto de que nasci

Trago boca pra comer

e olhos pra desejar

tenho pressa de viver

que a vida é água a correr

Venho do fundo do tempo

não tenho tempo a perder

minha barca aparelhada

solta rumo ao norte

meu desejo é passaporte

para a fronteira fechada

Não há ventos que não prestem

nem marés que não convenham

nem forças que me molestem

correntes que me detenham

Quero eu e a natureza

que a natureza sou eu

e as forças da natureza

nunca ninguém as venceu

Com licença com licença

que a barca se fez ao mar

não há poder que me vença

mesmo morto hei-de passar

com licença com licença

com rumo à estrela polar

António Gedeão In Teatro do Mundo, 1958,

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

De cadeira de rodas até Bruxelas para protestar contra corte de pensão
Revoltado com o corte de um complemento por dependência de €97, José Lima, um paraplégico de Viana do Castelo, prepara-se agora para ir, em Agosto, de cadeira de rodas até Bruxelas.

Lusa
13:43 Quinta-feira, 14 de Mai de 2009 Última actualização há 44 minutos

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José Lima, um paraplégico de Viana do Castelo, prometeu hoje ir de cadeira de rodas até Bruxelas, numa viagem de cerca de 2.300 quilómetros, para protestar contra a decisão da Segurança Social de lhe retirar o complemento por dependência.

"Vou a Bruxelas de propósito para perguntar ao senhor Durão Barroso [presidente da Comissão Europeia] se acha justo que queiram obrigar um deficiente, com 80% de incapacidade, a sobreviver com €180 por mês", disse o deficiente em declarações à agência Lusa.

Sustentou ainda ser "irónico e revoltante que a Segurança Social diga que lhe vai retirar o complemento por dependência por ter decidido trabalhar, no caso escrever e vender livros".

José Lima, 54 anos, ficou paraplégico em 1997, na sequência de um acidente de trabalho em Angola.

Em 2007, começou a receber uma pensão de €180, que uns meses mais tarde seria acrescida de um complemento por dependência, de €97.

"Como sempre fui uma pessoa activa, e como a miserável pensão não me permite pagar as minhas responsabilidades mensais, em 2006 comecei a escrever e editar os meus próprios livros numa gráfica que eu mesmo criei. Para que o pudesse fazer dentro da lei, inscrevi-me nas Finanças como escritor/editor, para poder passar recibos verdes", revelou.

José Lima sublinhou que "o valor total das vendas anuais dos meus livros é uma cifra irrisória, como se pode constatar pela declaração de IRS de 2008, mas sempre era mais uma ajuda".

"Mas a Segurança Social, mal 'descobriu' que eu estava a trabalhar, tirou-me €97, talvez por achar que eu estou rico", acrescentou.

A 6 de Maio deste ano, através de um ofício a que a Lusa teve acesso, a Segurança Social informou José Lima de que a partir de Junho deixará de receber o complemento por dependência, por este não ser "cumulável" com rendimentos de trabalho.

"Se isto se concretizar, ficarei sem os recursos mínimos para poder continuar a editar os meus livros. Ou seja, vou passar a viver com €180 por mês", referiu.

José Lima garantiu que a viagem de protesto até Bruxelas, em cadeira de rodas, arrancará em meados de Agosto e durará cerca de um mês.

Contactado pela Lusa, o director da Segurança Social de Viana do Castelo, António Correia, disse que o organismo "apenas se limitou a cumprir a lei".

15:17  

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