ESCADAS ABAIXO
Há cerca de 18 anos, entraram duas senhoras no meu Escritório. Queriam um advogado neutro, desconhecido de ambas as partes, para minutar um contrato promessa de compra e venda. O objecto era uma Quinta composta por vários prédios rústicos e um urbano com inquilinos preferentes. Alguns dos rústicos tinham área inferior à unidade de cultura para a zona. Também sujeitos por isso a preferências de confinantes. A matéria era densa. Em especial, na articulação das impossibilidades parciais que se pudessem vir a revelar em função da intervenção de terceiros. Uma semana inteira a fazer o contrato. Só parei para comer e dormir. Trinta e seis cláusulas de brilhante português jurídico. Para garantir a fluidez de um negócio de 150 mil contos. Convoquei as partes e facultei-lhes a minuta para que fosse apresentada aos advogados de cada uma das partes (que cada uma das partes dizia não ter), visando algum aperfeiçoamento que viesse a ser sugerido. Liquidei honorários de 200 contos e toda a gente estava contente com o contrato e de acordo com a razoabilidade dos honorários pedidos.
Passaram as semanas e nunca mais deram notícias. Vim depois a saber que tinham riscado o palavra “minuta” na folha que eu facultara, assinaram o contrato e fizeram o negócio à minha revelia. Vim a saber também através de um Colega que o ouviu da boca do próprio interveniente que, a meu propósito, foi dito: “Não pague nada a esse gajo que deve andar no cambão à porta da Boa-Hora”. Aquele juízo formulado a meu propósito por um Advogado mais velho, conceituado na Praça, que nunca me tinha visto mais magro, ofendeu-me profundamente. O que eu esperava dele é que tivesse aconselhado a Cliente a vir fazer contas comigo, em vez de estar a denegrir, sem razão ou motivo, um jovem colega que ele não conhecia de parte alguma. E que tinha trabalhado honestamente conforme a minuta do contrato na sua mão podia comprovar.
Epílogo
O negócio acabou por ficar encravado, porque um confinante exerceu preferência judicial, já que não fora notificado como eu recomendara, pois os advogados que assumiram o negócio acharam que não valia a pena essa notificação.
Uma das partes morreu num acidente de viação. A outra, a Cliente do Advogado mais velho, acabou por espatifar o resto do património que o Pai, Inglês, lhe deixara, e parece que ainda hoje vê o mundo através do vidro do fundo de uma garrafa.
Eu perdi 200 contos que ninguém me pagou.
Os advogados que assumiram o negócio receberam, cada qual para seu lado, os honorários do seu trabalho montado no meu contrato.
Pós-epílogo
Nada tenho a ver com isso. Mas se alguém o atirar pelas escadas abaixo o mínimo que posso fazer é oferecer-me para defender os criminosos caso eles sejam apanhados.
Nota: isto é uma obra de ficção.
Passaram as semanas e nunca mais deram notícias. Vim depois a saber que tinham riscado o palavra “minuta” na folha que eu facultara, assinaram o contrato e fizeram o negócio à minha revelia. Vim a saber também através de um Colega que o ouviu da boca do próprio interveniente que, a meu propósito, foi dito: “Não pague nada a esse gajo que deve andar no cambão à porta da Boa-Hora”. Aquele juízo formulado a meu propósito por um Advogado mais velho, conceituado na Praça, que nunca me tinha visto mais magro, ofendeu-me profundamente. O que eu esperava dele é que tivesse aconselhado a Cliente a vir fazer contas comigo, em vez de estar a denegrir, sem razão ou motivo, um jovem colega que ele não conhecia de parte alguma. E que tinha trabalhado honestamente conforme a minuta do contrato na sua mão podia comprovar.
Epílogo
O negócio acabou por ficar encravado, porque um confinante exerceu preferência judicial, já que não fora notificado como eu recomendara, pois os advogados que assumiram o negócio acharam que não valia a pena essa notificação.
Uma das partes morreu num acidente de viação. A outra, a Cliente do Advogado mais velho, acabou por espatifar o resto do património que o Pai, Inglês, lhe deixara, e parece que ainda hoje vê o mundo através do vidro do fundo de uma garrafa.
Eu perdi 200 contos que ninguém me pagou.
Os advogados que assumiram o negócio receberam, cada qual para seu lado, os honorários do seu trabalho montado no meu contrato.
Pós-epílogo
Nada tenho a ver com isso. Mas se alguém o atirar pelas escadas abaixo o mínimo que posso fazer é oferecer-me para defender os criminosos caso eles sejam apanhados.
Nota: isto é uma obra de ficção.
1 Comments:
Assunto sério...Ontem foi o dia dos Advogados.Está complicado!
"escada abaixo",se for preciso ajuda,mandamos lá a "matilha".
ups!
ps:um abraço.
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