HISTÓRIAS IV
(Já que o Pulanito e o Ruiruim estão a gostar (benfiquistas desconfiados não contam), aqui se adianta mais um episódio para o fim-de-semana.)
(...continuação)
(...continuação)
"Sábado de manhã decidiu vestir o fato. O Baile da Pinhata era à noite. Não podia adiar mais. Resolveu andar todo o dia com o fato para se habituar. Vestiu uma camisa branca. Ainda tinha a nova para a noite. Por isso, podia sujar aquela. Agora que se via ao espelho, sózinho e sem os tagarelas a martelarem-lhe a vontade, estranhou o azul claro da silhueta. Que raio, na loja do Faustino o fato parecera mais escuro. Devia ser da luz. Recordou que na loja a luz era artificial. E no Baile da Pinhata também. Por isso, tinha que desconsiderar a luz natural.
Buscou uma gravata. Mas, apesar de não ser muito entendido, percebeu que nenhuma das duas que possuía combinava com aquele tom de azul. Resolveu voltar ao Faustino. Ele dominava a matéria, seguramente teria uma gravata que não berrasse muito com o fato. Ainda bem que estava a provar o fato de manhã porque à tarde o Faustino estava fechado - pensou aliviado. E pôs-se a caminho. Saiu colocando as mãos nos bolsos a conferir naturalidade à marcha. Encontrou a vizinha do mini-mercado que de imediato exclamou, estás tão bonito, descansa que vai tudo correr bem. Asdrubal surpreendeu-se com o comentário. Não percebia a que propósito a vizinha se permitia a uma intimidade daquelas. Ainda menos ao que ela se referia com aquele vai tudo correr bem. Logo a seguir, passou pela Praça de Táxis onde o Zeca passava o lustro ao mercedes. É assim mesmo, leão. Ela vai-te cair nos braços. Asdrubal irritou-se. Está a chamar leão a quem ? bem sabe que nada tenho a ver com essa gente. A exaltada profissão de fé benfiquista nem lhe permitiu ouvir a segunda frase. Até à loja percebeu que as pessoas o olhavam com insistência e simpatia. Pensou que seria apenas por não estarem habituados a vê-lo de fato completo. Estava longe de saber que todos o apoiavam incondicionalmente na conquista da professora.
A culpa era da costureira do Faustino. Ouvira as conversas dos rapazes, assistira às diligências do patrão, emendara o fato e divulgara pela terra o segredo. Provavelmente àquela hora até a professora primária sabia que o fato novo lhe era destinado. Só Asdrubal guardava para si o íntimo segredo da sua paixão. Pelo caminho, Asdrubal incomodou-se com o desempenho da vestimenta. Com o andar, as calças metiam-se no rabo obrigando a puxá-las para fora a cada dez passos e o casaco apertava-lhe os ombros não lhe permitindo mexer os braços. E uma semana antes a porcaria do fato até lhe caíra tão bem. Se calhar engordara. Devia tê-lo vestido antes. Agora já não dava para emendar.
O Faustino, uma vez mais competente, escolheu uma gravata azul escura com uma malha fininha no tom aproximado do fato. Não era uma obra-prima, mas desenrascava. Não se conteve e desabafou que era difícil encontrar uma gravata compatível com um fato daqueles. Asdrubal afligiu-se: oh Faustino, mas fica assim tão mal ? O profissional de moda sossegou-o que não se ralasse; Não seria pela gravata que ele poderia ser criticado.
Asdrubal almoçou bem. O nervoso abria-lhe sempre o apetite. Quando se levantou, as calças, puxadas pela leve dilatação ventral, ainda se enfiaram mais no rabo. Raios, não se lembrara disso. Decidiu não jantar para amenizar o incómodo. E, à noite, não despiria o casaco para que não lhe vissem o rabo vincado. O pior seria dançar com os braços quase imobilizados. Só lhe restaria dançar devagar, devagarinho, se calhar a esfregar o toucinho. Corou com a antecipação das sensações. E sentiu as calças ainda mais apertadas.
Reuniram-se no Lila. Para a bica e para fazer horas. O Baile estava marcado para as nove, nunca começava antes das dez e só os casados e as namoradas acompanhadas pelas mães chegavam antes das onze. Os solteiros chegavam só pelas onze horas quando todos lá estavam, mostrando falsos alheamento e desinteresse. Como se estivessem ali por favor, a condescender magnânimos na comparência. Obrigavam as namoradas a esperar, para que elas se angustiassem um pouco, temendo que eles não aparecessem. Era a forma de as por à prova, obrigando-as a declinar os convites para dançar que entretanto surgissem, numa fiel e exclusiva espera pelo sempre incerto e imprevisível namorado. Tinha de ser assim para elas perceberem, desde logo, quem mandava. Rapariga que resolvesse não esperar estava feita. Não reatava o namoro, nem que escrevesse uma carta a suplicar perdão e a prometer lençóis. Os bailes exigiam essas provas públicas de fidelidade e de submissão. Em especial o Baile da Pinhata.
Nos últimos dois meses não se dançara por causa da quaresma. E a Pinhata era o baile mais frequentado de toda a programação anual da colectividade. Mais importante ainda que a passagem de ano que via a clientela dividir-se pelas discotecas, naquela época apelidadas de boites. O Baile da Pinhata era assumido como a abertura da época de bailes, o primeiro de uma longa série de festejos que se sucediam semanalmente até ao final do verão em honra das Nossas Senhoras Padroeiras das freguesias das redondezas. Por isso, fora preparado com minúcia e detalhe desde o último carnaval. O conjunto musical tinha que ser a sério, não servia um qualquer coça-na-barriga. Normalmente contratavam uma pequena orquestra ligeira. Para lá das violas eléctricas, baixo, orgão e bateria, comuns aos outros grupos de baile, a orquestra integrava sempre um naipe de metais, com saxofone, trompete e trombone de varas. Por vezes, até um acordeão electrónico para os solos de piano e fundos de violinos. E sempre um exaltado vocalista com comprovada potência vocal que gritasse a preceito as rimas dos slows, como que a ilustrar as ganas desesperadas do aperto, do roço."
Buscou uma gravata. Mas, apesar de não ser muito entendido, percebeu que nenhuma das duas que possuía combinava com aquele tom de azul. Resolveu voltar ao Faustino. Ele dominava a matéria, seguramente teria uma gravata que não berrasse muito com o fato. Ainda bem que estava a provar o fato de manhã porque à tarde o Faustino estava fechado - pensou aliviado. E pôs-se a caminho. Saiu colocando as mãos nos bolsos a conferir naturalidade à marcha. Encontrou a vizinha do mini-mercado que de imediato exclamou, estás tão bonito, descansa que vai tudo correr bem. Asdrubal surpreendeu-se com o comentário. Não percebia a que propósito a vizinha se permitia a uma intimidade daquelas. Ainda menos ao que ela se referia com aquele vai tudo correr bem. Logo a seguir, passou pela Praça de Táxis onde o Zeca passava o lustro ao mercedes. É assim mesmo, leão. Ela vai-te cair nos braços. Asdrubal irritou-se. Está a chamar leão a quem ? bem sabe que nada tenho a ver com essa gente. A exaltada profissão de fé benfiquista nem lhe permitiu ouvir a segunda frase. Até à loja percebeu que as pessoas o olhavam com insistência e simpatia. Pensou que seria apenas por não estarem habituados a vê-lo de fato completo. Estava longe de saber que todos o apoiavam incondicionalmente na conquista da professora.
A culpa era da costureira do Faustino. Ouvira as conversas dos rapazes, assistira às diligências do patrão, emendara o fato e divulgara pela terra o segredo. Provavelmente àquela hora até a professora primária sabia que o fato novo lhe era destinado. Só Asdrubal guardava para si o íntimo segredo da sua paixão. Pelo caminho, Asdrubal incomodou-se com o desempenho da vestimenta. Com o andar, as calças metiam-se no rabo obrigando a puxá-las para fora a cada dez passos e o casaco apertava-lhe os ombros não lhe permitindo mexer os braços. E uma semana antes a porcaria do fato até lhe caíra tão bem. Se calhar engordara. Devia tê-lo vestido antes. Agora já não dava para emendar.
O Faustino, uma vez mais competente, escolheu uma gravata azul escura com uma malha fininha no tom aproximado do fato. Não era uma obra-prima, mas desenrascava. Não se conteve e desabafou que era difícil encontrar uma gravata compatível com um fato daqueles. Asdrubal afligiu-se: oh Faustino, mas fica assim tão mal ? O profissional de moda sossegou-o que não se ralasse; Não seria pela gravata que ele poderia ser criticado.
Asdrubal almoçou bem. O nervoso abria-lhe sempre o apetite. Quando se levantou, as calças, puxadas pela leve dilatação ventral, ainda se enfiaram mais no rabo. Raios, não se lembrara disso. Decidiu não jantar para amenizar o incómodo. E, à noite, não despiria o casaco para que não lhe vissem o rabo vincado. O pior seria dançar com os braços quase imobilizados. Só lhe restaria dançar devagar, devagarinho, se calhar a esfregar o toucinho. Corou com a antecipação das sensações. E sentiu as calças ainda mais apertadas.
Reuniram-se no Lila. Para a bica e para fazer horas. O Baile estava marcado para as nove, nunca começava antes das dez e só os casados e as namoradas acompanhadas pelas mães chegavam antes das onze. Os solteiros chegavam só pelas onze horas quando todos lá estavam, mostrando falsos alheamento e desinteresse. Como se estivessem ali por favor, a condescender magnânimos na comparência. Obrigavam as namoradas a esperar, para que elas se angustiassem um pouco, temendo que eles não aparecessem. Era a forma de as por à prova, obrigando-as a declinar os convites para dançar que entretanto surgissem, numa fiel e exclusiva espera pelo sempre incerto e imprevisível namorado. Tinha de ser assim para elas perceberem, desde logo, quem mandava. Rapariga que resolvesse não esperar estava feita. Não reatava o namoro, nem que escrevesse uma carta a suplicar perdão e a prometer lençóis. Os bailes exigiam essas provas públicas de fidelidade e de submissão. Em especial o Baile da Pinhata.
Nos últimos dois meses não se dançara por causa da quaresma. E a Pinhata era o baile mais frequentado de toda a programação anual da colectividade. Mais importante ainda que a passagem de ano que via a clientela dividir-se pelas discotecas, naquela época apelidadas de boites. O Baile da Pinhata era assumido como a abertura da época de bailes, o primeiro de uma longa série de festejos que se sucediam semanalmente até ao final do verão em honra das Nossas Senhoras Padroeiras das freguesias das redondezas. Por isso, fora preparado com minúcia e detalhe desde o último carnaval. O conjunto musical tinha que ser a sério, não servia um qualquer coça-na-barriga. Normalmente contratavam uma pequena orquestra ligeira. Para lá das violas eléctricas, baixo, orgão e bateria, comuns aos outros grupos de baile, a orquestra integrava sempre um naipe de metais, com saxofone, trompete e trombone de varas. Por vezes, até um acordeão electrónico para os solos de piano e fundos de violinos. E sempre um exaltado vocalista com comprovada potência vocal que gritasse a preceito as rimas dos slows, como que a ilustrar as ganas desesperadas do aperto, do roço."
2 Comments:
... e ,então, aparace o Piteira todo penteadinho,banhadinho,perfumadinho com colónia "Lavanda" e pergunta ao "Xiclista":isto acaba assim ou vai continuar?
ups!
ps:Piteira "vais levar muitas no toutiço".
tou agarrado!
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