RAMPAS
Este túnel é vítima de todos os automobilistas que ali gostam de apitar. Se calhar porque escondidos nas paredes de pedra perdem por momentos o respeito à Serra e fazem o barulho que não se atrevem quando expostos à intimidante imensidão da paisagem. Para os ciclistas é famoso pela dureza da rampa. E quando se chega ao topo e se contorna a Serra à direita, a inclinação continua lá, a bandida, a fazer desanimar, a levar o esforço até ao rilhar do dente, a não mostrar sinais de alívio.
No primeiro dia que por lá passei, vindo do Vale Glaciar, parei num recorte para estacionamento, para trincar descansado uma barra energética (já não havia mais pastéis de feijoca) que me levasse até ao topo. Mas no dia seguinte, vindo da Covilhã pelas Penhas da Saúde, já fiz esta foto em andamento, com confiança serena, apesar da consciência das dificuldades físicas. Mas repetir um desempenho muito difícil tem essa vantagem psicológica: na segunda vez a serenidade é outra, o esforço está racionado, o sofrimento físico está devidamente previsto. Já se sabe onde vai doer, já se sabe onde vai parecer que não se aguenta mais e já se sabe que, afinal, se acaba por aguentar.
Bem sei que os ciclistas até acham que não é assim tão difícil. Mas eu faço a leitura de quem nunca foi ciclista, de quem se apaixonou pelo pedalar, uma vez que se sentou em cima de uma bicicleta com a intenção de perder peso. Em bom rigor, esta é a leitura que um obeso faz de uma subida à Torre. O que, tudo junto, confere plena razão aos ciclistas que acham que não é assim tão difícil, pois que se até um obeso sobe à Torre...
3 Comments:
"... já fiz esta foto em andamento ..."
Cof, cof, ai, ai, ai...
É pá, deu-me agora um tal ataque de tosse...
E andamento... Chiça!
Um dia destes ainda és contratado para reforço da equipa do Lagos.
Carneiro,
estas descrições realistas,em boa prosa,documentada em fotos faz-me pensar que,mesmo os cotas,também serão capazes de lá chegar:fico com vontade de tentar;primeiro vou ver se na roda do Piteira consigo
treinar nas rampas do Alentejo.
Depois,como alguém costuma dizer com frequência "logo se vê".
Em grupos grandes - e mesmo pequenos - as subidas causam-me muito sofrimento. De uma forma ou de outra acabo por não respeitar os limites do meu ritmo. E sou afectado pelo ritmo dos outros.
sózinho é que subo bem. faço a gestão do esforço, da respiração e do ritmo cardíaco. E chego lá cima com capacidade para fazer mais.
Questão essencial é a dos andamentos. Com 39-23 só grandes atletas conseguem subir certas rampas. Aliás, há profissionais que fazem a Serra com 39-26.
Eu subo com 30-27(25) pois guardo o 30-29 só para os casos de desespero (como a rampa do tunel). E subir, guardando pelo menos mais um andamento mais leve, obriga-nos a ser disciplinados e cuidadosos.
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