JOÃO PINTO
Teve tanto de jogador-prodígio como de batoteiro e mal-criado. Fez uma carreira ao colo de certo jornalismo que idolatrava tudo o que, no Benfica, conseguia ser um pouco acima da média. E ele a jogar futebol era bastante acima da média. Na sua quase-década de Benfica não ganhou quase títulos nenhuns. Teve o estatuto jornalístico de "melhor do mundo", mas o seu brilho nunca ganhou dinheiro a sério fora da 2ª Circular. Era tão bom a driblar adversários como a simular faltas e lesões e a dissimular agressões. Mas como jogava no Benfica, a sua arte no engano, na manha, no embuste e na trapaça era exaltada como "experiência" e "competência". Só quando foi jogar para o Sporting a sua aura jornalística começou a empalidecer e , com surpresa face ao hábito, apareceram vozes nos jornais a criticar a sua batotice sistemática.
Em especial lembro-me de dois episódios que definem um Homem: a agressão a um arbitro, mediante um soco traiçoeiro e cobarde; e o ingresso no Benfica, depois de ter assinado um outro contrato com o Sporting, no qual recebeu 25 mil contos de sinal adiantado por Sousa Sintra - diziam alguns jornais que "para pagar a casa, pois precisava muito desse dinheiro" - e que só devolveu muito mais tarde.
Não tenho dúvidas que devidamente enquadrado em valores de honra e de ética que lhe explicassem a diferença entre o certo e o errado, ele teria sido um dos melhores jogadores e desportistas de todos os tempos em Portugal. Mas nascido no Boavista e criado no Benfica, tolerada, aceite, exaltada e incentivada a sua prática competitiva, não passou de uma fonte constante de problemas e de azedumes dentro do campo. A "reguilice" da adolescência a partir dos 20 anos de idade já não é irreverência. Passa a má-criação. Mas ninguém lhe explicou.
Assim, não posso celebrar como desportista alguém que fez da batota a forma mais fácil de ganhar e que desrespeitava de tal modo os adversários e as regras que chegou ao ponto de agredir um árbitro em pleno Campeonato do Mundo, envergonhando um País inteiro - à excepção daqueles que, antes, já aplaudiam os seus métodos.
Preferiria, de longe, estar aqui a celebrar os golos de cabeça em mergulho - dos quais foi um exímio executante, talvez o melhor do mundo.
Mas cada homem tem que viver com a sua imagem... e com a sua sombra.
2 Comments:
Estamos sérios e duros hoje, hein?
Ah, leste aquele estudo que diz que os deputados "são homens, na casa dos 40 e advogados"? não dizias nada, caladinho...
Nestas alturas a pluma dos escribas inclina-se para o encómio.
Ora bem.
Na hora da despedida o meu amigo nem vem dizer bem nem vai dizer mal.
Diz simplesmente a verdade.
Esse é o seu mérito e por isso está de parabens.
Abraço
Monteperobolso
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