segunda-feira, março 26, 2007

NOUTRO LADO


Este fim-de-semana utilizei a minha pista de 4 Km entre Santa Apolónia e a Matinha. Num vai-vem em ambos os sentidos e vice-versa. Quase 90 Km e um pouco mais de 4500Kcal no sábado e menos de 70 Km e 3500Kcal no Domingo porque a mudança da hora encurtou-me a manhã. Levantei-me com a hora solar mas fui almoçar com a hora oficial.
Durante aquelas horas, com a cabeça noutro lado, com o espírito a saltar por inúmeras situações só para evitar as obsessivas sub-contagens de minutos, pedaladas e batidas cardíacas, passei pelo meu raid do Verão de 2006. Aliás, estou sempre a lembrar essa minha epopeia. E lembrei-me de uma sandes de pão alentejano com duas fatias de paio york que comi sentado na guarda de uma ponte que me suspendia sobre o rio da fotografia. Tinha saído de Mourão antes das sete da manhã, já passara pela Amareleja, Póvoa de São Miguel e estava prestes a iniciar a subida situada a 4 ou 5 Km de Moura, a capital do Azeite. Não me lembro do raio do nome do rio. Estou farto de dar voltas ao miolo, mas nada. Lembro-me, isso sim, do prazer da comida, do conforto do descanso e do fresco da atmosfera. O que permite situar o episódio o mais tardar pelas 9:30 Horas da manhã, pois a partir daí a temperatura ia subindo paulatinamente até aos mais de 40 graus pelas 2 da tarde. O dia iria ser comprido até Mértola, 140 Km depois de Mourão. Como parei 4 horas ao início da tarde para fugir ao calor, estava a cair a noite quando desci os ultimos 3 Km em direcção a Mértola numa vertigem de gozo gritando a plenos pulmões a minha versão da "Samaritana", a qual, como sabemos, antecipa em 50 anos e sob a forma de fado de Coimbra o enredo do Código da Vinci. Mas pela manhã, desde a Amareleja e até à Póvoa de São Miguel já tinha ensaiado em tenor e em baritono a "Au fond du temple saint" dos pescadores de Bizet.
Sabem lá, vocês, pobres mortais (e pacientes amigos que aqui vêm visitar as minhas deambulações), o prazer que dá cantar áreas de ópera aos berros pedalando pelo Alentejo profundo... Se suspeitassem um mínimo que fosse, já tinham comprado uma bicicleta. Definitivamente.

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Carneiro estou "quase" convencido a comprar uma! Mais um, ou dois textos seus, esse convencimento se materializa.

17:28  
Anonymous Anónimo said...

Pois eu, ja uma vez tentei cantar a área da Rainha da Noite, mas sem grandes resultados! eheh
Abraço, Rui Ferreira

20:28  
Anonymous Anónimo said...

Eu conheço essa sensação de prazer e tb no Alentejo. Mas de boguinhas...Ehehehe!
;-)

21:44  
Blogger Agnelo Figueiredo said...

"... gritando a plenos pulmões a minha versão da "Samaritana", a qual, como sabemos, antecipa em 50 anos e sob a forma de fado de Coimbra o enredo do Código da Vinci..."
Tu andaste em Coimbra, Carneiro?
Para saberes tanto do "código"...

02:04  
Blogger Ruvasa said...

Viva, Carneiro!

Sim, no Verão deve ser agradável.

No Inverno, então, nem lhe digo. Cantar a plenos pulmões, com o ventinho geladinho a entrar pelas goelas... será que vou conseguir esperar pelo próximo Inverno, para ir experimentar? ;-)

Atenção: não queira ficar responsável por uma possível faringite do Eduardo, hein? ;-)

Abraço

Ruben

11:37  
Blogger carneiro said...

Rainha da noite só assobiada... e a descer. Que a subir não há quem consiga cantar.

De inverno uso uma protecção em forma de manga na zona da garganta e que faço subir até ao nariz, para que o ar inspirado não seja muito frio.

14:07  
Blogger carneiro said...

Em Coimbra, não. Mas tenho pena.

Eu sou da Católica de Lisboa - 3ª fornada.

Mas cantei no Coro 5 anos. Tenor. O maestro era o Duarte Lima. O que o Domingos sabe de música polifónica...(e outras, obviamente).

O fado de Coimbra era o nosso desenjoo. Em especial para os tenores que bebiam perfeitas, perfeitas, como era o caso deste teu amigo.

15:12  

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