IC-27

Nove de Agosto de 2006. Saíra de Mértola para Sul às 6:50 da manhã. Com neblina fria. A atrasar o aquecimento dos músculos. Começa-se com 3 Km a subir a 6 Km/h. Atinge-se depois um planalto com um incómodo sobe-e-desce com rampas de 200, 300 metros. A seguir surge a vertiginosa descida para a Ribeira do Vascão, afluente do Guadiana, que separa geograficamente o Alentejo do Algarve. Logo após temos mais 3 Km de subida pura e dura e mais um irregular planalto até se atingir e entroncamento para Alcoutim. São cerca de 25 Km que demoraram a mais dolorosa hora e meia dos 900 Km totais. E então surge o IC-27, no seu esplendor de alcatrão liso, brilhante, de bermas largas. Em cerca de 45 Km a estrada estende-se quase a direito em direcção a Castro Marim. Deve ter sido desenhada directamente no mapa, atenta a crueldade com que aborda as colinas de frente e as desce do outro lado sem amenizar vertentes ao mesmo tempo que não esconde a distancia numa curva, numa caridosa curvinha, que permita enganar o espírito, agredido pela distancia sempre visível que ainda falta percorrer. Mais tarde passei por lá de carro e contei 13 topos. Três deles têm mais de 3 Km de dura subida, e nenhum deles se faz a mais de 8 Km/H. A Serra Algarvia é muito difícil. E perigosa. Nas descidas atinge-se com facilidade 70-75 Km/H. Mas com o BoB, o limite dos 50 causava um varejar tão acentuado que os travões tinham que justificar o respectivo custo. Metade do percurso era de sofrimento com o coração nas 160 batidas para aguentar a subida. A outra metade, a descer, acelerava igualmente o coração com a adrenalina da vertigem. Fui almoçar a Manta Rota. Uma caldeirada com bastante raia conforme prefiro. E nesse dia descobri a Sagres Zero. Foi o dia que me causou mais dores musculares nas pernas e espasmos nas mãos por causa das travagens.