segunda-feira, março 09, 2015

O QUE É O QUANTITATIVE EASING ?

O jornal  Económico explica os detalhes do novo programa do Banco Central Europeu.

"O BCE vai comprar 60 mil milhões de euros de dívida pública todos os meses, a partir de hoje e até Setembro de 2016. O BCE não vai comprar títulos cujas ‘yields’ estejam abaixo de -0,2%. Grécia fica de fora do programa de compras do banco central.
Quanto vai o BCE comprar em dívida?O BCE vai comprar 60 mil milhões de euros de dívida pública todos os meses, a partir de hoje e até Setembro de 2016, pelo menos. Ou seja, através do ‘quantitative easing', a autoridade monetária deverá injectar no sistema financeiro da moeda única pouco mais de um bilião de euros.
Quais os limites do programa?As compras vão ter uma proporção semelhante às quotas de cada país no capital da instituição liderada por Mario Draghi - Portugal tem uma quota de 2,48% -, descontando desse valor o montante de dívida de cada país que o BCE já tiver no seu balanço. Além disso, para preservar a formação de preços no mercado, o Eurosistema não poderá comprar mais de 33% dos títulos de dívida de determinado país nem absorver mais de 25% de uma das emissões de dívida. Há ainda um outro limite anunciado por Draghi na semana passada: o BCE não vai comprar títulos cujas ‘yields' estejam abaixo de -0,2%. É esse o actual valor da taxa de depósitos do banco central, pelo que, se as ‘yields' caírem abaixo desse nível, volta a ser mais vantajoso para os bancos depositarem o dinheiro no BCE do que investi-lo em dívida pública.
Quais os títulos elegíveis? O BCE vai comprar obrigações soberanas de 18 Estados-membro da zona euro, só ficando de fora a Grécia, cujo ‘rating' de "lixo" impede a dívida helénica de ser elegível para o programa. Os títulos que a autoridade monetária vai comprar são aqueles com maturidades entre os dois e os trinta anos."

Em termos práticos, em linguagem do Oeste, a "coisa" explica-se assim: 

1. Actualmente a Banca Comercial é a principal credora dos diferentes Países do Euro.
2. Isso significa que, por exemplo, o Banco Bancário tem 500 milhões de dívida do país Patagónia. Este banco tem os seus rácios em dia - percentagem de  activos para os passivos -, mas aqueles 500 milhões que estão no balanço - e que traduzem um importante activo -, em bom rigor, não  correspondem a dinheiro líquido, mas apenas a um título de dívida que o país  Patagónia emitiu.
3. Na prática, o facto de aquele Banco Bancário deter aquele título de 500 milhões não serve de coisa alguma para a economia real e concreta, pois que o Banco não pode dispor daquele dinheiro. Só recebe os juros anuais e receberá  o capital no prazo de respectivo vencimento da dívida, provavelmente daqui a 20 ou 30 anos.
4. Ora bem, o "quantitative easing" vai trocar aquele papel de 500 milhões por dinheiro real, em nota  de euros.  Dentro daquelas regras limitativas que o jornal Económico explica, aquele Banco Bancário vai trocar, por exemplo, 30% dos 500 milhões por notas de euro, ou seja, vai ficar com 150 milhões em notas. Para lá dos 350 milhões em papel de dívida pública para completar os 500 milhões do exemplo.
5. E a vantagem para a economia real europeia, é que este Banco Bancário - e todos os outros - de repente fica com dinheiro líquido disponível para emprestar à economia real, para os investimentos que os privados queiram fazer para produzir riqueza e criar emprego. 
6. E também criar um pouco de inflação, pois que o acréscimo da massa monetária - dinheiro em circulação - provoca a diminuição do valor relativo do dinheiro, faz aumentar os preços e isso chama-se inflação.
7. O único problema deste plano - como certa esquerda tem referido e com razão - é que os Bancos Comerciais, dispondo de recursos abundantes de liquidez, vão começar por emprestar o dinheiro para as operações financeiras especulativas - que sugerem altas taxas de rentabilidade - e só quando o sector especulativo estiver cheio até tocar com o dedo é que a Banca Privada vai emprestar dinheiro para os projectos e investimentos da indústria e comércio, os quais oferecem taxas de rentabilidade muito mais reduzidas.
8.Como diria o cego, a ver vamos como vai correr. O facto do Governador do BCE estabelecer um montante mensal significa que vai manter o dedo no gatilho para reagir no momento em função da evolução.

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