segunda-feira, outubro 28, 2013

A EVIDENCIA EVIDENTE


"Os analistas explicam que esta escassez se deve a muitos factores, a maior parte deles relacionados com a gestão do país. E, em primeiro lugar, põem a política de controlo dos preços por parte do Governo, que desmotivou os produtores e fez baixar os níveis de produção." "Muitas empresas optaram por reduzir substancialmente a quantidade de produtos que saem das suas linhas de fabrico, porque fica mais barato do que produzir com prejuízo. Outras (o Presidente, Nicolás Maduro, diz que são a maioria) produzem para exportar (sobretudo para a Colômbia), através de rotas de mercado negro onde conseguem lucros de 500%."

 No lamentável caso da Venezuela, está exposta na sua total crueza a irracionalidade de qualquer política económica de tabelamento burocrático de preço máximo. Que é, como se sabe, o primeiro recurso da demagogia política. Anuncia-se que com o estebelecimento de um preço máximo se protege os pobres. Mas essa protecção só dura um dia, até se esgotar o produto tabelado, porque por aquele preço mais ninguém vai produzir uma unidade que seja. E os pobres, protegidos hoje, na semana seguinte nem precisam de mais protecção, porque os produtos pura e simplesmente deixaram de existir à venda. Se os produtores de batatas só podem vender as batatas por determinado preço e se esse preço não chega para pagar os  custos de produção e um pequeno lucro que gratifique o trabalho do produtor, obviamente que os agricultores desistem de produzir batatas para vender, pois que não aguentam andar a produzir e a trabalhar com prejuízo. E se do lado de lá da fronteira existe alguém que lhes compre as batatas a um preço 500% superior, obviamente que as batatas que se produzam vão ser todas contrabandeadas.

O problema das ideologias da esquerda é que são tão voluntaristas que acham que certos mecanismos pendulares da vida cósmica e da natureza podem ser objecto de intervenção normativa e/ou ideológica. A lei da oferta e da procura não é de direita. É uma lei absoluta a que todos, os da direita e da esquerda, se têm que sujeitar. Eu próprio não sou capitalista porque goste especialmente do capitalismo, do seu funcionamento ou da sua lógica - que, em última análise, visa a sua paradoxal aniquilação, pela eliminação dos concorrentes que, antes de serem eliminados, assumem a qualidade de combustível concorrêncial
Sou capitalista na justa medida em que tenho que entender os mecanismos básicos do capitalismo para poder sobreviver com o máximo de dignidade e de eficácia para a minha família. Coisa diferente de reclamar infantilmente pela eliminação do capitalismo, seria "vamos lá adequar o capitalismo à nossa sociedade" em concreto. Mas isso será sempre impossível para a nossa esquerda. Porque o dogma os impede. E por isso, em bom rigor, nunca se pode contar com a esquerda para reformar a nossa sociedade. O dogma é sinónimo de estupidez.