MEIOS AÉREOS
Recuperei este vídeo francês que já tinha editado em 2008 a propósito do negócio dos "meios aéreos".
No filme reparem em especial a partir do minuto 4. Há uma sequência de 5 lançamentos de água sobre a cabeça do incêndio. Mas não são feitos à balda. Os dois primeiros são efectuados a baixa altitude para incidirem exactamente na frente do fogo. Os restantes acontecem a média altitude para disseminar a água por maior extensão prevenindo os reacendimentos imediatos. Isto tudo acontece coordenado por um helicóptero localizado sobre o incêncio e que orienta os ataques, como um domador de cavalos no centro da pista do circo. Também aparece um Beriev a largar calda retardante, mas confesso não ter conhecimentos para interpretar essa acção.
Por cá, é regra o "meio aéreo" operar em solitário, coordenado por um posto de comando localizado no chão. Cada vez que o Canadair despeja, vai à barragem buscar mais água e, na melhor das hipóteses, demora um quarto de hora, permitindo o reacendimento na zona regada. Ou seja, os Canadairs são como os antibióticos. Não podem ser tomados de forma isolada. Só são eficazes se tomados numa sequência própria e adequada.
A última vez que andei a investigar sobre o negócio dos incêndios apurei que Portugal contrata "meios aéreos" a particulares e a outros países por valores que iam até 7.000 € à hora. Parece, assim, que quantas mais horas o incendio demorar a apagar, mais horas os "meios" cobram. Na altura apurei que Portugal dispunha de 2 canadairs enquanto Espanha e França possuem esquadrilhas à volta de 30 unidades. O que lhes permite combater os próprios incendios com eficácia e alugar os aviões quando inactivos a países, como Portugal, que não investiram naqueles equipamentos e que preferem pagar o equivalente em alugueres.
Recordo aquilo que por aqui venho dizendo há muito tempo: fazia todo o sentido que os pilotos da Academia da Força Aérea fizessem comissões de serviço numa Esquadrilha de combate aéreo a incêndios e que, em vez de caças F-16, se comprassem Canadairs - o que custa sensivelmente o mesmo preço por unidade. Só que os Canadairs têm uma função preciosa, enquanto os F-16 não passam de "brinquedos caros", conforme o Embaixador Americano em Portugal classificou os gostos dos Generais portugueses.
E depois temos os Bombeiros-Homens, que já foram estritamente voluntários, que actualmente misturam essa condição com subsidios vários que estão sempre atrasados, os contratados e os comandantes. E depois há as empresas que ganham dinheiro com o material de incêndios. E depois vimos a saber que essas empresas estão em nome da prima da mulher do comandante. E depois há as empresas dos "meios aéreos" que chegaram a ter pelo menos a fama de largar acendalhas para depois ir apagar o incendio e que, descobrimos, o sócio principal pertence à mesma loja maçónica do Ministro que manda nos Bombeiros. E depois há as populações em pânico a chorar a perda da casa. E aquela tipa manhosa que ardendo o palheiro já está a reclamar uma casa nova ao Presidente da Câmara. E aquela reporter da TV que não consegue descrever os acontecimentos, proferindo banalidades para ocupar tempo de antena. E o pivot do telejornal, meneando a cabeça em sinal de preocupação perante as imagens das chamas cujo calor ele parece sentir apesar da eficácia do ar condicionado do estúdio. E os comandantes da Protecção Civil. Ah, os comandantes da Protecção Civil. De boina basca embarretada nas orelhas, enfiada até ao fundo, como até ao fundo é a competência daquelas sumidades. Ah, os comandantes da Protecção Civil, que nunca foram generais de tropas a sério. Mas que, mesmo assim, fingem e fazem de conta. Ah, os comandantes da Proteccção Civil, especialistas em excesso de água e falta dela, especialistas em gelo e calor, especialistas em verão e inverno. Ah, os comandantes da Protecção Civil, esses temerários e voluntariosos utilizadores dos cartões de crédito da Protecção Civil. Ah, esses.
Mesmo assim, e como repararam, ainda trato os Bombeiros-Homens com H maiúsculo.
Sou um romântico.
3 Comments:
Você nao destingue um Beriev de um avião da TAP ...
Passei pela direcção de uma corporação de bombeiros voluntários de há 12 anos para trás. Já nessa altura o negócio tinha muito que se lhe dissesse e não por bons motivos...Não sei em pormenor como as coisas estão hoje, embora não julgue que estejam melhores, bem pelo contrário. Mas sei que o seu post acerta na mouche em muitíssimas coisas...
E já agora, quando aceitei ser secretário dessa corporação tinha a maior admiração por aquela gente que deixava o seu descanço para ir socorrer, de borla e a seco, fora as agruras, quem precisava de auxílio fosse a que horas fosse. Quando de lá saí, essa visão romântica, essa minha admiração tinha caído drasticamente. Resumia-se aos mais humildes dos bombeiros e nem a todos...O espírito "Vida por vida" foi-se deixando corromper por objectivos muito mais prosaicos e rasteiros e então quando toca a hierarquias, nem lhe digo... É uma guerra muito pior e muito mais traiçoeira do que a do fogo...
Olha, um piloto de F-16, especialista em aviões de combate, que nunca pilotou um Canadair ou um Beriev. Só os da TAP.
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