sábado, julho 14, 2012

GOSTAVA DE TER ESCRITO ISTO

Um texto de 6 de Abril de 2008 da autoria de RSC nos Alcómicos Anónimos.



"Em 1939, nasce em Leiria uma das maiores figuras da história do cinema português. Por esta altura, já Manoel de Oliveira tinha trinta anos. Vamos então falar dele. Manoel de Oliveira nasceu no Porto a 12 de Dezembro de 1908. Cinco anos mais tarde, decide fazer o seu primeiro filme, e para tal, pede um subsídio a um tio. O filme, retrata o nascimento de um irmão. 
Desde cedo, o futuro realizador dá mostras daquilo que iria ser o seu trabalho. Neste caso, para azar da sua mãe, que é obrigada a ter um parto de oito horas. O cinema aparece na vida do petiz por influência do pai, que o leva a ver filmes de Charles Chaplin. Infelizmente e como se poderia confirmar em toda a sua obra, esta influência é infrutífera, já que o pequeno Manoel passa todas estas sessões a dormir. Desde pequeno que Manoel se revela uma pessoa parada. Diz a sua primeira palavra aos 6 anos, e a segunda aos 10. Com vinte anos, inscreve-se na Escola de Actores de Cinema, no Porto e tem o record da prova Oral mais longa da história daquela instituição. É nessa altura que Manoel compra os dois objectos mais importantes da sua vida: uma câmara de filmar e um tripé. Filma então a sua primeira película, “Douro, Faina Fluvial” e hoje em dia, muitos são os que lamentam que no decorrer das filmagens, nunca tenha caído ao Rio. Depois de participar no Congresso Internacional da Crítica é aclamado por uns e criticado por outros. Precocemente manifesta-se na sua maneira de filmar a extrema lentidão de todas as cenas. Uns dizem que é o seu olhar clínico a manifestar-se, outros dizem que são sete copos de vinho do Porto. Em 1940 dá-se a passagem dos documentários para as longas-metragens, com o filme “Aniki-Bobó”, num filme que prestava homenagem a um futuro jogador do Boavista. Mais do que a falta de talento para filmar, torna-se clara a falta de jeito para escolher títulos para filmes. Depois de consumar a sua passagem para o cinema internacional, nos anos 60, com prémios e menções honrosas em Itália e França, Manoel de Oliveira tenta ser aceite sem sucesso, no mercado para o qual sempre trabalhou: Estados Unidos. Perdão, Emirados Árabes Unidos... Ao longo dos anos, Manoel bate vários recordes no cinema: filme mais longo; plano fixo mais longo e silêncio mais longo. O Realizador não liga a nenhum destes recordes, desde que o principal continue a ser batido: sequência mais longa de subsídios do ICAM. Não se sabe ao certo quanto dinheiro Manoel de Oliveira já recebeu em subsídios para filmes, apenas se sabe que a ideia de ter um jacto particular numa garagem do anúncio do Euromilhões é inspirada nele. Em 1995 a Sociedade Portuguesa de Autores atribui-lhe o Prémio Carreira. Apesar disso, Manoel de Oliveira não desiste, e continua a filmar. Pouco tempo depois, volta a ser falado por convidar Pedro Abrunhosa para entrar num filme seu. O artista aceita, com a condição de aparecer de óculos escuros. Hoje, sabe-se que Abrunhosa entrou no filme, se foi de óculos escuros ou não, ninguém sabe, porque ninguém viu. Para terminar a história de Manoel de Oliveira resta-nos ver um documentário autobiográfico, intitulado “A Visita - Memórias e confissões”, feito em 1982 mas a ser projectado unicamente após a sua morte, por sua vontade. Até lá, Manoel de Oliveira continuará a realizar, restando-nos apenas uma certeza. Os seus filmes terão sempre a vitalidade e energia dos primeiros: nenhuma."RSC

Agora digo eu:
Aos 103 anos de idade, Manoel de Oliveira foi hospitalizado com prognóstico reservado. É feio desejar a morte de alguém, mas neste caso é a única forma de não termos que continuar a conceder-lhe subsídios milionários para ele fazer filmes que ninguém vê.  Ainda há meses  dizia que ainda tinha uns projectos para desenvolver e uns filmes para fazer.
Se ele se tivesse reformado aos 65 anos, podia viver até aos 300 anos que não me incomodava. Desde que vivesse à custa dele. Agora manter-se no activo tantas décadas, à custa do erário público, fazendo filmes da treta e ocupando o lugar de realizadores mais novos só pode conduzir a um suspiro de alívio quando ele deixar de sacar mais subsídios. Quem não sabe sair a horas, torna-se naturalmente indesejado.