AMBIÇÃO E FALTA DELA
Ronaldo assume-se frustrado por ter perdido. Os outros ficam contentes por terem chegado tão longe. Em especial o Treinador, que tece loas a si próprio com arrogância parola. Estas diferentes atitudes psicológicas ilustram o que aconteceu no Torneio.
Em campo esteve uma equipa que só foi equipa a jogar à defesa, generosa no esforço, mas medrosa, a jogar para não perder. Foi assim, em especial com a Alemanha e com a Espanha. Com a Dinamarca aconteceu a sorte do jogo e a vantagem madrugadora que por pouco se ia desperdiçando por excessos defensivos. Com a Holanda e a Chéquia foi fácil que essas equipas eram muito inferiores.
Só em desvantagem a equipa se atirava para a frente, com destemor e ambição. Puxada por Ronaldo que arrojava, arriscava e transmitia confiança aos colegas. Mas mesmo assim com cada um a puxar para seu lado. O Nani nunca jogou em equipa. Jogou sempre sózinho. A única vez que passou a bola e não fossou até a perder proporcionou o golo mais bonito. O Postiga e o Almeida não estavam em campo para marcar golos. Apenas para pressionar a posse de bola adversária. O Varela teve duas breves oportunidades. Falhou uma com azar e acertou outra com sorte. As jogadas de ataque organizado e programado eram apenas os livres e os cantos. As tais bolas paradas. Não houve em campo uma estrutura colectiva, com funcionamento harmonioso e articulado no momento do ataque. Nessa fase do jogo era cada qual por si. Aconteceu apenas um conjunto de jogadores do meio campo, alguns muito bons, que suscitavam a intervenção dos colegas, apenas porque o bom futebol que jogam só podia suscitar aquele automatismo. Só Ronaldo combinou verdadeiramente com Coentrão. Habituados do Real. A jogar, a vencer e a ambicionar. Ronaldo foi o único que acreditava poder ser campeão europeu. Coentrão talvez. Os outros apenas queriam ir o mais longe possível. Mas o Treinador ganhou a lotaria. Nunca pensou chegar tão longe. E foi tanta a sorte pelo caminho. E, assim, vamos continuar sem equipa organizada no ataque, a depender da inspiração individual dos jogadores e da motivação do único que quer, mesmo, ganhar. A atitude competitiva de Ronaldo é extraordinária. Mas não chega. No ataque Ronaldo é o Plano A, B e C. Não há nada para além dele. À excepção do medo de perder que o Treinador não consegue disfarçar.
3 Comments:
Aquela recepção anteontem no aeroporto só mesmo num país de bacocos onde a mediocridade reinante e a falta de ambição e de sentido crítico permitem ao treinador ser apresentado todos os dias ao país quase como um génio...
No fundo até percebo que o senhor se sinta muito ofendido por haver uns tipos que se atrevem a não lhe reconhecer pretensos méritos na preparação da equipa e criticarem a falta de rigor, a ostentação saloia, as charretes, os beija-mão, a falta de audácia no esquema da equipa, a insistência num esquema ofensivo assente em pontas de lança que Portugal não tem com um mínimo de qualidade... Mas se a toda a volta estrelejam foguetes mesmo sem se ganhar nada, se calhar o cavalheiro tem razão em pensar-se acima de qualquer crítica...
Não discordando de tudo, discordo do essencial. A falta de ambição. Não se vislumbra ambição por muitos e pretensos rematadores de última linha. Não exemplifico o oposto pois ontem foi por demais evidente... É demasiado rudimentar falar de atitude... essa notou-se no 'não dar uma segunda bola como perdida'. Discordo, essencialmente, pela crítica fácil e pelo não regozijo com um belo par de exibições como por oposição terá o exemplo do catenaccio mais uma vez dado... Mas esse gostamos porque é cultural... Bahhh!
Gosto muito da saudação aos vencedores - very british - dos cânticos - irish - em plena goleada sofrida. É possível reconhecer valor sem se carregar o caneco. É sim! Não serei (mos) perdedor (es) mas sim entusiasta (s) do futebol e não críticos de palavra fácil. O pensamento tem e deve ser mais rápido que a palavra.
Tiago.
o belo par de exibições foi certamente contra a Holanda e contra a Chéquia. No primeiro caso, bater em ceguinhos. No segundo, a gestão - que ia correndo mal - de um jogo em que a vantagem madrugadora tornou tudo mais fácil. E que só não correu mal devido a um pontapé sortudo de Varela.
Não sei o que é pior. Se a rudimentar crítica fácil, se a pedante depreciação genérica e não concretizada de opinião alheia.
Para não melindrar, um X no totobola, portanto.
Enviar um comentário
<< Home