terça-feira, março 06, 2012

FORÇAS ARMADAS PARA QUÊ ?



Concordo com o General Eanes.



Desde 1974 que a sociedade civil tem andado a sustentar através dos seus impostos uma Classe Militar com vencimentos, privilégios e regalias superiores ao comum dos portugueses e muito acima daquilo que a economia real pode suportar. Na década a seguir a Abril de 1974, a Instituição Militar teve dificuldade em abandonar o Poder Político, não porque quisesse ou soubesse governar, mas porque queria estar perto dos centros de decisão. Pois que tudo se reconduz à gamela e à garantia da mesma. Sem Ultramar para defender, sem a ameaça espanhola, centrou-se no Serviço Militar Obrigatório - aliás, de inigualável utilidade social - o exclusivo dos serviços prestados à Pátria. Extinto aquele, centrou-se nas Forças Especiais e nas Missões Internacionais de Pacificação a justificação da existência da Instituição Militar. Mas para estas funções residuais nunca foi preciso tanta gente. Ou seja, nunca houve a coragem de equacionar as funções da Instituição Militar e durante estes anos todos alguns soldados, muitos sargentos e muitíssimos oficiais foram passando à reserva aos 50 anos de idade, muitos deles sem nunca terem dado um tiro fora da recruta nem justificado a milionésima parte dos dinheiros que a sociedade no seu conjunto gastou com eles. Obviamente que esta generalização é ofensiva para aqueles militares - uma minoria, diga-se - que tiveram efectiva utilidade pública conforme acima identifiquei. Mas muitos desses são os primeiros a pretender a separação das águas, porque deram o litro e são metidos no mesmo saco daqueles que passaram uma carreira inteira a coçar a pele dos sofás nas messes e dos ditos pelas paradas.


No meu tempo quem não tinha capacidade para se arrostar com um curso superior, metia-se a sargento e, agora, aos 50 anos estão reformados com 2000 € por mês. E nesta malta da minha geração por cada dois ou três rapazes competentes que fizeram uma carreira militar digna e útil, houve 20 ou 30 que passaram uma vida de nada fazer. Viveram dentro do Quartel, para o Quartel, a passar formulários em quadriplicado sem qualquer utilidada para a sociedade. Mas agora estão aí a receber a pensão de reforma que eu, da mesma idade, vou continuar a pagar com os meus impostos durante mais 15 anos.


Ora bem, a sociedade civil já não pode sustentar mais uma classe militar sobredimensionada, com 50 Coronés para cada Regimento - para quem não sabe, um coronel, por definição, só deve existir se houver um regimento para ele comandar -, cujas patentes não são obtidas em função das necessidades logísticas, mas apenas como mera progressão automática de carreira semelhante a tudo o que acontecia na Função Pública. E chegámos a um ponto que, proporcionalmente, temos mais Generais e Almirantes do que a Potência Militar Norte-Americana. Numa situação muito parecida com a CP dos comboios onde temos um cargo de chefia por cada 1,5 trabalhadores de base. Ou seja, cada 3 homens têm 2 chefes.


Hoje em dia, perante as novas realidades da Geopolítica, perante os problemas do mar e a extensão da nossa costa, perante a escassez de meios financeiros, impõe-se reformular a Instituição Militar, mantendo o hiper-eficaz Regimento de Comandos-Paraquedistas como força rápida de intervenção e salvamento de cidadãos portugueses em qualquer parte do mundo e de uma Armada copiada da Guarda Costeira americana, com vasos de guerra de média dimensão, patrulheiros, salva-vidas, aviões de busca e helicópteros de salvamento. A Força Aérea, que produz os licenciados mais caros do País - os Pilotos-aviadores - formaria pilotos, não para os F-16 cuja operacionalidade é economicamente insustentável e inútil, não para a TAP e SATA - quem quiser cursos de pilotos que os vá pagar a escolas particulares - , mas para os Canadairs de combate a incêndios. O resto da tropa fandanga ia à sua vidinha. Não fazem falta. E, assim, os Militares, com fundamento na relevância da respectiva função, seriam respeitados. Como as coisas estão, a sociedade civil não consegue esquecer as centenas de milhar de reformados militares aos 50 anos de idade que andam por aí em manifestações corporativas a exigir aquilo que a sociedade já não lhe pode prestar. Ao mesmo tempo que ninguém os leva a sério, nem reconhece, na esmagadora maioria dos casos, qualquer utilidade às funções que prestaram dentro dos muros dos quartéis.

Em especial para salvaguardar a Honra da Instituição Militar que noutros séculos tanto deu à Nação convém rapidamente definir o que o nosso País necessita em termos militares. E na parte que não necessita ter a coragem de acabar com o escandalo de pagar vencimentos a funcionários públicos fardados com nenhuma utilidade para a sociedade.

Por isso, o General Eanes tem plena razão. A sociedade civil tem que definir para que precisa dos militares e, feita essa escolha, deve ser coerente e garantir o sustento das funções militares que escolheu até às últimas consequências.


Os Militares que passam aqui na Baixa de Lisboa em manifestações com ameaças veladas de recurso às armas, deveriam ter um pouquinho de vergonha na cara. Se não, um dia destes, quando ali passaram está lá um cartaz a dizer. "EU TAMBÉM GOSTAVA DE ME REFORMAR AOS 50 ANOS, MAS ESTOU AQUI A TRABALHAR PARA VOS PAGAR AS PENSÕES".


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5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Só hoje li este artigo (uns anitos depois da sua publicação), a falta de comentários é, talvez a melhor resposta que se pode ter perante a falta de respeito pela "vida militar" (todas as profissões são dignas de respeito e não existem por acaso). Ciclista continua a pedalar e a pensar dessa forma, pois com essa visão vais longe, ou talvez, até já lá chegaste (já lá vão uns anitos).

01:44  
Blogger carneiro said...

Não sou eu que vou longe. Ainda vou andar mais 15 anos por cá a pagar impostos para tu receberes a pensãozinha em casa desde os 50 aninhos.

Tu, pelos vistos, para te teres ofendido, é que és um dos tais que foste longe.

O meu texto distingue de forma suficiente os militares que fazem falta ao país da imensa chungaria que há 40 anos anda a coçar o cu nos quarteis. E que não passam de uns chulos. A explorar um povo sem nada terem feito por ele.

E deixa estar que conheço alguns militares que concordam com o meu texto.

19:25  
Blogger carneiro said...


"todas as profissões são dignas de respeito e não existem por acaso"

Eu explico-te: todas as profissões têm que ser dignas e dar-se ao respeito.
E por acaso, a profissão militar precisa de ser reformulada.

Toda a gente já atingiu essa conclusão, sejam as Chefias Militares, sejam os académicos do Centro de Altos Estudos Militares.
Só tu, meu patarata, vens fazer um comentário de onde se depreende que nem percebeste o texto que dizes ter lido.

Admito a crítica e gosto de discutir as questões.Mas tu, meu patarata reformado aos 50 anos de idade, não discutes o assunto nem explicas que serviços prestaste á Patria para eu ser obrigado a pagar mais impostos para te sustentar a pensão de reforma.
Apenas mandas bocas. Se é essa a noção que tens dos militares se darem ao respeito e terem dignidade, estão os militares a sério bem lixados.

22:35  
Anonymous Anónimo said...

Como és a "inteligência em pessoa" e os outros são "patetas e tolos", carneiro que "carrega" armas e capacetes fica lá com os teus ideais de sociedade, que, ao que parece, não podem ser questionados.Continua a pagar impostos que eu também os vou continuar a pagar e trabalhar para o poder fazer, percebeste, TRABALHAR para PAGAR, já que tu só pagas, deves ter profissão de "adivinho de profissões" pelo que não te devo chamar "PATARATA".
PS:os comentários terminam por aqui, e quanto aos impostos, oxalá vão muito acima dos 65, o trabalho, de tu não falas, deve ir pelo menos até aos 65, vamos ver se as regras não mudam.

15:00  
Blogger carneiro said...

se ao menos discutisses o assunto do poste. Que é a reformulação que TODA A GENTE - MENOS TU - acha que as Forças Armadas devem fazer...

Somos o país do mundo com mais generais por soldado, temos 500 vezes mais coroneis do que Regimentos, temos mais almirantes e vice-almirantes do que barcos de guerra incluindo as lanchas da Policia Marítima.

E dizer que isto deve ser reformulado é um atentado à dignidade da profissão.

Gajos, como tu, que andaste prolá sem nada fazer e a ganhar o teu até aos 50 anos, enquanto eu e outros otários como eu andam pro cá a descontar até aos 66 anos, para te pagar a pensão que recebes desde os 50 anos.

Se queres discutir o assunto, discute. Se é só para te dizeres ofendido por eu - e muita mais gente - considerar os militares os maiores chulos que se instalaram a seguir ao 25/4 à conta do Povo, então ofende-te.

Só revelas o poucachinho que és. Vá, vai lá beber mais uma cervejinha na tua reforma que sou eu que pago.
Há reformados que são como os ciganos: são chulos e ainda se ofendem.

. Se soubesses estavas a dar-me razão. Ao contrário, estás desse lado, do lado dos chulos reformados que acham que os outros os devemn sustentar e que nem sequer podem refilar.

Sabes lá o que é trabalhar para pagar impostos sem o ter certinho na conta bancária ao fim de cada mês.

15:22  

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