quarta-feira, fevereiro 08, 2012

OS FUNDOS EUROPEUS




Nos últimos vinte anos, os diferentes Quadros Comunitários de Apoio serviram para fazer Obra Pública. A Europa entrava com uma percentagem - por vezes até aos 75 % do valor da obra - e o Estado Português ou as Autarquias entravam com o restante que iam buscar à Banca a título de empréstimo que seria pago qualquer dia. Foi assim que se acumularam pelo País Auto-estradas, Rotundas e Dívida Pública. A actual crítica de Merkle faz sentido, pois que em muitas situações se abusou do dinheiro fácil para fazer mais uma rotunda que nenhuma falta fazia. Mas há que voltar aos tempos do cavaquismo e das ajudas de Pré-adesão. Na época cheguei a escrever num jornal de Bombarral sobre o assunto, insurgindo-me contra a atitude colonialista da Alemanha em relação aos países ibéricos. Dizia eu que os alemães disponibilizavam verbas tão avultadas de dinheiro para fazer auto-estradas por cá porque estavam a repetir a colonização de Africa 100 anos antes. Para que as fábricas alemãs pudessem vender os seus electrodomésticos, necessitavam de vias de comunicação, pois não era praticável abordar os novos mercados largando os frigoríficos em pára-quedas. Naquela época denunciei esta atitude mercantilista da Alemanha, montada na facilitação da preguiça, ao se desmantelar o sector primário com o abandono de pedreiras, da agricultura e das pescas. Com a inactivação do sector secundário mais relevante, como a construção e reparação naval e siderurgias. Na época mereci alguns comentários azedos quer por parte dos cavaquistas que estavam no poder em todo o seu esplendor, quer por parte da esquerda do PS que entendia a Europa como um património de Soares e, por isso, um desígnio nacional, onde nos deveríamos atirar de cabeça.


De então para cá, assistimos ao progressivo desmantelamento da economia produtiva de bens transaccionáveis, ao mesmo tempo que os passámos a importar, em especial, da Alemanha. Deixámos de produzir secadores de cabelo e passámos a importá-los da Alemanha. Mas como não produzíamos nada que pudesse ser vendido para ficarmos com dinheiro para pagar à Alemanha, tínhamos que ir pedir emprestado ao Banco esse dinheiro. O qual, por sua vez, tinha sido emprestado ao banco português por um banco alemão. Ou seja, os alemães ganham 3 vezes: a primeira porque vendem o secador de cabelo, a segunda porque emprestaram o dinheiro para o pagar e recebem todos os meses juros por isso e em terceiro porque ajudaram a desmantelar as nossas fábricas de secadores de cabelo e que, por isso, seremos sempre clientes deles para secar o cabelo.



A Comunidade Europeia serviu, em especial, para acabar com a nossa industria e agricultura. E chegámos à altura em que não há dinheiro para pagar aos alemães os empréstimos que contraímos para lhes comprar secadores de cabelo, automóveis e submarinos. E só agora os alemães reclamam que os Fundos Comunitários afinal foram mal aplicados. Tarde demais. A ganância alemã foi tanta que não souberam fechar a torneira mais cedo. Aprovavam de cruz todos os projectos, pois o que vendiam nessas ocasiões era o dinheiro que se pedia emprestado para pagar a parte portuguesa do investimento. E agora, no caso da Grécia, vão-se agarrar ao tota. E no caso Português vão ter que mamar com jeitinho que é para não matar a vaca em que todos nós nos transformámos.



Passados este anos todos, gostaria de recuperar o texto que escrevi no Jornal de Bombarral. Mas perdi-lhe o rasto. Caraças, a razão que eu tinha. Eu e o Manuel Monteiro.



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