domingo, outubro 23, 2011

A BRIGADA DO REUMÁTICO




"Vasco Lourenço deve ter hoje sensivelmente a mesma idade que tinham os generais da “brigada do reumático” que, pouco antes do 25 de Abril, foram genuflexar em frente de Marcelo Caetano. Os de então queriam manter o insustentável: a gerra colonial. Os de hoje, com Vasco Lourenço à frente, querem impedir o inevitável: uma mudança nos nossos modos perdulários de vida. Quero crer que os passadistas de hoje não terão mais êxito do que os passadistas de então." No Blasfémias


Ao longo da III República a Instituição Militar acabou por se transformar num grupo social em grande parte desnecessário, excessivamente caro para os contribuintes e perigoso. Desnecessário porque sobredimensionada para as nossas necessidades, havendo até quem diga que são admitidos activos só para dar substracto a lugares de chefia, esses sim, em demasia. Os USA para um milhão e pouco de efectivos tem 850 generais. Por cá existem 130 generais para 60 mil efectivos. O que significa que temos 3 vezes mais generais do que nos USA. Excessivamente caro, na justa medida em que a Função Pública tem vivido acima das posses da economia. Mas definitivamente caro, devido ao escandalo das reformas militares. Durante anos, pelos 50 anos de idade obtinha-se a reforma por inteiro obrigando a sociedade a sustentar uma classe de reformados novos e ricos. Não são tanto os militares no activo que causam a maior despesa, mas sobretudo os milhares e milhares de reformados militares que mensalmente recebem a respectiva pensão. Qualquer sargento recebe mais de 2 mil euros, qualquer coronel recebe mais de 4 mil euros mensais. E depois o escandalo das casas dos Serviços Sociais de que ninguém fala. Herança dos tempos em que não havia estradas ou transportes, a "casa de função" atribuída a alguns funcionários públicos - Juízes, Chefes Repartição de Finanças, Comandantes de Posto da GNR, Comandantes de Destacamento Militar, etc. -transformou-se no caso dos militares numa indústria especial. São muitos milhares de habitações arrendadas a militares por rendas simbolicas, cuja construção e manutenção é suportada pelos impostos. Ainda por cima, bem à portuguesa, o critério de atribuição é a cunha, pelo que a maioria dos melhores prédios está ocupada com reformados ou familiares com patente acima de major, não porque necessitem de habitação, mas porque é tão barata que pode ser facilmente acumulada com a habitação principal que, por herança ou compra, dispõem noutro local. Estas mordomias, sustentadas por todos nós, é que tornam a Classe Militar excessivamente cara para a sociedade. E, finalmente, perigosa porque um qualquer quarteleiro como Vasco Lourenço pode fazer apelos na TV à violência sem que nada lhe aconteça.


Os militares devem ter presente a pobreza do país que juraram servir, devem ter presente a despesa monstruosa que causam à sociedade, devem ter presente o pouco retorno que trazem à vida do cidadão e sobretudo devem perceber que isto não é o farwest, houve eleições, há um governo legítimo - concorde-se ou não com ele - e esse governo está a tentar pagar as dívidas que os amigos políticos do Senhor Vasco Lourenço contraíram sem patriotismo e sem respeito pelos portugueses ou pelo futuro da Pátria.


Os militares deveriam perceber que estamos no limiar de uma profunda mudança cultural. Muitas das coisas que eram dadas como certas estão a ser postas em causa porque não temos dinheiro para as pagar. A estrutura militar é o exemplo daquilo que pode ser cortado em 75% que nenhum mal acontece à sociedade. Com a algazarra que estão a fazer, os militares estão a obrigar a sociedade, no seu todo, a discutir a necessidade para futuro dos militares. Vasco Lourenço com a arruaça está a fazer a cama aos militares. E com as ameaças de subversão armada está sujeito a que um gajo qualquer lhe faça aquilo que ele está a ameaçar que faz. Vasco Lourenço devia guardar as suas intervenções inflamadas para a Festa do Avante e para as manifestações da CGTP. Ao fazê-lo nas TV's está a faltar ao respeito aos eleitores que, mal ou bem, elegeram o governo actualmente em funções. Ou, então, devia fazer dieta para respeitar a farda na qual já não cabe.

6 Comments:

Blogger Agnelo Figueiredo said...

"... qualquer coronel recebe mais de 4 mil euros mensais"
Porra!

Tens por aí um link para a tabela?

00:26  
Blogger Conan said...

É notável como um tipo que, dias antes, tratou mal um gajo e o apresentou como exemplo de um "POVO ESTÚPIDO E IMORTAL", vem agora justificar os desmandos deste e dos anteriores desgovernos com o voto legítimo do povo. Então quando o assunto são militares este já não é um "POVO ESTÚPIDO E IMORTAL"?
Concordo sem dificuldade que há chefias a mais no exército. E as casas sociais dos militares também são um belo assunto, que merecia ser bem estudado. E, de passada, as benesses concedidas às chefias, como carro e outras sinecuras. Mas podias acrescentar que há chefias a mais em qualquer ramo da função pública, seja ela corpo especial ou não. E cada "chefão" tem carro, telemóvel, gasolina à discrição. E há locais onde os chefes são mais que os subordinados. Mas significa isso que a instituição militar não é necessária? Então se um hospital tiver mais chefes que enfermeiros esse hospital é inútil? Pergunta às centenas de pessoas que todos os anos são salvas pelos militares, em especial aquelas que são resgatadas em alto-mar, se estes são inúteis. E pergunta, antes de mais, porque motivo os militares não são mais úteis, segundo o ponto de vista que apresentas. Por exemplo, os aviões e os helicópteros podiam ser utilizados para apagar fogos por muitísssimo menos dinheiro, como de resto o provaram nos dois anos em que foram requisitados para executar esse serviço. Mas isso era mau para a pandilha que cobra esses serviços ao Estado, certo? E adivinha qual era a função de muitos dessa pandilha no tempo em que decidiram que os militares não tinham condições para apagar fogos?
A tua ignorância sobre os militares é que justifica que afirmes que os militares causem uma despesa monstruosa ao País. Quero que me expliques que outro grupo profissional jura defender a nossa Pátria com risco da própria vida, tendo como vencimento sempre o mesmo valor, independentemente das horas de trabalho. Vai lá dizer a um militar que tem de trabalhar mais meia hora por dia. Vinte e quatro horas e meia por dia? A tua ignorância sobre a maneira ignóbil e torpe como trataram os militares no chamado tempo das "vacas gordas" é que justifica que trates agora assim os militares. Ao manifestares a tua revolta (e inveja?) pelo facto de os militares se reformarem aos 50 anos (alguns bem mais cedo, fica sabendo), esqueces as circunstâncias em que essas reformas se deram. Ao tratares os militares como se fossem os responsáveis pelo estado a que isto chegou, demonstras não ter vergonha na cara, pois escreves aqui, com fartura, bastas histórias sobre os verdadeiros responsáveis pelo estado a que a nossa Pátria chegou.
Claro que és livre para emitires a tua opinião e afirmares que os militares são inúteis. Mas então, se assim é, porque razão os sucessivos governos não propuseram ao povo a extinção da tropa? Façam um referendo, porra! Quem tem medo da opinião do "POVO ESTÚPIDO E IMORTAL"?

01:03  
Blogger Conan said...

Finalmente, peço-te que penses bem no sentido da legitimação do voto. Hitler chegou ao poder legalmente. Há outros "hitleres", legitimamente eleitos, prontos a tomar de assalto a Europa. "Há até quem diga" que a CEE está prestes a desmembrar-se e uma nova guerra desenha-se já no futuro europeu. E então, alegremente devemos seguir em direcção à guerra travada e desejada pelos poderosos, só porque o povo votou?
Já agora, verifica bem de onde vem essa tua "sanha" contra os militares. Também cumpri o SMO, quando o dito era de dois anos, mas pelos vistos fomos para lá com pensamentos diferentes. Continuo a pensar que o SMO devia existir, pois é triste ver que hoje a Pátria só é invocada quando querem roubar as pessoas ou quando joga a selecção sénior masculina de futebol. Na tropa conheci muita gente, gente séria, trabalhadora e honesta, para quem a palavra "Pátria" tinha um significado que ía muito para lá do mero vencimento. Vi muito militar de carreira fazer coisas que só um mercenário bem pago se atreveria a fazer. (Mercenários como os tais elementos da citada selecção, por exemplo.) E a tropa foi uma escola importante para a minha vida. Será que a tropa fez assim tanta mossa na tua vida?

01:06  
Blogger carneiro said...

Agnelo,
http://dre.pt/pdf2sdip/2011/01/005000000/0084800870.pdf, está um coronel com 3.805. Noutras ocasiões cheguei a ver acima dos 4.000.

Conan, está aí uma confusão muito grande. Acho que não apresentaste as vantagens para a sociedade em mantermos tantos efectivos militares. Esse era um dos pontos. Eu nunca disse que não existia por lá gente séria. Existe gente séria a mais de quem o país não necessita naquelas funções. De todo o modo atingiste o outro cerne da questão: os militares reformam-se aos 50. Essa é a razão do escandalo. E Tenentes-coroneis da força aérea que se reformaram aos 46 anos com 2.500 para irem acumular com a Sata. Completamente ao lado, está a questão de eu justificar os desmandos deste ou de outro governo seja de que maneira for. Nem eu o justifico nem aceito a tua mensagem subliminar: o governo em funções não interessa, o que interessa é o "Povo" indignado tomar o poder na rua e o Vasco Lourenço lançar uma insurreição armada. Até se babaram todos a ouvir o Lourenço, não foi ? Porque se fosse um militar de direita a fazer o apelo às armas era o fascismo que vinha a descer as escadas. Percebo muito bem onde queres chegar. Escusavas era de fazer comentários de ordem pessoal. Esse é o limite para qualquer conversa civilizada. Já que me consideras "tão ignorante" escusas de voltar a deixar comentários. isto aqui não é o tempo de antena da associação 25 de abril.

09:36  
Blogger carneiro said...

Já agora, Conan:

1.Concordo contigo sobre a necessidade das operações de salvamento e regate. Mas não são necessários 60 efectivos para isto. Basta uma Força especializada do tipo da Guarda Costeira Americana. E a nossa Armada poderia ficar poe aí que já fazia muito.

2. Concordo contigo na questão do SMO. Era na tropa que o comum dos jovens aprendia boas maneiras, a acatar uma ordem, hábitos de trabalho, hábitos de higiene, etc. A extinção do Serviço Militar Obrigatório está na causa de comportamentos incívicos da última geração de jovens. Mas então, reponham o SMO. Extinto como está, não se justificam 60 mil efectivos. Ou o SMO, ou a redução de activos. Como está é ue não serve para nada.

3. Concordo contigo com a Força aéra a combater incendios. Mas onde é que isso está? Nós temos é os pilotos cuja formação custou uma fortuna à Nação a aproveitarem-se de reformas por invalidez, por desempenho de funções políticas, etc., a sair da Força Aérea para irem trabalhar na Tap e na Sata. Em vez dos F-15 que não voam, podiam ter comprado um Canadair - preço igual 30 milhões cada. Mas isso existe ? Não existe. Por isso estás a falar de quê ? De boas intenções que só tu e eu temos ?

4. Eu defendi a redução de efectivos, logicamente potenciando as valências militares que mais falta fazem, como por exemplo os Paraquedista/Comando para acções de resgate de civis, Armada e Força Aérea nos termos supra vistos. O exército, fora a area da engenharia, não faz falta alguma ao país. Por isso, 25 % dos actuais efectivos chegam e sobejam. E se não forem 25% serão 30 % ou 20 %. O que interessa é acabar com regimentos de tropa fandanga que nada fazem de útil.

5. Eu não desprezo nenhum militar. Só não respeito aqueles que durante 30 anos apenas fizeram paradas, mas que são os primeiros a chiar com o corte dos subsídios como se os civis não andassem a ser explorados há decadas para sustentar os vencimentos e as reformas destes e de outros funcionarios publicos.

6. E se és militar como dá para perceber que és, sabes perfeitamente a quantidade de gajos que passaram pelas Forças armadas nos últimos 30 anos e que nada de jeito fizeram para além de cumprir o horário á porta de armas.

7. Reduzir os efectivos e fortalecer as funções específicas de cada contingente especializado, não é faltar ao respeito aos militares. è apenas exigir que cada militar tenha uma função na sociedade que justifique o estatuto especial que reclamas e a despesa que a sociedade tem com esse militar.

8. Os efectivos de 60 mil só existem para preencher as necessidades de pessoal que as chefias em excesso pressupõem.

9. Finalmente, mas não menos importante, os militares não têm nem o exclusivo do amor à Pátria, nem o exclusivo do patriotismo. Até porque, sentimentos e emoções à parte, estranho seria que os militares que são pagos para isso não tivessem amor à patria. O estranho é eu, que pago que me farto para os outros receberem e que vejo a vida dos meus filhos comprometida por causa da despesa (também) dos militares, ainda ter algum amor a esta Pátria.

13:15  
Blogger carneiro said...

ainda mais umas coisinhas, Conan:

1. Nunca falei em acabar com os militares. A minha opinião foi sempre no sentido de considerar a classe sobredimensionada e sustentar a redução de efectivos.Lê o que eu escrevi. Reagiste, nesta parte, de forma excessiva.

2. A questão do "Povo Estúpido e Imortal" não foi colocada conformne tu a citas. Está lá muito mais que, pelos vistos, não quiseste considerar. Ou leste mal, ou nem leste até ao fim. Ficaste escandalizado por o tipo ter sido tratado como a cavalgadura que é. Nesta parte só reagiste por o gajo ser do Benfica. Mas não te ofendas que eu esclareci que a cavalgadura poderia ser de qualquer outro clube. Aquilo era apenas uma cavalgadura daquelas que na recruta não distinguem a mão direita. Viste muito daquilo na tropa, por isso só percebo a reacção por o gajo ser benfiquista. Mas isso,repito, não era o ponto.

3. E onde andavas tu e os outros militares quando Socrates andou a deitar dinheiro á rua a a foder este país ? na altura comias no teu cantinho e não te estavas para incomodar, não era ? Agora que te foram à malga é que chias... Mas a minha malga há 12 ou 15 anos que anda a chiar e os Funcionários Públicos que recebiam o "seu" certinho nunca se incomodaram com a minha malga, percebes ?...

4. è que a solidariedade e a coesão sociais só funcionam quando existe justiça e equilíbrio nos sacrifícios. è por isso que os Funcionários Públicos em geral se sentem agora agredidos por o comum dos concidadãos não compreenderem o problema deles. Pois se durante anos os Funcionários Públicos se estiveram a cagar para quem pagava os impostos que lhes sustentavam os vencimentos insustentáveis...E não venham com a treta de que os Funcionários públicos pagam IRS. O que descontam, foi aquilo que receberam a mais quando foram aumentados de propósito para ficarem "sujeitos" ao IRS. O líquido ficou igual. A coisa funciona assim: a economia privada produz riqueza, paga impostos e esses impostos pagam os Funcionários Públicos. O resto é conversa.

5. è por isso que estas medidas tão lesivas das pessoas acabam por ter tantos defensores: é que há uma franja da sociedade que, sem nunca ter tido subsídios de férias ou de natal, emprego garantido e outras regalias, anda a sustentar esta merda há décadas. Chegou a vez a todos. Eu e outros como eu já não podemos ficar pior. Há muito que batemos no fundo. Tu Conan, vais ficar sem o subsídio de férias e de natal. Eu nunca os recebi. Percebes porque o teu problema não me incomoda nada ? E porque as manifestações dos militares valem zero ? è que há muita gente que se fartou de trabalhar e de pagar impostos e que nunca recebeu aqueles subsídios.

13:52  

Enviar um comentário

<< Home