UMA VIDA

Eram quatro da manhã e ainda não conciliara o sono. O espírito vagueava pelos principais problemas que afectam a minha vida pessoal em especial o futuro dos meus filhos. Por coincidência pensei no terrorismo e em Bin Laden. Ocorreu-me que os americanos quando o capturassem - era uma questão de tempo - o mantivessem vivo mesmo depois do inevitável julgamento pelas 3.000 vitimas das Torres Gémeas. Marcar-se-ia a superioridade moral da civilização ocidental e, a termo, até se poderia aspirar a uma reconversão aos meios pacíficos que servisse de exemplo ao Islão mais radical. Estava longe de saber que pelas 8:00 Horas conheceria a notícia da sua morte às mãos de militares americanos. Apesar de tanta manifestação de júbilo, não me sinto entusiasmado. Qualquer Vida Humana é preciosa e Bin Laden seria mais útil à Paz vivo do que morto.

Atocha foi mesmo ali ao lado. Nesse dia chorei com piedade dos irmãos espanhóis que morreram num hediondo atentado a caminho do emprego e da Escola. Como poderia ter acontecido a qualquer um de nós. A morte de Bin Laden pode servir a auto-estima americana e a inevitabilidade do "sentido de estado" que alguns líderes políticos entendem afirmar. Pelo meu lado, penso que aquela morte não era nem imprescindível nem útil. A superioridade dos valores ocidentais só será efectiva quando os outros povos sentirem que esses valores também são os seus. Com Bin Laden morto e exibido como troféu de caça não tenho dúvidas sobre o futuro imediato. Agora só falta saber em que país vão morrer duas centenas de pessoas a caminho do trabalho ou da escola.