MENSAGEM DE NATAL

Sócrates aponta as elevadas taxas de juro nos mercados internacionais como a causa da crise.
O problema é que as elevadas taxas de juro internacionais não são a causa, mas a consequência inevitável da estrutura da economia portuguesa.
Os mercados internacionais reagem naturalmente a realidades como a de termos 316 mil jovens entre os 15 e os 30 anos que não estudam nem trabalham, dependendo em absoluto de subsídios sociais suportados (a crédito) pela parte da população que trabalha e produz.
Os mercados internacionais reagem naturalmente ao facto de a contabilidade nacional revelar que temos de activos sobre o estrangeiro cerca de 350 mil milhões e de passivo cerca de 505 mil milhões. Sendo que alguns dos nossos activos sobre o estrangeiro são empréstimos a Moçambique a Cabo Verde que nunca serão pagos.
Os mercados internacionais reagem naturalmente ao facto de a situação líquida de Portugal traduzir um deficit de cerca de 180 mil milhões - que corresponde aliás ao PIB actual. Ou seja cada empresa, cada família, cada cidadão tem uma dívida correspondente àquilo que ganha num ano inteiro de trabalho. Se todos trabalhassem e produzissem, claro. Cada inactivo obriga a que outro tenha que trabalhar a dobrar, ou que trabalhando o mesmo veja o seu rendimento reduzido a metade, pois a fatia que lhe é tirada serve para sustentar o inactivo.
Os mercados internacionais reagem naturalmente a uma situação em que o principal empregador é o Estado, o qual depende de empréstimos exteriores para pagar os salários, pois que a economia privada já não produz o suficiente em impostos para sustentar o super-patrão.
E, por isso, Portugal ao ter que recorrer sistematicamente ao estrangeiro para obter empréstimos bi-mensais revela que não produz o suficiente para se sustentar, ainda menos para começar a pagar as dívidas.

Por isso, quem empresta dinheiro exije cada vez juros mais altos, pois receia não vir a receber o seu dinheiro.
Foi assim que expliquei a uma criança de 10 anos de idade a falácia de Sócrates.

Só Socrates finge que não percebe. E uns quantos que dependem do actual estado de coisas e que nem se atrevem a reconhecer a nudeza da república.