PRANTOS...EU REVELO

Durante anos, os meus amigos tentaram encaixar-me num partido político. Em vão, porque a independência que sempre assumi no meu pensamento e a clara percepção da diferença entre o Certo e o Errado, confundiam qualquer tentativa de catalogação. Percebiam que eu "era de Direita", embora muitas vezes fosse terrivelmente "esquerdista".

Prantos...como diz o messias encarnado, eis aqui a revelação pública:

"Senhor Presidente da Concelhia,

A atitude politicamente correcta da minha parte seria fingir que não li o convite a subscrever a proposta de candidatura do Senhor Prof. Cavaco Silva.

Mas como serei sempre politicamente incorrecto, informo a minha indisponibilidade para tanto. Nem sequer para o voto nesse candidato.

Acreditei que ter um Presidente da República (não de direita, que ele nunca foi de direita, mas) eleito por uma base eleitoral de direita me garantiria que os socialistas fossem travados no "delirium status socialis tremens" em que temos vivido.

Nos últimos 5 anos ter tido como presidente de republica Cavaco Silva ou Manuel Alegre foi rigorosamente a mesma coisa. O Governo fez o que lhe apeteceu, e os diplomas que põem em causa valores Morais e Éticos essenciais da sociedade foram todos, sem excepção, ratificados pelo Presidente Cavaco. Mais, parte importante da culpa pelo "estado a que isto chegou" é da directa responsabilidade do Prof. Cavaco Silva.

Assim, estou indisponível para (mais) esta opção da Comissão Política do Partido.

Aliás, como preveni em relação à opção do Partido antes das Autárquicas. Na Cidade onde vivem e estudam os meus Filhos, não perdoo que o Partido me tivesse deixado sem voz. A estratégia eleitoral não passou pela afirmação dos nossos Valores, como exercício pleno e até ás últimas consequências da Cidadania dos militantes e dos votantes. Foi apenas a de garantir o preenchimento de alguns cargos na boleia de Santana Lopes.

Acho que estamos a vender a nossa alma só para garantir umas migalhas do bolo que sustentem o Aparelho do Partido, até que surjam dias melhores.
Este militante de base não percebe que influência os Valores que subscreve interferem na vida quotidiana dos seus filhos. Ou seja, o Partido em nada afecta, para o bem ou para o mal, a vida quotidiana dos meus Filhos. Na prática é como se não existisse um Partido que representa cerca de 10% dos Lisboetas.

Fomos os únicos com coragem para votar contra a Constituição Socialista. Não podemos andar agora a ser o antipirético que garanta a sobrevivência ventilada e alimentada naso-gastricamente de um regime a quem os Fundadores apontaram defeitos óbvios de ADN e em relação ao qual anteciparam o actual descalabro.

A prova de que o voto contra a Constituição de 1976 foi uma opção ideológica correcta, está aí. Para toda a gente ver. Infelizmente, os nossos são os primeiros a não dar por isso.

Está na hora de fazermos a diferença. Nós não somos geneticamente deste mundo. Somos um mundo alternativo. Com Valores Perenes e Inabaláveis. Em especial assentes na Democracia Cristã de tipo clássico e no Liberalismo Económico mitigado pela Doutrina Social da Igreja. Curiosamente, só vejo a Doutrina Social da Igreja ser aplicada na Auto-Europa e pela mão inteligente de um Sindicalista do Bloco de Esquerda.

Como o aparelho do Partido não está obviamente interessado em ser alternativa ao regime, e porque estas minhas linhas não representam um mero exercício retórico, mas antes uma profunda preocupação, até desespero, em relação ao futuro dos meus Filhos, solicito encarecidamente que seja dada baixa da minha inscrição como militante do Partido.

Não estou óbvia e manifestamente ao nível de interiorizar e compreender as estratégias do Partido, ainda menos para me assumir como instrumento de tanta subtileza e de tanta alta política. O defeito é meu. Disso não tenho dúvidas. Porque em matéria de Valores só tive apenas e sempre duas cores. Sempre fui muito bronco.

Para que conste nunca recebi qualquer benefício directo ou indirecto enquanto fui militante, conforme toda a gente não sabe - pois que de um facto negativo se trata.

De qualquer modo, felicidades, pois não saio zangado com ninguém. Pese embora não ter feito muitos amigos, devido ao meu terrível defeito de fazer perguntas difíceis e chatas.

Com os melhores cumprimentos

Helder Carneiro

P.S. (salvo seja) Ademais, um dia destes estou metido até ás orelhas num golpe de estado e não quero que ninguém do aparelho do Partido fique contaminado por isso.