A CEPA - TORTA
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Para corresponder às novas exigências da vida actual lançou-se mão a outra forma de interpretar as leis e a vida. Pela Jurisprudência dos Interesses, em vez de se tentar meter à força a nova situação nos limites definidores de um conceito pré-existente que a explique, defina e catalogue, tentava-se obter uma clarificação conceptual das situações de vida, interpretando a nova situação à luz dos objectivos e das finalidades que essa situação visava prosseguir. A situação da vida já não fica circunscrita ao espartilho da sua definição conceptual, mas antes permeável à ponderação de todas as circunstâncias de vida que a contextualizam e explicam. Este caminho é mais arriscado, pois falta a segurança que o outro confere. Mas permite adequar com maior rapidez e flexibilidade as soluções e interpretaçãos legais às exigências actuais da galopante vida moderna. Para um estudante, a contraposição faz-se em termos de que para a primeira corrente tem que se empinar a matéria, enquanto na segunda corrente tem que se ter capacidade de pensar sobre uma base restrita de conceitos para se atingir a solução.
O nosso país sofre em demasia da Jurisprudência dos Conceitos. Literariamente somos muito progressistas, mas estamos sempre agarrados à mesquinhez (cobardia ?) das soluções pré-existentes sem rasgo de alma ou de génio para montar as asas do intelecto criador. Com medo da vida, em suma.
É por isso que o Poder Político acha que é a fazer muitas leis que se resolvem os problemas, é por isso que se julga que a Educação se resolve com grelhas de avaliação de professores, é por isso que se entendia que a saúde se resolvia num esquema centralizado, é por isso que os Juízes acham que é com mais poder próprio que se resolve o problema da Justiça, é por isso que se acha que é com mais auto-estradas, pontes e aeroportos que se resolve o problema da qualidade de vida das famílias. Os exemplos abundam.
O futebol não foge à regra. A nossa Escola-Mãe do Desporto esgota-se a definir os conceitos posicionais dos jogadores. E os nossos treinadores não largam esses esquemas rígidos, com medo. Esquece-se que o futebol é um dos expoentes da vida, da alegria, do improviso, da criatividade, do prazer com que deve ser jogado (vivido). Não se compadece com esquemas duros e castradores da criatividade. A menos que se encontre do lado de lá outra equipa que cumpra os mesmos ditames. E então o jogo fica chato, aborrecido, dormente. À Jesualdo, portanto. Quando do outro lado, os jogadores não estão sujeitos a rígidos e inflexíveis esquemas conceptuais e são deixados ao sabor da criatividade, as diferenças são por demais evidentes. Ou seja, por vezes até nem convém saber muito de tácticas para que os jogadores possam fluir livremente e render. Scolari dependia disso. Preocupava-se apenas com a defesa. No ataque, também porque não sabia mais, deixava os jogadores à solta. E desde que o adversário não fosse muito sofisticado, Scolari triunfava.
Carlos Queiroz é um doutorado em Conceitos. Seguramente que é das pessoas que mais sabe de posições tácticas. Mas o futebol dele é atadinho, castrador da criatividade individual e potenciador de humilhações profundas cada vez que se encontra do lado de lá alguém que jogue o jogo com a liberdade e a criatividade que o prazer sempre potencia.
Carlos Queiroz é apenas o exemplo de mais um Sábio, com as credenciais mais eloquentes que o Sistema pode reconhecer. A par de tantos outros Sábios na Justiça, na Educação, na Economia, na Saúde que temos por aí. Mas, com tantos Sábios, porque é que não saímos da cepa-torta ?
2 Comments:
Coisas que tu sabes e dizes,Mestre!
UPS!
Porque temos poucos sábios.
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