LIVRAMENTO
O convite foi do João Fonseca que ia assegurar a reportagem fotográfica. Saí de Lisboa ainda de noite, obrigando-me ao arraial de luzes que fazem da Kuota uma árvore de Natal ambulante. Na Póvoa de Santo Adrião, pequeno almoço e aprovisionamento de castanhas de ovos para comer em andamento. Antes de Lousa saiu-me ao caminho um rottweiler do tamanho de um bezerro. Soltara-se de uma cerca e vinha com más intenções. Valeu-me uma Peugeot com caçadores que me ultrapassou e se amandou literalmente contra o cão obrigando-o a recuar. Passei pelo outro lado. O bicho até aos carros em andamento de atirava. Fartei-me de agradecer. Em Lousa fui atacado por dois rafeiros. Mas para estes eu já dava. Desmontei e uma pedra certeira resolveu o assunto. A seguir levei com a subida do Arioplano, Freixeira acima. Da Malveira para lá nevoeiro cerrado. Até ao Livramento foi limpar os óculos com o lenço como quem limpa o pára-brisas. Na Concentração, percebi que aquilo não era cicloturismo, era ciclodesporto. As equipas apresentavam-se organizadas e pela atitude e estampa dos atletas, bem como pela qualidade das montadas, percebi que não era daquilo que eu costumo consumir. Mesmo assim, paguei a inscrição com a intenção de os acompanhar enquanto tivesse fôlego. Mas a partida tardava e eu, transpirado de quase duas horas de exercício prévio, estava a arrefecer. E com o nevoeiro comecei a sentir frio. Pus-me ao caminho sózinho, contando que fosse apanhado pelo pelotão mais tarde ao mais cedo. Até Catefica aguentei o nevoeiro e o receio de ser abalroado. Cruzei-me com muitos ciclistas sem luzes e calção-manga curta, como se estivéssemos no pino do Verão. Passei Torres sem parar e na subida do Ameal juntei-me a um grupo do Vilar, curiosamente comandado pelo Paulo que vim a descobrir ser primo do meu amigo Lourenço Torres e, com eles, fiz até ao Bombarral. O meu pelotão que era suposto apanhar-me não deu sinais de vida. O que significa uma partida muito tardia ou que as nossas velocidades relativas não eram muito díspares. Fui visitar a família no Bombarral. Comecei a sentir caimbras pois só bebera meio litro de água em mais de 3 horas. Fora do Verão acontece-me sempre isto: porque a temperatura é mais baixa, não sinto sede e nas primeiras horas não hidrato o suficiente. No regresso meti a pedaleira 40 e vim a bebericar a cada 2 minutos. Foi um período difícil pois coincidiu com a subida dos contrafortes do Montejunto até Vila Verde dos Francos. Mas progressivamente fui melhorando e, ao fim de duas horas, já estava fisicamente recuperado. Em Vila Franca de Xira já vinha na pedaleira 50 e em bom ritmo. Fiz ao todo uma fraca média de 7 horas para os 162 Kapas. Mas fiz uma coisa que nunca tinha antes feito: Bombarral-Lisboa directo sem ter posto um pé no chão.
2 Comments:
Tás mesmo um xiclista.
UPS!
Man, ando eu a ler a Ilíada e tu a viveres Odisseias.
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