DISPONIBILIDADE MENTAL

O essencial é a disponibilidade mental. Podemos estar em razoável forma física, fazer mais de 300 Km em dois dias, acompanharmos com relativa facilidade o pelotão da frente, enxugar 4 cargas de água no corpo, partir pelo meio da geada, partilhar no sono os tapetes de um ginásio com uns porreiros e outros boçais, duplicar na cortisona para debelar a maior crise de asma desde os tempos do tabaco, ver a agulha da balança a cerimoniar. Podemos ter isso tudo. Mas se não estamos com o espírito suficientemente livre da presença dos filhos, dos problemas do escritório, próprios e dos clientes, dos compromissos que adiámos uma semana, a "coisa" não funciona. No segundo dia durante sete horas certas para fazer 164 Km só não pensei no que tinha deixado em Lisboa enquanto estava a levar com a água da chuva na cara. Pois quando a água cai nada mais existe. Assim, não estava a disfrutar. Desisti. Na chegada a Alpiarça. Que era o sítio mais perto de casa.

Saúdo daqui os heróis que continuaram, rendendo-me à qualidade do respectivo esforço atlético e invejando a liberdade de espírito de que usufruem. O ciclismo acaba por ser o espelho da minha vida: nem tudo são vitórias retumbantes. O fracasso também acontece. E a reacção ao fracasso também. No próximo sábado parece que não chove. Será um bom dia para fazer 200 Km.

Ah, já me esquecia: bati o meu record de velocidade este ano: 70,36 Km/h a descer a Serra do Escoural junto a Montemor. Na subida atrasei-me, mas na descida.... iiiiooommmm (efeito doppler). A bicicleta afinada, o jeito do ciclista e o lastro da barriga...

Agradeço aos amigos que me desejaram boa viagem e que esperavam muito mais de mim. Desculpem lá. A façanha ficará para outra oportunidade.